
Clique na chave abaixo para copiar o Pix:
c84c26c4-1c7b-4e7a-8770-0115c316332a
Instruções para leitura e navegação
• Utilize os botões acima para navegar entre diferentes livros e capítulos da Bíblia
• Clique nos números de capítulo para pular diretamente para aquela seção
• Utilize o ícone para copiar o texto do versículo
• Utilize o ícone para abrir o versículo em uma nova aba
• Use o botão "Ver capítulo" para acessar a visualização simplificada de capítulos individuais
• Esta página contém o livro completo e pode ser impressa ou salva para leitura offline
Capítulo 1 Ver capítulo
1 Visto que muitos já empreenderam pôr em ordem a narração das coisas que entre nós se cumpriram,
2 como no-las referiram os que, desde o princípio, as viram, e foram ministros da palavra,
3 pareceu-me bom também a mim, depois de ter investigado diligentemente tudo desde o princípio, escrever-te por ordem a sua narração, excelentíssimo Teófilo,
4 para que conheças a solidez dos ensinamentos que recebeste.
5 Houve no tempo de Herodes, rei da Judeia, um sacerdote chamado Zacarias, da turma de Abias, e sua mulher era da descendência de Arão, e chamava-se Isabel.
6 Ambos eram justos diante de Deus, caminhando irrepreensìvelmente em todos os mandamentos e preceitos do Senhor.
7 Não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e ambos se achavam em idade avançada.
8 Sucedeu que, exercendo Zacarias diante de Deus as funções de sacerdote na ordem da sua turma,
9 segundo o costume do sacerdócio, tocou-lhe por sorte entrar no templo do Senhor a oferecer o incenso.
10 Toda a multidão do povo estava fazendo oração da parte de fora, à hora do incenso.
11 Apareceu-lhe um anjo do Senhor, posto de pé ao lado direito do altar do incenso.
12 Zacarias, ao vê-lo, ficou perturbado, e o temor o assaltou.
13 Mas o anjo disse-lhe: "Não temas, Zacarias, porque foi ouvida a tua oração; tua mulher Isabel te dará um filho, ao qual porás o nome de João.
14 Será para ti motivo de gozo e de alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento;
15 porque ele será grande diante do Senhor; não beberá vinho nem outra bebida inebriante; será cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe;
16 e converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus.
17 Irá adiante de Deus com o espírito e a fortaleza de Elias, a fim de reconduzir os corações dos pais para os filhos (Ml. 4, 5-6), e os rebeldes à prudência dos justos, para preparar ao Senhor um povo bem disposto."
18 Zacarias disse ao anjo: "Como conhecerei isso? Porque eu sou velho, e minha mulher está avançada em anos."
19 O anjo respondeu-lhe: "Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus; fui enviado para te falar e te dar esta boa nova.
20 Eis que ficarás mudo, e não poderás falar até ao dia em que estas coisas sucedam, visto que não acreditaste nas minhas palavras, que se hão-de cumprir a seu tempo."
21 Entretanto o povo estava esperando Zacarias, e admirava-se de ver que ele se demorava tanto tempo no templo.
22 Quando saiu, não lhes podia falar, e compreenderam que tinha tido no templo alguma visão, o que lhes dava a entender por acenos; e ficou mudo.
23 Aconteceu que, depois de terem acabado os dias do seu ministério, retirou-se para sua casa.
24 Alguns dias depois, Isabel, sua mulher, concebeu, e durante cinco meses esteve escondida, dizendo:
25 "Isto é uma graça que me fez o Senhor nos dias em que me olhou para tirar o meu opróbrio de entre os homens."
26 Estando Isabel no sexto mês, foi enviado por Deus o anjo Gabriel a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré,
27 a uma virgem desposada com um varão, chamado José, da casa de David; o nome da virgem era Maria.
28 Entrando o anjo onde ela estava, disse-Ihe: "Deus te salve, cheia de graça; o Senhor é contigo."
29 Ela, ao ouvir estas palavras, perturbou-se, e discorria pensativa que saudação seria esta.
30 O anjo disse-lhe: "Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus;
31 eis que conceberás no teu ventre, e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus.
32 Será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai David; reinará sobre a casa de Jacob eternamente,
33 e o seu reino não terá fim."
34 Maria disse ao anjo: "Como se fará isso, pois eu não conheço varão?"
35 O anjo respondeu-lhe: "O Espírito Santo descerá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso mesmo o Menino que há-de nascer de ti, será santo e será chamado Filho de Deus.
36 Eis que também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice; e este é o sexto mês da que se dizia estéril;
37 porque a Deus nada é impossível."
38 Então Maria disse: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim a tua palavra." E o anjo afastou-se dela.
39 Naqueles dias, levantando-se Maria, foi com pressa às montanhas, a uma cidade de Judá.
40 Entrou em casa de Zacarias, e saudou Isabel.
41 Aconteceu que, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo;
42 e exclamou em alta voz: "Bendita és tu entre todas as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre.
43 Donde a mim esta dita, que a mãe do meu Senhor venha ter comigo?
44 Porque, logo que a voz da tua saudação chegou aos meus ouvidos, o menino saltou de alegria no meu ventre.
45 Bem-aventurada a que acreditou, porque se hão-de cumprir as coisas que da parte do Senhor foram ditas."
46 Então Maria disse : "A minha alma glorifica o Senhor;
47 e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador,
48 porque lançou os olhos para a baixeza da sua serva. Portanto, eis que, de hoje em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada.
49 Porque o Todo-poderoso fez em mim grandes coisas, o seu nome é santo.
50 E a sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem.
51 Manifestou o poder do seu braço, dispersou os homens de coração soberbo.
52 Depôs do trono os poderosos, e elevou os humildes.
53 Encheu de bens os famintos, e despediu vazios os ricos.
54 Tomou cuidado de Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia;
55 Conforme tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua posteridade para sempre."
56 Maria ficou com Isabel cerca de três meses; depois voltou para sua casa.
57 Completou-se para Isabel o tempo de dar à luz, e deu à luz um filho.
58 Os seus vizinhos e parentes ouviram dizer que o Senhor tinha assinalado com ela a sua misericórdia, e congratulavam-se com ela.
59 Aconteceu que, ao oitavo dia, foram circuncidar o menino, e chamavam-lhe Zacarias do nome de seu pai.
60 Porém, interveio sua mãe, e disse: "De nenhuma sorte, mas será chamado João."
61 Disseram-lhe; "Ninguém há na tua parentela que tenha este nome."
62 E perguntavam por acenos ao pai do menino como queria que se chamasse.
63 Ele, pedindo uma tabuinha, escreveu assim: "O seu nome é João." Todos ficaram admirados.
64 E logo se abriu a sua boca, a sua língua se desprendeu, e falava, bendizendo a Deus.
65 O temor se apoderou de todos os seus vizinhos, e divulgaram-se todas estas maravilhas por todas as montanhas da Judeia.
66 Todos os que as ouviram, as ponderavam no seu coração, dizendo: "Quem virá a ser este menino?" Porque a mão do Senhor era com ele.
67 Zacarias, seu pai, foi cheio do Espírito Santo, e profetizou, dizendo:
68 "Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e resgatou o seu povo;
69 e suscitou uma força para nos salvar, na casa de seu servo David,
70 conforme anunciou pela boca dos seus santos, de seus profetas, desde os tempos antigos;
71 que nos livraria de nossos inimigos, e das mãos de todos os que nos odeiam;
72 para exercer a sua misericórdia a favor de nossos pais, e lembrar-se da sua santa aliança,
73 segundo o juramento que fez a nosso pai Abraão, de nos conceder
74 que, livres das mãos dos nossos inimigos, o sirvamos sem temor,
75 (andando) diante dele com santidade e justiça, durante todos os dias da nossa vida.
76 E tu, menino, serás chamado o profeta do Altíssimo, porque irás adiante da face do Senhor, a preparar os seus caminhos;
77 para dar ao seu povo o conhecimento da salvação, pela remissão dos seus pecados,
78 graças à terna misericórdia do nosso Deus, que nos trará do alto a visita do sol nascente,
79 para alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte; para dirigir os nossos pés no caminho da paz."
80 Ora o menino crescia e se fortificava no espírito. E habitou nos desertos até ao dia da sua manifestação a Israel.
Capítulo 2 Ver capítulo
1 Naqueles dias, saiu um édito de César Augusto, prescrevendo o recenseamento de todo o mundo.
2 Este recenseamento foi anterior ao que se realizou quando Quirino era governador da Síria.
3 Iam todos recensear-se, cada um à sua cidade.
4 José foi também da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de David, que se chamava Belém, porque era da casa e família de David,
5 para se recensear juntamente com Maria, sua esposa, que estava grávida.
6 Ora, estando ali, aconteceu completarem-se os dias em que devia dar à luz,
7 e deu à luz o seu filho primogénito, e o enfaixou, e o reclinou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem.
8 Naquela mesma região, havia uns pastores que velavam e faziam de noite a guarda ao seu rebanho.
9 Apareceu-lhes um anjo do Senhor, e a glória do Senhor os envolveu com a sua luz, e tiveram grande temor.
10 Porém o anjo disse-lhes: "Não temais, porque eis que vos anuncio uma boa nova, que será de grande alegria para todo o povo:
11 Nasceu-vos hoje na cidade de David um Salvador, que é o Cristo, o Senhor.
12 Eis o que vos servirá de sinal: Encontrareis um Menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura."
13 E subitamente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celeste, louvando a Deus, e dizendo:
14 "Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens, objecto da boa vontade (de Deus)."
15 Depois que os anjos se retiraram deles para o céu, os pastores diziam entre si: "Vamos até Belém, e vejamos o que é que lá sucedeu, e o que é que o Senhor nos manifestou."
16 Foram a toda a pressa, e encontraram Maria, José, e o Menino deitado na manjedoura.
17 Vendo isto, conheceram o que lhes tinha sido dito acerca deste Menino.
18 E todos os que ouviram, se admiraram das coisas que lhes diziam os pastores.
19 Maria conservava todas estas coisas, meditando-as no seu coração,
20 Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, conforme lhes tinha sido dito.
21 Depois que se completaram os oito dias para ser circuncidado o Menino, foi-lhe posto o nome de Jesus, como lhe tinha chamado o anjo, antes que fosse concebido no ventre materno.
22 Depois que se completaram os dias da purificação de Maria, segundo a lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentar ao Senhor Lv. 12, 6,
23 segundo o que está escrito na lei do Senhor : Todo o varão primogênito será consagrado ao Senhor (Ex. 13, 2 ; Ex. 12, 15),
24 e para oferecerem em sacrifício, conforme o que também está escrito na lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos (Lv. 12, 8 ; Lv. 5, 11).
25 Havia então em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem era justo e piedoso; esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele.
26 Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não veria a morte, sem ver primeiro o Cristo do Senhor.
27 Foi ao templo conduzido pelo Espírito (de Deus). E, levando os pais o Menino Jesus, para cumprirem as prescrições usuais da lei a seu respeito,
28 ele o tomou em seus braços, e louvou a Deus, dizendo:
29 "Agora, Senhor, podes deixar partir o teu servo em paz, segundo a tua palavra;
30 porque os meus olhos viram a tua salvação,
31 a qual preparaste em favor de todos os povos;
32 luz para iluminar as nações, e glória de Israel, teu povo."
33 Seu pai e sua mãe estavam admirados das coisas que dele se diziam.
34 Simeão os abençoou, e disse a Maria, sua mãe : "Eis que este Menino está posto para ruína e ressurgimento de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição.
35 E uma espada trespassará a tua alma! Assim se descobrirão os pensamentos escondidos nos corações de muitos."
36 Havia também uma profetiza, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Estava em idade muito avançada. Tinha vivido sete anos com seu marido, desde a sua virgindade,
37 e tinha permanecido viúva até aos oitenta e quatro anos, e não se afastava do templo, servindo a Deus noite e dia com jejuns e orações.
38 Ela também, sobrevindo nesta mesma ocasião, louvava a Deus, e falava de Jesus a todos os de Jerusalém que esperavam a redenção.
39 Depois que cumpriram tudo, segundo o que mandava a lei do Senhor, voltaram para a Galileia, para a sua cidade de Nazaré.
40 O Menino crescia e se fortificava cheio de sabedoria, e a graça de Deus era com ele.
41 Seus pais iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa.
42 Quando chegou aos doze anos, indo eles a Jerusalém segundo o costume daquela festa,
43 acabados os dias que ela durava, quando voltaram, ficou o Menino Jesus em Jerusalém, sem que seus país o advertissem.
44 Julgando que ele fosse na comitiva, caminharam uma jornada, e depois procuraram-no entre os parentes e conhecidos.
45 Não o encontrando, voltaram a Jerusalém em busca dele.
46 Aconteceu que, três dias depois, o encontraram no templo sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os.
47 E todos os que ouviam, estavam maravilhados da sua sabedoria e das suas respostas.
48 Quando o viram, admiraram-se. E sua mãe disse-lhe: "Filho, porque procedeste assim connosco? Eis que teu pai e eu te procurávamos cheios de aflição."
49 Ele disse-Ihes: "Para que me buscáveis? Não sabíeis que devo ocupar-me nas coisas de meu Pai?"
50 Eles porém não entenderam o que lhes disse.
51 Depois desceu com eles, e foi a Nazaré; e era-lhes submisso, Sua mãe conservava todas estas coisas no seu coração.
52 Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens.
Capítulo 3 Ver capítulo
1 No ano décimo quinto do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judeia, Herodes tetrarca da Galileia, Filipe, seu irmão, tetrarca da Itureia e da província da Traconítida, Lisânias tetrarca da Abilina.
2 sendo pontífices Anás e Caifás, o Senhor falou a João, filho de Zacarias, no deserto.
3 E ele foi por toda a terra do Jordão, pregando o baptismo de penitência para remissão dos pecados,
4 como está escrito no livro das palavras do profeta (Is. 40, 3-5): Voz do que clama no deserto; Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas;
5 toda o vale será terraplanado, todo o monte e colina serão arrasados, os caminhos tortuosos tornar-se-ão direitos, os escabrosos planos;
6 e todo o homem verá a salvação de Deus,
7 Dizia pois (João) às multidões, que vinham para ser por ele baptizadas: "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que vos ameaça?
8 Fazei, portanto, frutos dignos de penitência, e não comeceis a dizer: Temos Abraão por pai. Porque eu vos digo que Deus é poderoso para suscitar destas pedras filhos de Abraão.
9 Porque o machado já está posto à raiz das árvores. Toda a árvore que não dá bom fruto, será cortada e lançada no fogo."
10 As multidões interrogavam-no, dizendo: "Que devemos pois nós fazer?"
11 Respondendo, dizia-lhes: "O que tem duas túnicas, dê uma ao que não tem; e o que tem que comer, faça o mesmo."
12 Foram também publicanos, para serem baptizados, e disseram-lhe: "Mestre, que devemos nós fazer?"
13 Ele respondeu-lhes: "Não exijais nada além do que vos está fixado."
14 Interrogavam-no também os soldados: "E nós que faremos?" Respondeu-lhes: "Não façais violência a ninguém, nem denuncieis falsamente, e contentai-vos com o vosso soldo."
15 Estando o povo na espectativa, e pensando todos nos seus corações que talvez João fosse o Cristo,
16 João respondeu, dizendo a todos; "Eu na verdade baptizo-vos em água, mas virá um mais forte do que eu, a quem não sou digno de desatar a correia dos seus sapatos; ele vos baptizará no Espírito Santo e no fogo;
17 tomará na sua mão a pá, limpará a sua eira, e recolherá o trigo no seu celeiro, mas a palha queimá-la-à num fogo inextinguível."
18 Por muitas outras exortações anunciava ao povo a boa nova.
19 Porém, Herodes tetrarca, sendo repreendido por ele por causa de Herodíades, mulher de seu irmão, e por causa de todos os males que tinha feito,
20 acrescentou a todos os outros crimes também este: Mandar meter João num cárcere.
21 Ora aconteceu que, recebendo o baptismo todo o povo, baptizado também Jesus, e estando em oração, abriu-se o céu,
22 e desceu sobre ele o Espírito Santo em forma corpórea como uma pomba. E ouviu-se do céu esta voz: "Tu és o meu Filho dílecto; em ti pus as minhas complacências."
23 Jesus, quando começou o seu ministério, tinha cerca de trinta anos, filho, como se julgava, de José, filho de Heli, filho de Matat,
24 filho de Levi, filho de Melqui, filho de Jane, filho de José,
25 filho de Matatias, filho de Amós, filho de Naum, filho de Hesli, filho de Nagé,
26 filho de Maat, filho de Matalías, filho de Semei, filho de José, filho de Judá,
27 filho de Joanan, filho de Resa, filho de Zorobabel, filho de Salatiel, filho de Neri,
28 filho de Melqui, filho de Adi, filho de Cosam, filho de Elmadam, filho de Her,
29 filho de Jesus, filho de Eliezer, filho de Jorim, filho de Matat, filho de Levi,
30 filho de Simeão, filho de Judá, filho de José, filho de Joanan, filho de Eliaquim,
31 filho de Meléa, filho de Mena, filho de Matata, filho de Natan, filho de David,
32 filho de Jessé, filho de Obed, filho de Booz, filho de Salmon, filho de Naaason,
33 filho de Aminadab, filho de Arão, filho de Esron, filho de Farés, filho de Judá,
34 filho de Jacob, filho de Isaac, filho de Abraão, filho de Taré, filho de Nacor,
35 filho de Sarag, filho de Ragau, filho de Faleg, filho de Heber, filho de Sale,
36 filho de Cainan, filho de Arfasad, filho de Sem, filho de Noé, filho de Lamech,
37 filho de Matusalem, filho de Heuocb, filho de Jared, filho de Malaleel, filho de Cainan,
38 filho de Henós, filho de Set, filho de Adão, filho de Deus.
Capítulo 4 Ver capítulo
1 Jesus, cheio do Espirito Santo, partiu do Jordão, e foi conduzido pelo Espírito ao deserto,
2 onde esteve quarenta dias, e foi tentado pelo demônio. Não comeu nada nestes dias; passados eles, teve fome.
3 Então o demônio disse-lhe: "Se és filho de Deus, diz a esta pedra que se converta em pão."
4 Jesus respondeu-lhe: "Está escrito: O homem não vive só de pão (Dt. 8, 3)."
5 O demônio conduziu-o então a um alto monte, mostrou-lhe, num momento, todos os reinos da terra,
6 e disse-lhe: "Dar-te-ei o poder de tudo isto, e a glória destes reinos, porque eles foram-me dados, e eu dou-os a quem me parece.
7 Portanto, se tu me adorares, todos eles serão teus."
8 Jesus, respondeu-Ihe: "Está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e a ele só servirás (Dt. 6, 13)."
9 Levou-o também a Jerusalém, pô-lo sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: "Se és filho de Deus, lança-te daqui abaixo;
10 porque está escrito que Deus mandou aos seus anjos que te guardem,
11 e que te sustenham em suas mãos, para não magoares ó teu pé em nenhuma pedra (Ps. 90, 11-12)."
12 Jesus, respondeu-lhe: "Também foi dito: Não tentarás o Senhor teu Deus (Dt. 6, 16)."
13 Terminada toda a tentação, retirou-se dele o demônio até outra ocasião.
14 Jesus voltou sob o impulso do Espírito para a Galileia, e a sua fama divulgou-se por toda a região.
15 Ensinava nas sinagogas, e era aclamado por todos.
16 Foi a Nazaré, onde se tinha criado, entrou na sinagoga, segundo o seu costume, em dia de sábado, e levantou-se para fazer a leitura.
17 Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Quando desenrolou o livro, encontrou o lugar onde estava escrito (Is. 61, 1-2; Is. 58, 6):
18 O Espírito do Senhor repousou sobre mim; pelo que me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres; me enviou a sarar os contritos do coração.
19 a anunciar aos cativos a redenção, e aos cegos a recuperação da vista, a pôr em liberdade os oprimidos, a pregar o ano favorável do Senhor.
20 Tendo enrolado o livro, deu-o ao ministro, e sentou-se. Estavam fixos nele os olhos de todos os que se encontravam na sinagoga.
21 Começou a dizer-lhes: "Hoje cumpriu-se esta escritura que acabais de ouvir."
22 E todos lhe davam testemunho, e admiravam-se das palavras de graça que saiam da sua boca, e diziam: "Não é este o filho de José?"
23 Então disse-lhes: "Sem dúvida que vós me aplicareis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo. Todas aquelas grandes coisas que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum, faze-as também aqui na tua pátria."
24 Depois acrescentou : "Na verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua pátria.
25 Na verdade vos digo que muitas viúvas havia em Israel no tempo de Elias, quando foi fechado o céu durante três anos e seis meses, e houve uma grande fome por toda a terra;
26 e a nenhuma delas foi mandado Elias, senão a uma mulher viúva de Sarepta, do território de Sidónia.
27 Muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu; e nenhum deles foi curado (pelo profeta), senão Naaman Sírio."
28 Todos os que estavam na sinagoga, ouvindo isto, encheram-se de ira.
29 Levantaram-se, lançaram-no fora da cidade, e conduziram-no até ao cume do monte, sobre o qual estava edificada a sua cidade, para o precipitarem.
30 Mas ele, passando pelo meio deles, retirou-se.
31 Foi a Cafarnaum, cidade da Galileia, e ali ensinava aos sábados.
32 Espantavam-se da sua doutrina, porque falava com autoridade.
33 Estava na sinanoga um homem possesso de um demônio imundo, o qual exclamou em alta voz
34 "Deixa-nos! Que tens tu que ver connosco, ó Jesus Nazareno? Vieste para nos perder? Sei quem és: o Santo de Deus.
35 Jesus o repreendeu, dizendo: "Cala-te, e sai desse homem." E o demônio, depois de o ter lançado por terra no meio de todos, saiu dele, sem lhe fazer nenhum mal,
36 Todos se atemorizaram, e falavam uns com os outros, dizendo: "Que é isto, ele manda com autoridade e poder aos espíritos imundos, e estes saem?
37 E a sua fama ia-se espalhando por todos os lugares da região.
38 Saindo Jesus da sinagoga, entrou em casa de Simão. Ora a sogra de Simão estava com febre muito alta. Pediram-lhe por ela.
39 Ele, inclinando-se para ela, ordenou à febre, e a febre deixou-a. Ela, levantando-se logo, servia-os.
40 Quando foi sol-posto, todos os que tinham enfermos de diversas moléstias, traziam-lhos. E ele, impondo as mãos sobre cada um, sarava-os.
41 De muitos saíam os demônios, gritando: "Tu és o Filho de Deus." Mas ele repreendia-os severamente e impunha-lhes silêncio, porque sabiam que ele era o Cristo.
42 Quando se fez dia, tendo saído, foi para um lugar deserto. As multidões puseram-se a procurá-lo, e, tendo-o encontrado, detinham-no, para que se não afastasse deles.
43 Mas ele disse-lhes: "É necessário que eu anuncie também às outras cidades a boa nova do reino de Deus, pois para isso é que fui enviado."
Capítulo 5 Ver capítulo
1 Um dia, comprimindo-se as multidões em volta dele para ouvir a palavra de Deus, Jesus estava junto do lago de Genesaré.
2 Viu duas barcas que estacionavam à borda do lago; os pescadores tinham saído, e lavavam as redes.
3 Entrando numa destas barcas, que era a de Simão, rogou-lhe que se afastasse um pouco da terra. Depois, estando sentado, ensinava o povo da barca.
4 Quando acabou de falar, disse a Simão: "Faz-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar."
5 Respondeu Simão: "Mestre, tendo trabalhado toda a noite, não apanhamos nada; porém, sobre a tua palavra, lançarei a rede."
6 Tendo feito isto, apanharam tão grande quantidade de peixes, que a sua rede rompia-se.
7 Então fizeram sinal aos companheiros, que estavam na outra barca, para que os viessem ajudar. Vieram, e encheram tanto ambas as barcas, que quase se afundavam.
8 Simão Pedro, vendo isto, lançou-se aos pés de Jesus, dizendo: "Retira-te de mim, Senhor, pois eu sou um homem pecador"
9 Porque tanto ele como todos os que se encontravam com ele ficaram possuídos de espanto, por causa da pesca que tinham feito.
10 O mesmo tinha acontecido a Tiago e a João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão. Jesus disse a Simão: "Não tenhas medo; desta hora em diante serás pescador de homens."
11 Trazidas as barcas para terra, deixando tudo, seguiram-no.
12 Sucedeu que, encontrando-se Jesus numa cidade, apareceu um homem cheio de lepra, o qual, vendo Jesus, prostrou-se com o rosto por terra e suplicou-Ihe: "Senhor, se tu queres, podes limpar-me."
13 Ele, estendendo a mão, tocou-o, dizendo: "Quero, sê limpo." Imediatamente desapareceu dele a lepra.
14 Jesus ordenou-lhe que a ninguém o dissesse. Mas vai, disse-lhe, mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua cura o que foi ordenado por Moisés, para lhes servir de testemunho."
15 Entretanto dilatava-se cada vez mais a fama do seu nome; e concorriam muitas multidões para o ouvir e ser curadas das suas doenças.
16 Mas ele retirava-se para lugares desertos, e fazia oração.
17 Um dia, enquanto ensinava, estavam ali sentados fariseus e doutores da lei, vindos de todas as aldeias da Galileia, da Judeia e de Jerusalém; e o poder do Senhor fazia-lhe operar curas.
18 E eis que uns homens, levando sobre um leito um homem que estava paralítico, procuravam introduzi-lo dentro da casa, e pô-lo diante dele.
19 Porém, não encontrando por onde o introduzir por causa da multidão, subiram ao telhado e, levantando as telhas, desceram-no com o seu leito no meio de todos diante de Jesus.
20 Vendo a sua fé, Jesus disse: "Ó homem, são-te perdoados os teus pecados!"
21 Então começaram os escribas e os fariseus a pensar e a dizer: "Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão só Deus?"
22 Jesus, conhecendo os seus pensamentos, respondeu-lhes: "Que estais vós a pensar nos vossos corações?
23 Que coisa é menos difícil dizer: São-te perdoados os pecados, ou dizer: Levanta-te e caminha?
24 Pois, para que saibais que o Filho do homem tem poder sobre a terra de perdoar pecados, eu te ordeno, levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa."
25 Levantando-se logo em presença deles, tomou o leito em que jazia, e foi para sua casa, glorificando a Deus.
26 Ficaram todos estupefactos, e glorificavam a Deus. Possuídos de temor, diziam : "Hoje vimos coisas maravilhosas."
27 Depois disto, Jesus saiu, e viu sentado ao telónio um publicano, chamado Levi, e disse-lhe: "Segue-me."
28 Ele, deixando tudo, levantou-se, e o seguiu.
29 E Levi ofereceu-lhe um grande banquete em sua casa, onde concorreu grande número de publicanos e doutros, que estavam à mesa com eles.
30 Os fariseus e os seus escribas murmuravam, dizendo aos discípulos de Jesus: "Porque comeis e bebeis vós com os publicanos e com os pecadores?
31 Jesus respondeu-lhes: "Os sãos não têm necessidade de médico, mas sim os enfermos.
32 Não vim chamar os justos, mas os pecadores à penitência."
33 Eles disseram-lhe: "Os discípulos de João, e os dos fariseus, jejuam muitas vezes e fazem orações, e os teus comem e bebem..."
34 Jesus respondeu-lhes: "Porventura podeis vós fazer jejuar os amigos do esposo, enquanto o esposo está com eles?
35 Mas virão dias em que lhes será tirado o esposo; então jejuarão nesses dias."
36 Também lhes disse esta comparação: "Ninguém deita um retalho de vestido novo em vestido velho; doutro modo o novo rompe o velho, e o retalho do novo não condiz com o velho.
37 Também ninguém deita vinho novo em odres velhos; doutro modo o vinho novo fará rebentar os odres, e derramar-se-á o vinho, e perder-se-ão os odres.
38 Mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos.
39 Ninguém depois de ter bebido vinho velho, quer do novo, porque diz: O velho é melhor."
Capítulo 6 Ver capítulo
1 Num sábado, passando Jesus pelas searas, os seus discípulos colhiam espigas, e, machucando-as nas mãos, as comiam.
2 Alguns dos fariseus disseram-Ihes: "Porque fazeis o que não é permitido nos sábados?"
3 Jesus respondeu-lhes: "Não leste o que fez David, quando teve fome, ele e os que com ele estavam?"
4 Como entrou na casa de Deus, tomou os pães da proposição, comeu deles, e deu aos seus companheiros, embora não fosse permitido comer deles senão aos sacerdotes?"
5 Depois acrescentou: "O Filho do homem é Senhor também do sábado."
6 Aconteceu que, em outro sábado, entrou Jesus na sinagoga, e ensinava. Estava ali um homem que tinha a mão direita seca.
7 Os escribas e os fariseus o estavam observando para ver se curava ao sábado, a fim de terem de que o acusar.
8 Mas ele conhecia os seus pensamentos, e disse ao homem que tinha a mão seca: "Levanta-te, e põe-te em pé no meio." Ele, levantando-se, pôs-se de pé.
9 Jesus disse-lhe: "Pergunto-vos se é lícito aos sábados fazer bem ou mal, salvar a vida ou tirá-la."
10 Depois, correndo a todos com o olhar, disse ao homem : "Estende a tua mão." Ele estendeu-a, e a sua mão tornou-se sã.
11 Eles encheram-se de furor, e falavam uns com os outros para ver que fariam contra Jesus.
12 Naqueles dias Jesus retirou-se para o monte a orar, e passou toda a noite em oração a Deus.
13 Quando se fez dia, chamou os seus discipulos, e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos:
14 Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro, André, seu irmão, Tiago, João, Filipe, Bartolomeu,
15 Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Simão, chamado o Zelador,
16 Judas, irmão de Tiago, e Judas Escariotes, que foi o traidor.
17 Descendo com eles, parou numa planície. Estava lá um grande número dos seus discipulos, e uma grande multidão de povo de toda a Judeia, de Jerusalém, do litoral de Tiro e de Sidónia,
18 que tinham vindo para o ouvir, e para ser curados das suas doenças. Os que eram vexados pelos espíritos imundos ficavam também sãos.
19 Todo o povo procurava tocá-lo, porque saía dele uma virtude que os curava a todos.
20 Levantando os olhos para os seus discípulos, dizia: "Bem-aventurados vós os pobres, porque vosso é o reino de Deus.
21 Bem-aventurados os que agora tendes fome, porque sereis saciados. Bem-aventurados os que agora chorais, porque rireis.
22 Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, vos repelirem, vos carregarem de injúrias, e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do homem.
23 Alegrai-vos nesse dia, e exultai, porque será grande a vossa recompensa no céu. Era assim que os pais deles tratavam os profetas.
24 Mas, ai de vós, ó ricos! porque tendes a vossa consolação (neste mundo).
25 Ai de vós os que estais saciados! porque vireis a ter fome. Ai de vós os que agora rides! porque gemereis e chorareis.
26 Ai de vós, quando todos os homens vos louvarem! porque assim faziam aos falsos profetas os pais deles.
27 Mas digo-vos a vós, que me ouvis: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam
28 abençoai os que vos amaldiçoam, orai pelos que vos caluniam.
29 A o que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra. Ao que te tirar o manto, não o impeças de levar também a túnica.
30 Dá a todo aquele que te pede: e ao que leva o que é teu, não lho tornes a pedir.
31 O que quereis que vos façam os homens, fazei-o vós também a eles.
32 Se vós amais os que vos amam, que mérito tendes? Porque os pecadores também amam quem os ama.
33 Se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que mérito tendes? Os pecadores também fazem isto.
34 Se emprestardes àqueles de quem esperais receber, que mérito tendes? Os pecadores também emprestam aos pecadores, para que se lhes faça outro tanto.
35 Vós, porém, amai os vossos inimigos; fazei bem e emprestai, sem daí esperardes nada; e será grande a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo, que é bom para os ingratos e para os maus.
36 Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.
37 Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados;
38 dai, e dar-se-vos-à. Um a medida boa, cheia, recalcada e acogulada, vos será lançada nas dobras do vosso vestido. Porque, com a mesma medida com que medirdes para os outros, será medido para vós."
39 Dizia-lhes também esta comparação : "Pode porventura um cego guiar outro cego? Não cairão ambos no barranco?
40 O discípulo não é mais que o mestre; mas todo o discipulo será perfeito, se for como seu mestre.
41 Porque vês tu a aresta no olho do teu irmão, e não notas a trave que tens no teu?
42 Ou como podes tu dizer a teu irmão : Deixa, irmão, que eu tire do teu olho a aresta, não vendo tu mesmo a trave que tens no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e depois verás para tirar a aresta do olho de teu irmão.
43 Porque não é boa árvore a que dá frutos maus, nem má árvore a que dá bom fruto.
44 Porquanto cada árvore se conhece pelo seu fruto; pois nem se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas de um abrolho.
45 O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; o homem mau, do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala da abundância do coração.
46 Porque me chamais vós Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos digo?
47 Todo o que vem a mim, que ouve as minhas palavras, e as põe em prática, vou mostrar-vos a quem ele é semelhante.
48 É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou profundamente, e pôs os alicerces sobre a rocha. Vindo uma inundação, investiu a torrente contra aquela casa, e não pôde movê-la, porque estava bem edificada.
49 Mas o que ouve, e não pratica, é semelhante a um homem, que edificou a sua casa sobre a terra sem fundamentos. Investiu a torrente contra ela, e logo caiu, e foi grande a ruína daquela casa."
Capítulo 7 Ver capítulo
1 Tendo terminado este discurso ao povo, entrou em Cafarnaum.
2 Ora um centurião tinha doente, quase a morrer, um servo que lhe era muito querido.
3 Tendo ouvido falar de Jesus, enviou-lhe alguns anciães dos Judeus a pedir-lhe que viesse curar o seu servo.
4 Eles, tendo ido ter com Jesus, pediam-lhe instantemente, dizendo: "Ele merece que lhe faças esta graça,
5 porque é amigo da nossa nação, e até nos edificou a sinagoga."
6 Jesus foi com eles. Quando estava já perto da casa, o centurião mandou-lhe amigos a dizer: Senhor, não te incomodes, porque eu não sou digno que entres sob o meu tecto.
7 Por essa razão nem eu me achei digno de ir ter contigo; mas diz uma só palavra, e o meu servo será curado.
8 Porque também eu, simples subalterno, tendo soldados às minhas ordens, e digo a um: Vai! e ele vai; e a outro: Vem! e ele vem; e ao meu servo: Faz isto! e ele o faz.
9 Jesus, ao ouvir isto, ficou admirado, e, voltando-se para a multidão que o seguia, disse: ( "Em verdadade) vos digo que não encontrei tanta fé em Israel."
10 Voltando para casa os que tinham sido enviados, encontraram curado o servo.
11 No dia seguinte, foi ele para uma cidade, chamada Naim. Iam com ele os seus discípulos e muito povo.
12 Quando chegou perto da porta da cidade, eis que era levado um defunto a sepultar, filho único de uma viúva; e ia com muita gente da cidade.
13 Tendo-a visto, o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: "Não chores."
14 Aproximou-se, tocou no esquife, e os que o levavam pararam. Então disse: "Jovem, eu te ordeno, levanta-te."
15 E sentou-se o que tinha estado morto, e começou a falar. Depois, Jesus, entregou-o a sua mãe.
16 Todos ficaram possuídos de temor, e glorificavam a Deus, dizendo: "Um grande profeta apareceu entre nós, Deus visitou o seu povo."
17 Esta opinião a respeito dele espalhou-se por toda a Judeia, e por toda a região circunvizinha.
18 Referiram a João os seus discípulos todas estas coisas.
19 João chamou dois dos seus discípulos, enviou-os a Jesus a dizer-lhe: "És tu o que há-de vir ou devemos esperar outro?"
20 Tendo ido ter com ele, disseram-lhe: João Baptista enviou-nos a ti, para te perguntar: "És tu o que há-de vir, ou devemos esperar outro?"
21 Naquela mesma ocasião Jesus curou muitos de enfermidades, de males, de espíritos malignos, e deu vista a muitos cegos.
22 Depois respondeu-lhes: "Ide referir a João o que vistes e ouvistes: Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, aos pobres é anunciado o Evangelho;
23 e bem-aventurado aquele que se não escandalizar a meu respeito."
24 Tendo partido os mensageiros de João, começou Jesus a dizer acerca de João às turbas: "Que fostes vós ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento?
25 Mas que fostes ver? Um homem vestido de roupas delicadas? Mas os que vestem roupas preciosas, e vivem entre delícias, são os que vivem nos palácios dos reis.
26 Que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo eu, e mais ainda que profeta.
27 Este é aquele de quem está escrito: Eis que eu envio o meu mensageiro adiante de ti, o qual preparará o teu caminho diante de ti Ml. 3, 1.
28 Porque eu vos digo: Entre os nascidos das mulheres, não há maior profeta que João Baptista; porém, o que é menor do reino de Deus é maior do que ele."
29 Todo o povo que o ouviu, mesmo os publicanos, deram glória a Deus, recebendo o baptismo de João.
30 Os fariseus, porém, e os doutores da lei frustraram o desígnio de Deus a respeito deles, não se fazendo baptizar por ele.
31 A quem pois compararei os homens desta geração? A quem são semelhantes?
32 São semelhantes aos meninos que estão sentados na praça, e que falam uns para os outros, dizendo; Tocámos flauta, e vós não bailastes; entoámos endeichas, e vós não chorastes.
33 Porque veio João Baptista, que não come pão, nem bebe vinho, e dizeis: Está possesso do demônio.
34 Veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizeis: Eis um glutão e um bebedor de vinho, amigo dos publicanos e dos pecadores.
35 Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos."
36 Um dos fariseus pediu-lhe que fosse comer com ele. Tendo entrado em casa do fariseu, pôs-se à mesa.
37 Uma mulher, que era pecadora na cidade, quando soube que ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro cheio de bálsamo.
38 Colocando-se a seus pés, por detrás dele, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas, e os enxugava com os cabelos da sua cabeça, os beijava, e os ungia com o bálsamo.
39 Vendo isto o fariseu que o tinha convidado, disse consigo: "Se este fosse profeta, com certeza saberia quem e qual é a mulher que o toca: uma pecadora."
40 Então, respondendo Jesus, disse-lhe: "Simão, tenho uma coisa a dizer-te." Ele disse: "Mestre, fala."
41 "Um credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos dinheiros, o outro cinquenta.
42 Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos a dívida. Qual deles, pois, mais o amará?"
43 Simão respondeu: "Creio que aquele a quem perdoou mais." Jesus disse-lhe: "Julgaste bem."
44 Em seguida, voltando-se para a mulher, disse a Simão: "Vês esta mulher? Entrei em tua casa, não me deste água para os pés; ela com as suas lágrimas banhou os meus pés, e enxugou-os com os seus cabelos.
45 Não me deste o ósculo; porém ela, desde que entrou, não cessou de beijar os meus pés.
46 Não ungiste a minha cabeça com bálsamo, porém esta ungiu com bálsamo os meus pés.
47 Pelo que te digo : São-lhe perdoados muitos pecados, porque muito amou. Mas, ao que pouco se perdoa pouco ama."
48 Depois disse à mulher: "São-te perdoados os pecados."
49 Os convidados começaram a dizer entre si: "Quem é este que até perdoa pecados?"
50 Mas Jesus disse à mulher: "A tua fé te salvou; vai em paz."
Capítulo 8 Ver capítulo
1 Em seguida Jesus caminhava pelas cidades e aldeias, pregando e anunciando a boa nova do reino de Deus; andavam com ele os doze
2 e algumas mulheres que tinham sido livradas de espíritos malignos e de enfermidades; Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios,
3 Joana, mulher de Cusa, procurador de Herodes, Susana, e outras muitas, que lhe assistiam de suas posses.
4 Tendo-se juntado uma grande multidão de povo, e, tendo ido ter com ele de diversas cidades, disse Jesus esta parábola:
5 "Saiu o semeador a semear a sua semente; ao semeá-la, uma parte caiu ao longo do caminho; foi calcada, e as aves do céu comeram-na.
6 Outra parte caiu sobre pedregulho; quando nasceu, secou, porque não tinha humidade.
7 A outra parte caiu entre os espinhos; logo os espinhos, que nasceram com ela, a sufocaram.
8 Outra parte caiu em boa terra; depois de nascer, deu fruto, cento por um." Dito isto, exclamou: "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!"
9 Os seus discípulos perguntaram-lhe o que significava esta parábola.
10 Ele respondeu-lhes: "A vós é concedido conhecer o mistério do reino de Deus, mas aos outros ele é anunciado por parábolas; para que vendo não vejam, e ouvindo não entendam (Is. 6, 9-10).
11 Eis o sentido da parábola: A semente é a palavra de Deus.
12 Os que estão ao longo do caminho, são aqueles que a ouvem, mas depois vem o demónio e tira a palavra do seu coração para que não se salvem crendo.
13 Aqueles (em que se semeia) sobre pedregulho, são os que recebem com gosto a palavra, quando a ouvem, mas não têm raízes; até certo ponto crêem, mas, no tempo da tentação, voltam atrás.
14 A que caiu entre espinhos, representa aqueles que ouviram (a palavra), porém, indo por diante, ficam sufocados pelos cuidados, pelas riquezas, e pelos deleites desta vida, e não dão fruto.
15 Enfim, a que caiu em boa terra, representa aqueles que, ouvindo a palavra com coração recto e bom, a retêm e dão fruto por sua perseverança.
16 Ninguém, pois, acendendo uma lucerna, a cobre com um vaso ou a põe debaixo da cama, mas põe-na sobre um candeeiro, para que vejam a luz os que entram.
17 Porque nada há oculto que não acabe por ser manifestado, nem escondido que não deva saber-se e tornar-se público.
18 Vede, pois, como ouvis. Porque àquele que tem, lhe será dado; e ao que não tem, ainda aquilo mesmo que julga ter, lhe será tirado."
19 Foram ter com ele sua mãe e seus irmãos, e não podiam aproximar-se dele por causa da multidão,
20 Foram dizer-lhe: "Tua mãe e teus irmãos estão lá fora, e querem ver-te."
21 Ele, respondeu-lhes: "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus, e a praticam."
22 Um dia, subiu com os seus discípulos para uma barca, e disse-lhes; "Passemos à outra margem do lago." Eles fizeram-se ao mar.
23 Enquanto iam navegando, Jesus adormeceu. Levantou-se uma tempestade de vento sobre o lago, e a barca enchia-se de água, e estavam em perigo.
24 Aproximando-se dele, despertaram-no, dizendo: "Mestre, Mestre! nós perecemos." Ele, levantando-se, increpou o vento e as ondas, que acalmaram, e veio a bonança.
25 Então disse-lhes: "Onde está a vossa fé?" Eles, cheios de temor, admiraram-se, dizendo uns para os outros: "Quem é este que manda aos ventos e ao mar, e eles lhe obedecem?"
26 Arribaram ao país dos Gerasenos, que está fronteiro à Galileia.
27 Logo que saltou em terra, foi ter com ele um homem daquele lugar, possesso de muitos demônios. Não se vestia à muito tempo, nem habitava em casa, mas nos sepulcros.
28 Logo que viu Jesus, prostrou-se diante dele, e começou a vociferar: "Que tens tu comigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Suplico-te que me não atormentes."
29 Porque Jesus mandava ao espírito imundo que saísse daquele homem, pois há muito tempo se tinha apoderado dele; estava preso com cadeias e grilhões, mas ele, quebradas as cadeias, era impelido pelo demônio para os desertos.
30 Jesus interrogou-o: "Que nome é o teu?" Ele respondeu : "Legião"; porque tinham entrado nele muitos demônios.
31 Estes suplicavam-lhe que os não mandasse ir para o abismo.
32 Ora andava por ali pastando no monte uma grande vara de porcos. Os demônios suplicavam-lhe que lhes permitisse entrar neles. Jesus lho permitiu.
33 Saíram, pois, do homem os demônios, entraram nos porcos; e logo a vara se precipitou com ímpeto por um despenhadeiro no lago, e se afogou.
34 Quando os guardas viram isto, fugiram, e foram contá-lo à cidade e pelas aldeias.
35 Saíram a ver o que tinha acontecido, foram ter com Jesus, encontraram sentado a seus pés, vestido e em seu juizo, o homem de quem tinham saído os demónios; e tiveram medo.
36 Os que tinham presenciado contaram-lhes como o possesso tinha sido livrado.
37 E todo o povo do país dos Gerasenos pediu (a Jesus) que se retirasse deles; porque estavam possuídos de grande temor. Ele, subindo para a barca, fez-se de volta.
38 O homem, de quem tinham saído os demônios, pedia-lhe que o deixasse estar com ele. Porém, Jesus o despediu dizendo:
39 "Volta para tua casa, e conta quanto Deus te fez." Ele foi e publicou por toda a cidade quanto Jesus lhe tinha feito.
40 Tendo voltado Jesus, foi recebido pela multidão ; pois todos o estavam esperando,
41 eis que veio um homem, chamado Jairo, que era o chefe da sinagoga; lançou-se aos pés de Jesus, implorando-lhe que fosse a sua casa,
42 porque tinha uma filha única com cerca de doze anos, que estava a morrer. Sucedeu que, enquanto Jesus ia caminhando, era apertado pelo povo,
43 Uma mulher, que padecia fluxo de sangue há doze anos, e tinha despendido com médicos todos os seus bens, sem poder ser curada por nenhum deles,
44 aproximou-se por detrás e tocou a orla do seu vestido; imediatamente, parou o fluxo do seu sangue.
45 Jesus perguntou: "Quem me tocou?" Negando todos, disse Pedro (e os que com ele estavam) : "Mestre, as multidões apertam-te e oprimem-te."
46 Mas Jesus disse: "Alguém me tocou, porque conheci que saiu de mim uma virtude."
47 A mulher, vendo-se descoberta, aproximou-se tremendo, prostrou-se a seus pés, e declarou diante de todo o povo a causa por que o tinha tocado, e como ficara logo sã.
48 Jesus disse-lhe: "Filha, a tua fé te salvou; vai em paz."
49 Ainda ele não tinha acabado de falar, quando veio um dizer ao chefe da sinagoga: "Tua filha morreu, não importunes mais o Mestre."
50 Jesus, tendo ouvido estas palavras, disse ao pai da menina: "Não temas, crê sòmente e ela será salva."
51 Tendo chegado a casa, não deixou entrar ninguém com ele, senão Pedro, Tiago e João, o pai e a mãe da menina.
52 Entretanto todos choravam, e a lamentavam. Porém, ele disse-lhes: "Não choreis, (a menina) não está morta, mas dorme."
53 Zombaram dele, sabendo que estava morta.
54 Então Jesus, tomando-a pela mão, disse em alta voz: "Menina, levanta-te."
55 O seu espírito voltou, e levantou-se imediatamente. Ele mandou que lhe dessem de comer.
56 Seus pais ficaram cheios de assombro, e Jesus ordenou-lhes que não dissessem a ninguém o que tinha acontecido.
Capítulo 9 Ver capítulo
1 Convocados os doze ( Apóstolos ) deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demónios; e para curar as doenças.
2 Enviou-os a pregar o reino de Deus, e a curar os doentes.
3 Disse-lhes : "Não leveis nada para o caminho, nem bastão, nem alforge, nem pão, nem dinheiro, nem leveis duas túnicas.
4 Em qualquer casa, em que entrardes, ficai lá, e ( não ) saiais dela até à vossa partida.
5 Quando quaisquer vos não receberem, ao sair dessa cidade, sacudi até o pó dos vossos pés, em testemunho contra eles."
6 Tendo eles partido, andavam de aldeia em aldeia pregando o Evangelho, e fazendo curas por toda a parte.
7 Herodes tetrarca ouviu falar de tudo o que se passava, e não sabia que pensar, porque uns diziam:
8 "É João que ressuscitou dos mortos"; outros: "É Elias que apareceu"; outros: "É um dos antigos profetas, que ressuscitou."
9 Herodes disse: "Eu mandei degolar João. Quem é, pois, este de quem ouço tais coisas?" E buscava ocasião de o ver.
10 Tendo voltado os Apóstolos, contaram-lhe tudo o que tinham feito. Ele, tomando-os consigo, retirou-se aparte a um lugar do território de Betsaida.
11 Sabendo isto, as multidões foram-no seguindo. E as recebeu, falou-lhes do reino de Deus e sarou os que necessitavam de cura.
12 Ora o dia começava a declinar. Aproximando-se dele os doze, disseram-lhe: "Despede as multidões, para que, indo pelas aldeias e herdades circunvizinhas, se alberguem e encontrem que comer, porque aqui estamos num lugar deserto."
13 Ele respondeu-Ihes: "Dai-lhes vós de comer." Eles disseram: "Não temos mais do que cinco pães e dois peixes, a não ser que vamos comprar mantimento para toda esta multidão."
14 Pois eram quase cinco mil homens. Então disse a seus discípulos: "Mandai-os sentar divididos em ranchos de cinquenta."
15 Eles assim o executaram, e mandaram-nos sentar a todos.
16 Tendo tomado os cinco pães e os dois peixes, levantou os olhos ao céu, abençoou-os, partiu-os e distribuiu-os aos seus discípulos, para que os servissem à multidão.
17 Comeram todos, e ficaram saciados. E levantaram do que lhes sobejou doze cestos de fragmentos.
18 Aconteceu que, estando só orando, se encontravam com ele os seus discípulos. Jesus interrogou-os: "Quem dizem as multidões que sou eu?"
19 Responderam e disseram: "Uns dizem que João Baptista, outros que Elias, outros que ressuscitou um dos antigos profetas."
20 Ele diese-lhes: "E vós quem dizeis que sou eu?" Pedro, respondendo, disse: "O Cristo de Deus."
21 Mas ele, com seu tom severo, mandou que o não dissessem a ninguém,
22 acrescentando: "E’ necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas, que seja rejeitado pelos anciães, pelos príncipes doe sacerdotes e pelos escribas, que seja morto, e ressuscite ao terceiro dia.
23 Depois, dirigindo-se a todos: "Se alguém quer vir após de mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias, e siga-me.
24 Porque o que quiser salvar a sua vida (abandonando-me), a perderá; e quem perder a sua vida por causa de mim, salvá-la-á.
25 Que aproveita o homem ganhar todo o mundo, se se perde a si mesmo, e se faz dano a si?
26 Porque quem se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na sua majestade, e na de seu Pai e dos santos anjos.
27 Digo-vos na verdade que estão aqui alguns presentes que não morrerão, sem que vejam o reino de Deus."
28 Cerca de oito dias depois destas palavras, tomou consigo Pedro, Tiago e João, e subiu a um monte para orar.
29 Enquanto orava, tornou-se todo outro o seu rosto; o seu vestido tornou-se branco ( e ) resplandecente.
30 E eis que dois homens falavam com ele: Moisés e Elias,
31 os quais apareceram cheios de majestade, e falavam da morte que ele devia sofrer em Jerusalém.
32 Entretanto Pedro e os que estavam com ele tinham-se deixado oprimir de sono. Mas, despertando, viram a majestade de Jesus, e os dois varões que estavam com ele.
33 Enquanto estes se separavam dele, Pedro disse a Jesus: "Mestre, é bom para nós estar aqui; façamos três tendas, uma para ti, uma para Moisés, e uma para Elias", não sabendo o que dizia.
34 Estando ele ainda a falar, formou-se uma nuvem, que os envolveu; e tiveram medo, quando os viram entrar na nuvem.
35 Então saiu uma voz da nuvem, dizendo: "Este é o meu filho dilecto, ouvi-o."
36 Ao soar aquela voz, Jesus ficou só. Eles calaram-se, e a ninguém disseram naqueles dias nada do que tinham visto.
37 Sucedeu no dia seguinte que, descendo eles do monte, lhes saiu ao encontro uma grande multidão.
38 E eis que um homem do meio da multidão clamou; "Mestre, rogo-te que ponhas os olhos em meu filho, porque é o único que tenho.
39 Um espírito maligno se apodera dele e súbitamente dá gritos, e ( o lança por terra ), o agita com violência, fazendo-o espumar, e apenas o larga depois de o ter dilacerado.
40 Pedi a teus discípulos que o expelissem, mas eles não puderam."
41 Ó geração incrédula... Ver nota Mt. 18, 19.
41 Jesus respondeu: "O ’ geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco e vos sofrerei? Traz cá o teu filho."
42 Quando este se aproximava, o demônio lançou-o por terra, e agitou-o com violência. Mas Jesus ameaçou o espírito imundo, sarou o menino, e restituiu-o a seu pai.
43 E todos pasmavam da grandeza de Deus. Enquanto todos admiravam as coisas que ele fazia, Jesus disse aos seus discípulos;
44 "Ponde nos vossos corações estas palavras: O Filho do homem está para ser entregue nas mãos dos homens."
45 Eles, porém, não entendiam esta linguagem ; era-lhes tão obscura que não compreendiam; e tinham medo de o interrogar acerca dela.
46 Começaram a discutir entre si sobre qual deles era o maior.
47 Jesus, vendo os pensamentos do seu coração, tomou pela mão um menino, pô-lo junto a si,
48 e disse-lhes: "Todo o que receber este menino em meu nome, a mim recebe; e todo o que me receber, recebe aquele que me enviou. Porque aquele que entre vós todos é o menor, esse é o maior."
49 João, tomando a palavra, disse: "Mestre, nós vimos um que expelia os demônios em teu nome, e lho proibimos, porque não anda connosco."
50 Jesus respondeu-lhe: "Não lho proibais, porque quem não é contra vós, é por vós."
51 Aconteceu que, aproximando-se o tempo da sua partida deste mundo, dirigiu-se resolutamente para Jerusalém,
52 e enviou adiante de si mensageiros, os quais entraram numa aldeia de Samaritanos para lhe prepararem pousada.
53 Não o receberam, por dar mostras de que ia para Jerusalém.
54 Vendo isto os seus discípulos Tiago e João, disseram : "Senhor, queres tu que digamos que desça fogo do céu, que os consuma?"
55 Ele, porém, voltando-se para eles, repreendeu-os: "Vós não sabeis de que espírito sois.
56 O Filho do homem não veio para perder as vidas dos homens, mas para as salvar." E foram para outra povoação.
57 Indo eles pelo caminho, veio um homem que lhe disse: "Seguir-te-ei para onde quer que fores."
58 Jesus respondeu-lhe: "As raposas têm suas covas, as aves do céu têm seus ninhos, porém o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça."
59 A um outro disse: "Segue-me." Mas ele disse: "Senhor, permite-me que eu vá primeiro sepultar meu pai."
60 Mas Jesus replicou: "Deixa que os mortos sepultem os seus mortos; tu vai anunciar o reino de Deus."
61 Um outro disse-lhe: "Eu, Senhor, seguir-te-ei, mas permite que vá primeiro dizer adeus aos de minha casa."
62 Jesus respondeu-lhe; "Ninguém que, depois de ter metido a sua mão ao arado, olha para trás, é apto para o reino de Deus.
Capítulo 10 Ver capítulo
1 Depois disto, o Senhor escolheu outros setenta e dois mandou-os dois a dois adiante de si por todas as cidades e lugares onde ele estava para ir.
2 Disse-lhes: "Grande é na verdade a messe, mas os operários poucos. Rogai, pois, ao dono da messe que mande operários para a sua messe.
3 Ide; eis que eu vos envio como cordeiros entre lobos.
4 Não leveis bolsa, nem alforge, nem calçado, e pelo caminho não saudeis ninguém.
5 Na casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz seja nesta casa.
6 Se ali houver algum filho de paz, repousará sobre ele a vossa paz; de contrário, tornará para vós.
7 Permanecei na mesma casa, comendo e bebendo do que tiverem; porque o operário é digno da sua recompensa. Não andeis de casa em casa.
8 Em qualquer cidade em que entrardes, e vos receberem, comei o que vos puserem diante;
9 curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: Está próximo de vós o reino de Deus.
10 Mas, em qualquer cidade em que entrardes, e vos não receberem, saindo para as praças dizei;
11 Até o pó da vossa cidade, que se nos pegou aos pés, sacudimos contra vós; não obstante isto, sabei que o reino de Deus está próximo.
12 Digo-vos que, naquele dia, haverá menos rigor para Sodoma que para essa cidade.
13 Ai de ti, Corozain! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidónia se tivessem operado as maravilhas que se têm operado em vós, há muito tempo que teriam feito penitência, cobertas de cilício, e jazendo sobre a cinza.
14 Por isso haverá no dia de juízo menos rigor para Tiro e Sidónia que para vós.
15 E tu, Cafarnaum, que te elevas até ao céu, serás abatida até ao inferno (Is. 14, 13-15).
16 O que vos ouve, a mim ouve, o que vos rejeita, a mim rejeita, e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou."
17 Os setenta e dois voltaram alegres, dizendo: "Senhor, até os demônios se nos submetem em virtude do teu nome."
18 Ele disse-lhes: "Eu via Satanás cair do céu como um raio.
19 Eis que vos dei poder de caminhar impunemente sobre serpentes e escorpiões, e de vencer toda a força do inimigo, e nada vos fará dano.
20 Contudo não vos alegreis porque os espíritos maus vos estão sujeitos, mas alegrai-vos porque os vossos nomes estão escritos nos céus."
21 Naquela mesma hora Jesus exultou no Espírito Santo, e disse: "Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos prudentes, e as revelaste aos pequeninos. Assim é, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.
22 Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém sabe quem é o Filho, senão o Pai, nem quem é o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho quiser revelar."
23 Depois, tendo-se voltado para seus discípulos, disse: "Ditosos os olhos que vêem o que vós vedes.
24 Porque eu vos afirmo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não viram, ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram."
25 Eis que se levantou um doutor da lei, e lhe disse para o tentar: "Mestre, que devo eu fazer para alcançar a vida eterna?"
26 Jesus respondeu-lhe: "O que é que está escrito na lei? Como lês tu?"
27 Ele respondeu: "Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e o teu próximo como a ti mesmo."
28 Jesus disse-lhe: "Respondeste bem ; faz isso, e viverás (Lv. 18, 5)."
29 Mas ele, querendo justificar-se, disse a Jesus: "E quem é o meu próximo?"
30 Jesus, retomando a palavra, disse; "Um homem descia de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos ladrões, que o despojaram, e, tendo-lhe feito feridas, retiraram-se, deixando-o meio morto.
31 Ora aconteceu que descia pelo mesmo caminho um sacerdote, o qual, quando o viu, passou de largo.
32 Igualmente um levita, chegando perto daquele lugar, e vendo-o, passou adiante.
33 Um samaritano, porém, que ia de viagem, chegou perto dele, e, quando o viu, moveu-se de compaixão.
34 Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, lançando nelas azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu jumento, levou-o a uma estalagem, e teve cuidado dele.
35 No dia seguinte tirou dois dinheiros, deu-os ao estalajadeiro, e disse-lhe: Tem cuidado dele; quanto gastares a mais, eu to satisferei quando voltar.
36 Qual destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões?"
37 Ele respondeu: "O que usou com ele de misericórdia." Então Jesus disse-lhe: "Vai, e faz tu o mesmo."
38 Indo em viagem, entrou em uma aldeia, e uma mulher, chamada Marta, recebeu-o em sua casa.
39 Esta tinha uma irmã, chamada Maria que, sentada aos pés do Senhor, ouvia a sua palavra.
40 Marta, porém, afadigava-se muito na continua lida da casa. Aproximando-se, disse: "Senhor, não se te dá que minha irmã me tenha deixado só com o serviço da casa? Diz-lhe, pois, que me ajude."
41 O Senhor, respondeu-lhe: "Marta, Marta, tu afadigas-te e andas inquieta com muitas coisas.
42 Entretanto uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que lhe não será tirada."
Capítulo 11 Ver capítulo
1 Estando ele a fazer oração em certo lugar, quando acabou, um dos seus discípulos disse-lhe: "Senhor, ensina-nos a orar, assim como também João ensinou aos seus discípulos."
2 Ele respondeu-lhes: "Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu reino.
3 O pão nosso de cada dia nos dá hoje;
4 perdoa-nos os nossos pecados, pois que também nós perdoámos aos que nos ofenderam; e não nos deixes cair em tentação."
5 Disse-lhes mais: "Se algum de vós tiver um amigo, e for ter com ele à meia-noite para lhe dizer: "Amigo, empresta-me três pães,
6 porque um meu amigo acaba de chegar a minha casa de uma viagem, e não tenho nada que lhe dar;
7 e ele, respondendo lá de dentro, disser; Não me sejas importuno, a porta está agora fechada, os meus filhos e eu estamos deitados; não me posso levantar para tos dar...
8 digo-vos que, ainda que ele se não levantasse a dar-lhos, por ser seu amigo, certamente pela sua importunação se levantará, e lhe dará tudo aquilo de que precisar.
9 Eu digo-vos: Pedi, e dár-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á.
10 Porque todo aquele que pede, recebe; e o que busca, encontra; e ao que bate, se lhe abrirá.
11 Se um filho pedir pão, qual é entre vós o pai que lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á ele, em vez do peixe, uma serpente?
12 Ou se lhe pedir um ovo, porventura dar-lhe-á um escorpião?
13 Se pois vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais o vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem."
14 Jesus estava expelindo um demônio, que era mudo. Depois de ter expelido o demônio, o mudo falou, e as multidões ficaram maravilhadas.
15 Mas alguns disseram: "Ele expele os demônios por virtude de Belzebu, príncipe dos demônios."
16 Outros, para o tentarem, pediam-lhe um prodígio vindo do céu.
17 Ele, porém, conhecendo os seus pensamentos, disse-Ihes: "Todo o reino dividido contra si mesmo será devastado, e cairá casa sobre casa.
18 Se, pois, Satanás está dividido contra si mesmo, como estará em pé o seu reino? Porque vós dizeis que por virtude de Belzebu é que eu lanço fora os demônios.
19 Ora, se é por virtude de Belzebu que eu lanço fora os demônios, vossos filhos por virtude de quem os expelem? Por isso eles mesmos serão os vossos juízes.
20 Mas se eu, pelo dedo de Deus, lanço fora os demônios, certamente chegou a vós o reino de Deus.
21 Quando um valente armado, guarda o seu palácio, estão em segurança os bens que possui;
22 porém, se, sobrevindo outro mais valente do que ele, o vencer, tira-lhe as armas, em que confiava, e reparte os seus despojos.
23 Quem não é comigo, é contra mim; e quem não colhe comigo desperdiça.
24 Quando o espírito imundo saiu de um homem, anda por lugares secos, buscando repouso. Não o encontrando, diz: Voltarei para minha casa, donde sai.
25 Quando vem, a encontra varrida e adornada.
26 Então vai, toma consigo outros sete espíritos piores do que ele, e, entrando, habitam ali. E o último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro."
27 Aconteceu que, enquanto ele dizia estas palavras, uma mulher, levantando a voz do meio da multidão, disse-lhe: "Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e os peitos a que foste amamentado."
28 Porém ele disse: "Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus, e a põem em prática."
29 Concorrendo as multidões, começou a dizer: "Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não lhe será dado outro sinal, senão o sinal do profeta Jonas.
30 Porque, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o Filho do homem será um sinal para esta geração.
31 A rainha do meio-dia levantar-se-á no dia de juízo contra os homens desta geração, e condená-los-á, porque veio da extremidade da terra ouvir a sabedoria de Salomão; entretanto, eis aqui está quem é mais do que Salomão.
32 Os ninivitas levantar-se-ão no (dia de) juízo contra esta geração, e condená-la-ão, porque fizeram penitência com a pregação de Jonas; entretanto eis aqui está quem é mais do que Jonas!
33 Ninguém acende uma lucerna, e a põe em lugar escondido, nem debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, para que os que entram vejam a luz.
34 O teu olho é a lucerna do teu corpo. Se o teu olho for puro, todo o teu corpo terá luz; se, porém, for mau, também o teu corpo estará nas trevas.
35 Vê, pois, que a luz que está em ti não seja trevas.
36 Se, pois, o teu corpo for todo lúcido, sem ter parte alguma escura, todo ele será luminoso, e iluminar-te-á como uma lâmpada resplandecente."
37 Enquanto Jesus falava, um fariseu convidou-o a ir jantar com ele. Tendo entrado, pôs-se à mesa.
38 Ora o fariseu estranhou que ele não se tivesse lavado antes de comer.
39 Mas o Senhor disse-lhe: "Agora vós os fariseus limpais o que está por fora do vaso e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e de iniquidade.
40 Néscios, quem fez o que está de fora, não fez também o que está por dentro?
41 Dai contudo esmola segundo os vossos meios, e tudo será puro para vós.
42 Mas ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo da hortelã, da arruda, de toda a casta de ervas, e desprezais a justiça e o amor de Deus! Era necessário praticar estas coisas, mas não omitir aquelas.
43 Ai de vós, fariseus, que gostais de ter as primeiras cadeiras nas sinagogas, e as saudações nas praças!
44 Ai de vós, porque sois como os sepulcros que não se vêem, e sobre os quais se anda sem saber!"
45 Então um dos doutores da lei, tomando a palavra, disse-lhe: "Mestre, falando assim, também nos ofendes a nós."
46 Jesus respondeu-lhe: "Ai de vós também, doutores da lei, porque carregais os homens de pesos que não podem suportar, e vós nem com um dedo vosso lhe tocais a carga!
47 Ai de vós, que edificais sepulcros aos profetas, e foram vossos pais que lhes deram a morte!
48 Por certo dais a conhecer que aprovais as obras de vossos pais; porque eles os mataram, e vós edificais os seus sepulcros.
49 Por isso disse a sabedoria de Deus: Mandar-lhes-ei profetas e apóstolos, e eles darão a morte a uns, e perseguirão outros,
50 para que a esta geração se peça conta do sangue de todos os profetas, derramado desde o principio do mundo,
51 desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o templo. Sim, eu vos digo que será pedida conta disto a esta geração.
52 Ai de vós, doutores da lei, que usurpastes a chave da ciência, e nem entrastes vós, nem deixastes entrar os que queriam entrar!"
53 Dizendo-lhes ele estas coisas, começaram os fariseus e doutores da lei a insistir fortemente, e a importuná-lo com muitas perguntas,
54 armando-lhe laços, e buscando ocasião de lhe apanharem da boca alguma palavra para o acusarem.
Capítulo 12 Ver capítulo
1 Tendo-se juntado à roda de Jesus milhares e milhares de pessoas, de sorte que se atropelavam uns aos outros, começou ele a dizer aos seus discípulos: "Guardai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia.
2 Nada há oculto que não venha a descobrir-se, e nada há escondido que não venha a saber-se.
3 Por isso as coisas que dissestes nas trevas, serão ouvidas às claras, e o que falastes ao ouvido no gabinete, será apregoado sobre os telhados.
4 A vós, pois, meus amigos, vos digo: não tenhais medo daqueles que matam o corpo, e depois nada mais podem fazer.
5 Eu vou mostrar-vos a quem haveis de temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder de lançar no inferno; sim, eu vos digo, temei este.
6 Não se vendem cinco passarinhos por dois asses, entretanto nem um só deles está em esquecimento diante de Deus.
7 Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais pois; vós valeis mais que muitos passarinhos.
8 Digo-vos: Todo aquele que me confessar diante dos homens, também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus.
9 O que me negar diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus.
10 Todo o que falar contra o Filho do homem, ser-lhe-á dado perdão; mas àquele que blasfemar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado.
11 Quando vos levarem às sinagogas, e perante os magistrados e autoridades, não estejais com cuidado de que modo respondereis, ou que direis,
12 porque o Espírito Santo vos ensinará, naquele mesmo momento, o que deveis dizer."
13 Então disse-lhe alguém da multidão: "Mestre, diz a meu irmão que me dê a minha parte da herança."
14 Jesus respondeu-lhe: "Meu amigo, quem me constituiu juiz ou árbitro entre vós?"
15 Depois disse-lhes: "Guardai-vos cuidadosamente de toda a avareza, porque a vida de cada um, ainda que esteja na abundância, não depende dos bens que possui."
16 Sobre isto propôs-lhes esta parábola: "Os campos de um homem rico tinham dado abundantes frutos.
17 Ele andava discorrendo consigo; Que farei, pois, não tenho onde recolher os meus frutos?
18 Depois disse: Farei isto: Demolirei os meus celeiros, fá-los-ei maiores, neles recolherei todas as minhas novidades e os meus bens,
19 e direi à minha alma: Ó alma, tu tens muitos bens em depósito para largos anos; descansa, come, bebe, regala-te.
20 Mas Deus disse-lhe: Néscio, esta noite te virão demandar a tua alma; e as coisas que juntaste, para quem serão?
21 Assim é o que entesoura para si, e não é rico para Deus."
22 Depois disse a seus discípulos: "Portanto vos digo : Não andeis demasiadamente inquietos nem com o que vos é preciso para a vossa vida, nem com o que vos é preciso para vestir o vosso corpo.
23 A vida vale mais que o alimento, e o corpo mais que o vestido.
24 Considerai os corvos, que não semeiam, nem ceifam, nem têm despensa, nem celeiro, e Deus, contudo, sustenta-os. Quanto mais valeis vós do que eles?
25 Qual de vós, por muito que pense, pode acrescentar um côvado à duração da sua vida?
26 Se vós, pois, não podeis fazer o que é mínimo, porque estais em cuidado sobre as outras coisas?
27 Considerai como crescem os lírios; não trabalham, nem fiam; contudo, digo-vos que nem Salomão, com toda a sua glória, se vestia como um deles.
28 Se, poie, a erva, que hoje está no campo, e amanhã se lança no forno. Deus a veste assim, quanto mais a vós, homens de pouca fé?
29 Vós, pois, não procureis com cuidados excessivos o que haveis de comer ou beber; não andeis com o espírito preocupado.
30 Porque são as nações deste mundo que buscam com excessivo cuidado todas estas coisas. Mas o vosso Pai sabe que tendes necessidade delas.
31 Buscai, pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo.
32 Não temas, ó pequenino rebanho, porque foi do agrado do vosso Pai dar-vos o reino.
33 Vendei o que possuis, e dai esmola; provei-vos de bolsas que não envelhecem, de um tesouro inexaurível no céu, onde não chega o ladrão, nem a traça rói.
34 Porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.
35 Estejam cingidos os vossos rins, e acesas as vossas lâmpadas.
36 Fazei como os homens que esperam o seu senhor quando volta das bodas, para que, quando vier e bater à porta, logo lha abram.
37 Bem-aventurados aqueles servos, a quem o Senhor achar vigiando, quando vier. Na verdade vos digo que se cingirá, os fará pôr à mesa, e, passando por entre eles, os servirá.
38 Se vier na segunda vigília, ou na terceira, e assim os encontrar, bem-aventurados são aqueles servos.
39 Sabei que, se o pai de família soubesse a hora, em que viria o ladrão, vigiaria sem dúvida, e não deixaria minar a sua casa.
40 Vós, pois, estai preparados, porque, na hora que não cuidais, virá o Filho do homem."
41 Pedro disse-lhe: "Senhor, dizes esta parábola só para nós ou para todos?"
42 O Senhor respondeu: "Quem é o despenseiro fiel e prudente que o Senhor estabelecerá sobre as pessoas da sua casa, para dar a cada um a seu tempo a ração de trigo?
43 Bem-aventurado aquele servo a quem, quando o Senhor vier, achar procedendo assim.
44 Na verdade vos digo que o constituirá administrador de tudo quanto possui.
45 Porém, se aquele servo disser no seu coração : "O meu senhor tarda em vir ; e começar a espancar os criados e as criadas, a comer, a beber e a embriagar-se,
46 chegará o senhor desse servo no dia, em que ele o não espera, e na hora, em que ele não sabe; removê-lo-á, e pô-lo-á aparte com os infiéis.
47 Aquele servo, que conheceu a vontade do seu senhor, e nada preparou, e não procedeu conforme a sua vontade, levará muitos açoutes,
48 Quanto àquele que, não a conhecendo, fez coisas dignas de castigo, levará poucos açoutes, Porque a todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e ao que muito confiaram, mais conta lhe tomarão.
49 Eu vim trazer fogo à terra; e que quero eu, senão que ele se acenda?
50 Eu tenho de receber um baptismo; e quão grande é a minha ansiedade, até que ele se conclua!
51 Julgais que vim trazer paz à terra? Não, vos digo eu, mas separação ;
52 porque, de hoje em diante, haverá numa casa cinco pessoas, divididas três contra duas, e duas contra três,
53 Estarão divididos: o pai contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra."
54 Dizia também às multidões: "Quando vós vedes levantar-se uma nuvem no poente, logo dizeis: Aí vem chuva; e assim sucede.
55 E quando sentis soprar o vento do sul, dizeis: Haverá calor; e assim sucede.
56 Hipócritas, sabeis distinguir os aspectos da terra e do céu ; como, pois, não sabeis reconhecer o tempo presente?
57 E porque não discernis também por vós mesmos o que é justo?
58 Quando, pois, fores com o teu adversário ao magistrado, faz o possível por te livrares dele no caminho, para que não suceda que te leve ao juiz, que o juiz te entregue ao meirinho, e o meirinho te meta na cadeia.
59 Digo-te que não sairás de lá, enquanto não pagares até ao último ceitil."
Capítulo 13 Ver capítulo
1 Neste mesmo tempo chegaram alguns a dar-lhe a notícia de certos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com o dos sacrifícios deles.
2 Jesus respondeu-lhes; "Vós julgais que aqueles galileus eram maiores pecadores que todos os outros galileus, por terem padecido tanto?
3 Não, eu vo-lo digo; mas, se não fizerdes penitência, todos perecereis do mesmo modo.
4 Assim como também aqueles dezoito homens, sobre os quais caiu a torre de Siloé, e os matou, julgais que eles também foram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém?
5 Não, eu vo-lo digo; mas, se não fizerdes penitência, todos perecereis do mesmo modo."
6 Dizia também esta parábola: "Um homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi buscar fruto, e não o encontrou.
7 Então disse ao cultivador da vinha: Eis que há três anos venho buscar fruto a esta figueira, e não o encontro; corta-a; para que está ela ocupando terreno inutilmente?
8 Ele, porém, respondeu-lhe: Senhor, deixa-a ainda este ano, enquanto eu a cavo em roda, e lhe lanço esterco;
9 se com isto der fruto, bem está, senão, cortá-la-ás depois."
10 Jesus estava ensinando numa sinagoga em dia de sábado.
11 Eslava lá uma mulher possessa de um espírito que a tinha doente havia dezoito anos; andava encurvada, e não podia absolutamente levantar a cabeça.
12 Jesus, vendo-a, chamou-a, e disse-lhe; "Mulher, estás livre da tua enfermidade.
13 impôs-Ihe as mãos. Imediatamente ficou direita, e glorificava a Deus.
14 Mas, tomando a palavra o príncipe da sinagoga, indignado de que Jesus tivesse curado em dia de sábado, disse ao povo: "Há seis dias para trabalhar; vinde, pois, nestes, e sede curados, mas não em dia de sábado."
15 O Senhor disse-lhe: "Hipócrilas, qualquer de vós não solta aos sábados o seu boi ou seu jumento da manjedoura, para os levar a beber?
16 E esta filha de Abraão, que Satanás tinha presa, há dezoito anos não devia ser livre desta prisão ao sábado?"
17 Dizendo estas coisas, envergonhavam-se todos os seus adversários, e alegrava-se todo o povo de todas as acções que gloriosamente eram praticadas por ele.
18 Dizia também: "A que é semelhante o reino de Deus, a que o compararei eu?
19 É semelhante a um grão de mostarda, que um homem tomou e semeou na sua horta; cresceu, tornou-se uma grande planta, e as aves do céu repousaram nos seus ramos.
20 Disse outra vez : 'A que direi que o reino de Deus é semelhante?
21 É semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou em três medidas de farinha, até que ficasse tudo levedado."
22 Ia pelas cidades e aldeias ensinando, e caminhando para Jerusalém.
23 Alguém lhe perguntou: "Senhor, são poucos os que se salvam?" Ele respondeu-lhes:
24 "Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque vos digo que muitos procurarão entrar, e não conseguirão.
25 Quando o pai de família tiver entrado e fechado a porta, vós, estando fora, começareis a bater à porta, dizendo: Senhor, abre-nos, ele vos responderá: Não sei donde vós sois.
26 Então começareis a dizer: Comemos e bebemos em tua presença, tu ensinaste nas nossas praças.
27 Ele vos dirá: Não sei donde sois; apartai-vos de mim vós todos os que praticais a iniquidade (Ps. 6, 9).
28 Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacob, e todos os profetas no reino de Deus, e vós serdes expulsos para fora.
29 Virão muitos do oriente, do ocidente, do norte, do sul, e se sentarão à mesa no reino de Deus.
30 Então haverá últimos que serão os primeiros, e primeiros que serão os últimos."
31 No mesmo dia alguns dos fariseus foram dizer-Ihe: "Sai, e vai-te daqui: porque Herodes quer-te matar."
32 Ele respondeu-lhes: "Ide dizer a essa raposa: Eis que eu lanço fora os demônios, e faço curas: hoje e amanhã, e ao terceiro dia estou no termo.
33 Importa, contudo, que eu caminhe ainda hoje, amanhã e no dia seguinte; porque não convém que um profeta morra fora de Jerusalém.
34 Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados, quantas vezes quis juntar os teus filhos como a galinha recolhe os seus pintainhos debaixo das asas, e tu não quiseste!
35 Eis vos será deixada deserta a vossa casa. Digo-vos que não me vereis, até que venha o dia em que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor (Ps. 117, 26)."
Capítulo 14 Ver capítulo
1 Entrando Jesus, um sábado, em casa de um dos principais fariseus, a tomar a sua refeição, eles o estavam observando.
2 Encontrava-se diante dele um homem hidrópico.
3 Jesus, dirigindo a palavra aos doutores da lei e aos fariseus, disse-lhes : "E’ licito ou não fazer curas ao sábado?"
4 Eles ficaram calados. Então Jesus, pegando no homem pela mão, curou-o e mandou-o embora.
5 Dirigindo-se depois a eles, disse: "Quem de entre vós que, se o seu filho ou o seu boi cair num poço, o não tirará logo ainda que seja em dia de sábado?"
6 Eles não sabiam que replicar a isto.
7 Disse também uma parábola, observando como os convidados escolhiam os primeiros lugares à mesa:
8 "Quando fores convidado para bodas, não te ponhas no primeiro lugar, porque pode ser que outra pessoa de mais consideração do que tu tenha sido convidada pelo dono da casa,
9 e que, vindo este que te convidou a ti e a ele, te diga: Cede o lugar a este; e tu envergonhado vás ocupar o último lugar.
10 Mas, quando fores convidado, vai tomar o último lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga : Amigo, vem mais para cima. Então terás com isto glória na presença dos que estiverem juntamente à mesa;
11 porque todo o que se exalta, será humilhado, e o que se humilha, será exaltado."
12 Dizia mais ao que o tinha convidado : "Quando deres algum jantar ou ceia, não convides os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os parentes, nem os vizinhos ricos; para que não aconteça que também eles te convidem, e te paguem com isso.
13 Mas, quando deres algum banquete, convida pobres, aleijados, coxos, cegos;
14 e serás bem-aventurado, porque esses não têm com que retribuir; mas ser-te-á isso retribuído na ressurreição dos justos."
15 Tendo ouvido estas coisas um dos convivas disse-lhe: "Bem-aventurado o que participar do banquete no reino de Deus."
16 Jesus respondeu-lhe: "Um homem fez uma grande ceia, para a qual convidou muitos,
17 À hora da ceia, mandou um seu servo dizer aos convidados : Vinde, porque tudo está preparado.
18 Mas todos à uma começaram a escusar-se. O primeiro disse-lhe: Comprei um campo, e é-me necessário ir vê-lo; rogo-te que me dês por escusado.
19 Outro disse: Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-los; rogo-te que me dês por escusado.
20 Disse também outro : Casei-me, por isso não posso ir.
21 Voltando o servo, referiu estas coisas ao seu senhor. Então, irado o pai de família, disse ao sen servo: Vai já pelas praças e pelas ruas da cidade; traz cá os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos.
22 Disse o servo: Senhor, está feito como mandaste, e ainda há lugar.
23 Disse o senhor ao servo: Vai pelos caminhos e ao longo dos cercados ; e força-os a vir, para que se encha a minha casa.
24 Porque eu vos digo que nenhum daqueles que foram convidados provará a minha ceia."
25 Ia com ele grande multidão de povo. Jesus, voltando-se, disse-lhes:
26 "Se algum vem a mim, e não aborrece seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs, e até a sua vida, não pode ser meu discípulo.
27 O que não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo.
28 Porque qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e ver se tem com que acabar?
29 Para que, depois de ter assentado o fundamento e não a poder terminar, todos os que virem, não comecem a fazer zombaria dele, dizendo:
30 Este homem principiou a edificar, e não pôde terminar.
31 Ou qual é o rei que, estando para entrar em guerra contra outro rei, não se assenta primeiro a considerar se com dez mil homens pode ir encontrar-se com o que traz contra ele vinte mil?
32 Doutra maneira, quando o outro está ainda longe, enviando embaixadores, pede-Ihe paz.
33 Assim, pois, qualquer de vós que não renuncia tudo o que possui, não pode ser meu discípulo.
34 O sal é bom ; porém, se o sal perder a força, com que se há-de temperar?
35 Não é bom nem para a terra, nem para estrume; mas será lançado fora. O que tem ouvidos para ouvir, ouça."
Capítulo 15 Ver capítulo
1 Aproximavam-se dele os publicanos e os pecadores para o ouvir.
2 Os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: "Este recebe os pecadores, e come com eles."
3 Então propôs-lhes esta parábola:
4 "Qual de vós, tendo cem ovelhas, se perde uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, para ir procurar a que se tinha perdido, até que a encontre?
5 E, tendo-a encontrado, a põe sobre os ombros todo contente,
6 e, indo para casa, chama os seus amigos e vizinhos, dizendo-Ihes: Congratulai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha, que se tinha perdido.
7 Digo-vos que, do mesmo modo, haverá maior júbilo no céu por um pecador que fizer penitência, que por noventa e nove justos que não têm necessidade de penitência.
8 Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, e perdendo uma, não acende a candeia, não varre a casa, e não procura diligentemente até que a encontre?
9 E que, depois de a achar, não convoca as amigas e vizinhas, dizendo: "Congratulai-vos comigo, porque encontrei a dracma que tinha perdido.
10 Assim vos digo eu que haverá júbilo entre os anjos de Deus por um só pecador que faça penitência."
11 Disse mais: "Um homem tinha dois filhos,
12 o mais novo disse a seu pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me toca. O pai repartiu entre eles os bens.
13 Passados poucos dias, juntando tudo o que era seu, o filho mais novo partiu para uma terra distante, e lá dissipou os seus bens, vivendo dissolutamente.
14 Depois de ter consumido tudo, houve naquele país uma grande fome, e ele começou a sentir necessidade.
15 Foi pôr-se ao serviço de um habitante daquela terra, que o mandou para os seus campos guardar porcos.
16 Desejava encher o seu ventre das landes que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava.
17 Tendo entrado em si, disse: Quantos jornaleiros há em casa de meu pai, que têm pão em abundância, e eu aqui morro de fome!
18 Levantar-me-ei, irei ter com meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e contra ti;
19 já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros.
20 Levantando-se, foi para seu pai. Quando ele estava ainda longe, seu pai viu-o, ficou movido de compaixão, e, correndo, lançou-lhe os braços ao pescoço, e beijou-o.
21 O filho disse-lhe: Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.
22 Porém o pai disse aos seus servos: Trazei depressa o vestido mais precioso, vesti-lho, metei-lhe um anel no dedo e os sapatos nos pés.
23 Trazei também um vitelo gordo, matai-o, Comamos e façamos festa,
24 porque este meu filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi encontrado. E começaram a fazer festa.
25 Ora o filho mais velho estava no campo. Quando voltou, ao aproximar-se de casa, ouviu a música e os coros.
26 Chamou um dos servos, e perguntou-lhe que era aquilo.
27 Este disse-lhe: Teu irmão voltou, e teu pai mandou matar um novilho gordo, porque o recuperou com saúde.
28 Ele indignou-se, e não queria entrar. Mas o pai, saindo, começou a pedir-lhe.
29 Ele, porém, respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo, nunca transgredi nenhum mandado teu, e nunca me deste um cabrito para eu me banquetear com os meus amigos;
30 mas, logo que veio este teu filho, que devorou os seus bens com meretrizes, lhe mandaste matar um novilho gordo.
31 Seu pai disse-lhe: Filho, tu estás sempre comigo, tudo o que é meu é teu.
32 Era, porém, justo que houvesse banquete e festa, porque este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi encontrado".
Capítulo 16 Ver capítulo
1 Disse também a seus discípulos; "Um homem rico tinha um feitor, que foi acusado diante dele de ter dissipado os seus bens.
2 Chamou-o, e disse-lhe : Que é isto que ouço dizer de ti? Dá conta da tua administração; não mais poderás ser meu feitor,
3 Então o feitor disse consigo: Que farei, visto que o meu senhor me tira a administração? Cavar não posso, de mendigar tenho vergonha.
4 Já sei o que hei-de fazer, para que, quando for removido da administração, haja quem me receba em sua casa.
5 Tendo chamado cada um dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor?
6 Ele respondeu: Cem cados de azeite. Então disse-lhe : Tom a a tua caução, senta-te e escreve depressa cinquenta.
7 Depois disse a outro: Tu quanto deves? Ele respondeu: Cem medidas de trigo. Disse-lhe o feitor: Tom a a tua caução e escreve oitenta.
8 E o senhor louvou o feitor iníquio, por ter procedido sagazmente. Porque os filhos deste século são mais hábeis no trato com os seus semelhantes que os filhos da luz.
9 Portanto eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da iniquidade, para que, quando vierdes a precisar, vos recebam nos tabernáculos eternos.
10 O que é fiel no pouco, também é fiel no muito; e o que é injusto no pouco, também é injusto no muito.
11 Se, pois, vós não fostes fiéis nas riquezas iníquas, quem fiará de vós as verdadeiras?
12 E se vós não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso?
13 Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque ou odiará um, e amará o outro, ou se afeiçoará a um, e desprezará o outro. Não podeis servir Deus e o dinheiro."
14 Ora os fariseus, que eram amigos do dinheiro, ouviam todas estas coisas, e zombavam dele.
15 Jesus disse-lhes: "Vós sois aqueles que pretendeis passar por justos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações; o que é excelente segundo os homens, é abominação diante de Deus.
16 A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e todos se esforçam por entrar nele pela violência.
17 Ora é mais fácil passar o céu e a terra, do que perder-se um til da lei.
18 Todo o que repudia sua mulher, e toma outra, comete adultério ; e o que casa com a que foi repudiada por seu marido, comete adultério.
19 Havia um homem rico, que se vestia de púrpura e de linho fino, e todos os dias se banqueteava esplêndidamente.
20 Havia também um mendigo, chamado Lázaro, que, coberto de chagas, estava deitado à sua porta,
21 desejando saciar-se com as migalhas que caiam da mesa do rico... e até os cães vinham lamber-Ihe as chagas.
22 Sucedeu morrer o mendigo, e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico, e foi sepultado.
23 Quando estava nos tormentos do inferno, levantando os olhos, viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio.
24 Então exclamou; Pai Abraão, compadece-te de mim, e manda Lázaro que molhe em água a ponta do seu dedo, para refrescar a minha língua, pois sou atormentado nesta chama.
25 Abraão disse-lhe: Filho, lembra-te que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro, ao contrário, recebeu males; por isso ele é agora consolado, e tu és atormentado.
26 Além disso, há entre nós e vós um grande abismo; de maneira que os que querem passar daqui para vós, não podem, nem os daí podem passar para nós.
27 O rico disse: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à minha casa paterna,
28 pois tenho cinco irmãos, para que os advirta disto, e não suceda virem também eles parar a este lugar de tormentos.
29 Abraão disse-lhe: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos.
30 Ele, porém, disse: Não basta isso pai Abraão, mas, se algum dos mortos for ter com eles, farão penitência.
31 Ele disse-Ihe: Se não ouvem Moisés e os profetas, tão-pouco acreditarão, ainda que ressuscitasse algum dos mortos."
Capítulo 17 Ver capítulo
1 Depois Jesus disse a seus discípulos: "É impossível que não venham escândalos, porém, ai daquele por quem eles vêm !
2 Seria melhor para ele que lhe fosse posta ao pescoço a mó de um moinho, e que fosse precipitado no mar, do que ser causa de escândalo para um destes pequeninos.
3 Estai com cuidado sobre vós. Se teu irmão pecar, repreende-o; e, se ele se arrepender, perdoa-lhe.
4 E, se pecar sete vezes no dia contra ti e sete vezes no dia for ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe."
5 Os apóstolos disseram ao Senhor: "Aumenta-nos a fé."
6 O Senhor disse-lhes: "Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te para o mar, e ela vos obedecerá.
7 Qual é de vós, tendo um servo a lavrar ou a guardar gado, lhe dirá quando ele voltar do campo: Vem depressa, põe-te à mesa?
8 Não lhe dirá antes: Prepara-me a ceia, cinge-te, e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois comerás tu e beberás?
9 Porventura, fica o senhor obrigado àquele servo, por ter feito o que lhe tinha mandado?
10 Assim também vós, depois de terdes feito tudo o que voe foi mandado, dizei: Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer."
11 Indo Jesus para Jerusalém, passou pela Samaria e pela Galileia.
12 Ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, que pararam ao longe,
13 e levantaram a voz, dizendo: "Jesus, Mestre, tem compaixão de nós."
14 Tendo-os ele visto, disse-lhes: "Ide, mostrai-vos aos sacerdotes." Aconteceu que, enquanto iam, ficaram limpos.
15 Um deles, quando viu que tinha ficado limpo, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz,
16 e prostrou-se por terra a seus pés, dando-lhe graças. Era um samaritano.
17 Jesus disse: "Não são dez os que foram curados? Os outros nove onde estão?
18 Não se encontrou quem voltasse, e desse glória a Deus, senão este estrangeiro?
19 Depois disse-lhe: Levanta-te, vai; a tua fé te salvou."
20 Tendo-lhe os fariseus perguntado quando viria o reino de Deus, respondeu-lhes: " O reino de Deus não virá com aparato.
21 Não se dirá: Ei-lo aqui ou ei-lo acolá. Porque eis que o reino de Deus está no meio de vós."
22 Depois disse aos seus discípulos: "Virá tempo em que vós desejareis ver um só dos dias do Filho do homem, e não o vereis.
23 E vos dirão: Ei-lo aqui, ou ei-lo acolá. Não vades, nem os sigais.
24 Porque, assim como o clarão brilhante de um relâmpago ilumina o céu de uma extremidade à outra, assim será o Filho do homem no seu dia.
25 Mas primeiro é necessário que ele sofra muito, e seja rejeitado por esta geração.
26 Como sucedeu nos dias de Noé, assim sucederá também quando vier o Filho do homem.
27 Comiam, bebiam, tomavam mulher e marido, até ao dia em que Noé entrou na arca; e veio o dilúvio, que exterminou a todos.
28 Como sucedeu também no tempo de Lot; comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam;
29 mas, no dia em que Lot saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre do céu, que exterminou a todos.
30 Assim será no dia em que se manifestar o Filho do homem.
31 Nesse dia quem estiver no terraço e tiver os seus móveis em casa, não desça a tomá-los; da mesma sorte, quem estiver no campo, não volte atrás.
32 Lembrai-vos da mulher de Lot.
33 O que procurar salvar a sua vida, perdê-la-á; o que a perder, salvá-la-á.
34 Eu vos digo: Nessa noite, de duas pessoas que estiverem num leito, uma será tomada, a outra deixada.
35 Duas mulheres estarão moendo juntas, uma será tomada, a outra deixada;
36 dois estarão no campo, um será tomado, o outro deixado."
37 Os discípulos disseram-lhe: "Onde será isso, Senhor?"
38 Ele respondeu-lhes: "Onde quer que estiver o corpo, juntar-se-ão aí também as águias."
Capítulo 18 Ver capítulo
1 Disse-lhes também uma parábola, para mostrar que importa orar sempre e não cessar de o fazer:
2 "Havia em certa cidade um juiz, que não temia a Deus, nem respeitava os homens.
3 Havia também na mesma cidade uma viúva, que ia ter com ele, dizendo: Faz-me justiça contra o meu adversário.
4 Ele, durante muito tempo, não quis atender. Mas depois disse consigo: Ainda que eu não temo a Deus, nem respeito os homens,
5 todavia, visto que esta viúva me importuna, far-lhe-ei justiça, para que não venha continuamente importunar-me."
6 Então o Senhor acrescentou : "Ouvi o que diz este juiz iníquo.
7 E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que estão clamando a ele, de dia e de noite, e tardará em os socorrer?
8 Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Mas, quando vier o Filho do homem, julgais vós que encontrará fé sobre a terra?"
9 Disse também esta parábola a uns que confiavam muito em si mesmos, como se fossem justos, e desprezavam os outros.
10 "Subiram dois homens ao templo a fazer oração: um era fariseu, outro publicano.
11 O fariseu, de pé, orava no seu interior desta forma: Graças te dou, ó Deus, porque não sou como os outros homens: ladrões, injustos, adúlteros, nem como este publicano.
12 Jejuo duas vezes na semana; pago o dízimo de tudo o que possuo,
13 O publicano, porém, conservando-se a distância, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Meu Deus, tem piedade de mim pecador.
14 Digo-vos que este voltou justificado para sua casa, o outro não; porque quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado."
15 Traziam-lhe também meninos, para que os tocasse. Vendo isto os discípulos repreendiam-nos.
16 Porém Jesus, chamando-os a si, disse: "Deixai vir a mim os meninos, e não os embaraceis, porque o reino de Deus é dos que se parecem com eles.
17 Em verdade vos digo: O que não receber o reino de Deus como um menino, não entrará nele."
18 Então um dos principais fez-lhe esta pergunta: "Bom Mestre, que devo eu fazer para obter a vida eterna?"
19 Jesus respondeu-lhe: "Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus.
20 Tu conheces os mandamentos: não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe (Ex. 20, 12-16 ; Dt. 5, 16-20)."
21 Ele disse: "Tenho observado tudo isso desde a minha juventude."
22 Tendo Jesus ouvido isto, disse-Ihe: "Ainda te falta uma coisa: Vende tudo quanto tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem, segue-me."
23 Mas ele, ouvindo isto, entristeceu-se, porque era muito rico.
24 Jesus, vendo esta tristeza, disse : "Quanto é difícil que aqueles que têm riquezas entrem no reino de Deus!
25 E’ mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus."
26 Os que o ouviam disseram: "Quem pode, pois, salvar-se?"
27 Jesus respondeu-lhes: "O que é impossível aos homens, é possível a Deus."
28 Então disse Pedro : "Eis que deixámos tudo para te seguir."
29 Ele disse-lhes: "Em verdade vos digo que ninguém há que tenha abandonado a casa, a mulher, os irmãos, os pais ou os filhos por causa do reino de Deus,
30 que não receba muito mais já neste mundo, e, no século futuro, a vida eterna."
31 Em seguida tomou Jesus aparte os doze, e disse-Ihes: "Eis que vamos para Jerusalém, e será cumprido tudo o que está escrito pelos profetas relativo ao Filho do homem.
32 Será entregue aos gentios, será escarnecido, ultrajado, cuspido;
33 e, depois de o açoutarem, o matarão, e ressuscitará ao terceiro dia."
34 Eles, porém, nada disto compreenderam; este discurso era para eles obscuro, e não penetravam coisa alguma do que lhes dizia.
35 Sucedeu que, aproximando-se eles de Jericó, estava sentado à borda da estrada um cego pedindo esmola.
36 Ouvindo a turba que passava, perguntou que era aquilo.
37 Disseram-lhe que era Jesus Nazareno que passava.
38 Então ele clamou : "Jesus, Filho de David, tem piedade de mim !"
39 Os que iam adiante repreendiam-no para que se calasse. Porém, ele, cada vez gritava mais: "Filho de David, tem piedade de mim!"
40 Jesus, parando, mandou que lho trouxessem. Quando ele chegou, interrogou-o:
41 "Que queres que eu te faça?" Ele respondeu: "Senhor, fazei que eu veja."
42 Jesus disse-lhe: "Vê; a tua fé te salvou."
43 Imediatamente, viu, e foi-o seguindo, glorificando a Deus. Todo o povo, vendo isto, deu louvor a Deus.
Capítulo 19 Ver capítulo
1 Tendo entrado em Jericó, atravessava a cidade.
2 Eis que um homem, chamado Zaqueu, o qual era um chefe dos publicanos, e rico,
3 procurava conhecer de vista Jesus, mas não o podia por causa da multidão, porque era pequeno de estatura.
4 Correndo adiante, subiu a um sicómoro para o ver; porque havia de passar por ali.
5 Quando Jesus chegou àquele lugar, levantou os olhos e disse-lhe : "Zaqueu, desce depressa, porque convém que eu fique hoje em tua casa."
6 Ele desceu a toda a pressa, e recebeu-o alegremente.
7 Vendo isto, todos murmuravam, dizendo: "Foi hospedar-se em casa de um homem pecador."
8 Entretanto Zaqueu, de pé diante do Senhor, disse-Ihe: "Eis, Senhor, que dou aos pobres metade dos meus bens e, naquilo em que eu tiver defraudado alguém restituir-lhe-ei no quádruplo."
9 Jesus disse-lhe: "Hoje entrou a salvação nesta casa, porque este também é filho de Abraão.
10 Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido."
11 Estando eles a ouvir isto, Jesus acrescentou uma parábola, por estar perto de Jerusalém, e porque julgavam que o reino de Deus se havia de manifestar em breve.
12 Disse pois: "Um homem nobre foi para um país distante tomar posse de um reino, para depois voltar.
13 Chamando dez dos seus servos, deu-lhes dez marcos de prata, e disse-lhes: Negociai com eles até eu vir.
14 Mas os seus concidadãos aborreciam-no; e enviaram atrás dele deputados encarregados de dizer: Não queremos que este reine sobre nós.
15 Quando ele voltou, depois de ter tomado posse do reino, mandou chamar aqueles servos, a quem dera o dinheiro, a fim de saber quanto cada um tinha lucrado.
16 Veio o primeiro e disse: Senhor, o teu marco rendeu dez marcos.
17 Ele disse-lhe: Está bem, servo bom; porque foste fiel no pouco, serás governador de dez cidades.
18 Veio o segundo e disse: Senhor, o teu marco rendeu cinco marcos.
19 Respondeu-lhe: Sê tu também governador de cinco cidades.
20 Veio depois o outro e disse: Senhor, eis o teu marco que guardei embrulhado num lenço;
21 porque tive medo de ti, que és um homem austero, que tiras donde não puseste, e recolhes o que não semeaste.
22 Disse-lhe o senhor: Servo mau, pela tua mesma boca te julgo. Sabias que eu sou um homem austero, que tiro donde não pus, e recolho o que não semeei;
23 logo, porque não puseste o meu dinheiro num banco, para que, quando eu viesse, o recebesse com os juros?
24 Depois disse aos que estavam presentes: Tirai-lhe o marco de prata, e dai-o ao que tem dez.
25 Eles responderam-Ihe: Senhor, ele já tem dez.
26 Pois eu vos digo que a todo aquele que tiver, se lhe dará; mas ao que não tem, será tirado ainda mesmo o que tem.
27 Quanto, porém, àqueles meus inimigos, que não quiseram que eu fosse seu rei, trazei-os aqui, e degolai-os na minha presença.
28 Dito isto, ia Jesus adiante subindo para Jerusalém.
29 Aconteceu que, quando chegou perto de Belfagé e de Betânia junto do monte chamado das Oliveiras, enviou dois dos seus discípulos,
30 dizendo: "Ide a essa aldeia, que está fronteira; entrando nela, encontrareis um jumentinho alado, em que nunca montou pessoa alguma; desprendei-o e trazei-o.
31 Se alguém vos perguntar porque o soltais, dir-lhe-eis: Porque o Senhor tem necessidade dele."
32 Partiram, pois, os que tinham sido enviados, e encontraram tudo como o Senhor lhes dissera.
33 Quando desprendiam o jumentinho, disseram-lhes os seus donos: "Porque soltais vós esse jumentinho?"
34 Eles responderam: "Porque o Senhor tem necessidade dele."
35 Levaram-no a Jesus. E, lançando sobre o jumentinho os seus mantos, fizeram-no montar em cima.
36 Á sua passagem, as multidões estendiam os seus mantos no caminho.
37 Quando já ia chegando à descida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos seus discípulos começou alegremente a louvar a Deus em altas vozes por todas as maravilhas que tinham visto.
38 dizendo: "Bendito o rei que vem em nome do Senhor! (Ps. 117, 26). Paz no céu e gloria nas alturas!"
39 Então alguns dos fariseus que se achavam entre o povo, disseram-lhe: "Mestre, repreende os teus discípulos."
40 Mas ele respondeu-lhes: "Digo-vos que, se eles se calarem, clamarão as mesmas pedras."
41 Quando chegou perto, ao ver a cidade, chorou sobre ela, dizendo:
42 "Se ao menos neste dia, que te é dado, tu também conhecesses o que te pode trazer a paz!... Mas agora isto está encoberto aos teus olhos.
43 Porque virão para ti dias em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, te sitiarão, te apertarão por todos os lados,
44 derribarão por terra a ti e aos teus filhos, que estão dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo em que foste visitada."
45 Tendo entrado no templo, começou a expulsar os que vendiam nele,
46 dizendo-lhes: "Está escrito: A minha casa é casa de oração (Is. 56, 7); e vós fizestes dela um covil de ladrões (Je. 7, 11)."
47 Todos os dias ensinava no templo. Mas os príncipes dos sacerdotes, os escribas, e os chefes do povo procuravam perdê-lo;
48 porém, não sabiam como proceder, porque todo o povo estava suspenso, quando o ouvia.
Capítulo 20 Ver capítulo
1 Num daqueles dias, estando Jesus no templo ensinando o povo e anunciando a boa nova, juntaram-se os príncipes dos sacerdotes e os escribas com os de Jesus, anciães,
2 e falaram-lhe neste termos: "Diz-nos com que direito fazes tu estas coisas, ou quem te deu tal autoridade?"
3 Jesus respondeu: "Também eu vos farei uma pergunta. Respondei-me:
4 O baptismo de João era do céu ou dos homens?"
5 Mas eles discorriam dentro de si: "Se dissermos: do céu, dirá: Por que razão pois, não creste nele?
6 Se dissermos dos homens, todo o povo nos apedrejará, porque está convencido que João era um profeta."
7 Responderam, pois, que não sabiam donde era.
8 Jesus, disse-lhes: "Nem eu vos direi com que autoridade faço estas coisas."
9 Começou a dizer ao povo esta parábola: "Um homem plantou uma vinha, arrendou-a a uns vinhateiros, e ausentou-se para longe durante muito tempo.
10 No tempo próprio, enviou um servo aos vinhateiros, para que lhe dessem a sua parte do fruto da vinha. Eles, porém, depois de lhe terem batido, reenviaram-no com as mãos vazias.
11 Tornou a enviar outro servo. Mas eles, tendo também batido neste, e carregando-o de afrontas, o despediram sem nada.
12 Tornou a enviar ainda terceiro. E eles, ferindo-o, deitaram fora também a este.
13 Disse então o senhor da vinha: Que hei-de fazer? Mandarei meu filho amado; talvez lhe guardarão respeito.
14 Mas, quando os vinhateiros o viram, discorreram entre si, dizendo: Este é o herdeiro, matemo-lo, e será nossa a herança.
15 E, lançando-o fora da vinha, mataram-no. Que lhes fará, pois, o senhor da vinha?
16 Virá e acabará de todo com aqueles vinhateiros, e dará a vinha a outros." Tendo eles ouvido isto, disseram: "Deus tal não permita !"
17 Jesus, olhando para eles, disse: "Pois que quer dizer isto que está escrito: A pedra que os edificadores desprezaram, tornou-se pedra angular? (Ps. 117, 22).
18 Todo o que cair sobre aquela pedra, será quebrado; e sobre quem ela cair, será esmagado."
19 Os príncipes dos sacerdotes e os escribas procuravam lançar-lhe as mãos naquela hora, mas temeram o povo. Compreenderam bem que esta parábola tinha sido dita contra eles.
20 Não o perdendo de vista, mandaram espias que se disfarçassem em homens de bem, para o apanharem no que dizia, a fim de o poderem entregar à autoridade e ao poder do governador.
21 Estes interrogaram-no, dizendo: "Mestre, sabemos que falas e ensinas rectamente, que não fazes acepção de pessoas, mas que ensinas o caminho de Deus com verdade.
22 É-nos permitido dar o tributo a César ou não ?"
23 Jesus, conhecendo a sua astúcia, disse-lhes:
24 "Mostrai-me um dinheiro. De quem é a imagem e a inscrição que tem ?" Responderam : "De César."
25 Ele disse-lhes: "Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus."
26 Não puderam surpreendê-lo em qualquer palavra diante do povo. Admirados da sua resposta, calaram-se.
27 Aproximaram-se depois alguns saduceus, que negam a ressurreição, e fizeram-lhe a seguinte pergunta:
28 "Mestre, Moisés deixou-nos escrito: Se morrer o irmão de algum, tendo mulher, e não deixar filhos, case-se com ela o seu irmão, para dar descendência ao seu irmão (Dt. 25,5-6).
29 Ora havia sete irmãos. O primeiro casou, e morreu sem filhos.
30 Casou também o segundo com a viúva, e morreu sem filhos.
31 Casou depois com ela o terceiro. E assim sucessivamente todos os sete, e morreram sem deixar filhos.
32 Morreu enfim também a mulher, depois de todos eles.
33 Na ressurreição, de qual deles será ela mulher, pois que o foi de todos sete?"
34 Jesus disse-lhes: "Os filhos deste século casam e são dados em casamento,
35 mas os que forem julgados dignos do século futuro e da ressurreição dos mortos, nem os homens desposarão mulheres, nem as mulheres homens,
36 porque não poderão jamais morrer; porquanto são semelhantes aos anjos, e são filhos de Deus, visto serem filhos da ressurreição.
37 Que os mortos hajam de ressuscitar, o mostrou também Moisés a propósito da sarça, quando chamou ao Senhor o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacob (Ex. 3,6).
38 Ora Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, porque para ele, todos são vivos."
39 Alguns dos escribas disseram-lhe: "Mestre, falaste bem"
40 Dali em diante, não se atreveram mais a interrogá-lo.
41 Jesus disse-lhes: "Como dizem que o Cristo é filho de David?
42 Quàndo o mesmo David, no livro dos Salmos (109,1), diz: Disse o Senhor ao meu Senhor; Senta-te à minha direita,
43 até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés.
44 Se David, pois, lhe chama Senhor, como pode ele ser seu filho?"
45 Depois, ouvindo-o todo o povo, Jesus disse aos seus discípulos:
46 "Guardai-vos dos escribas, que gostam de andar com vestidos compridos, de ser saudados nas praças, de ocupar as primeiras cadeiras nas sinagogas, e os primeiros lugares nos banquetes;
47 que devoram as casas das viúvas, a pretexto de longas orações. Estes receberão uma condenação mais severa."
Capítulo 21 Ver capítulo
1 Levantando Jesus os olhos, viu vários ricos que lançavam as suas oferendas no gazofilácio.
2 Viu também uma viúva pobrezinha, que lançava duas pequenas moedas.
3 E disse: "Na verdade vos digo que esta pobre viúva lançou mais que todos os outros.
4 Porque todos esses fizeram a Deus oferta do que lhes sobejava; ela, porém, deu da sua mesma indigência tudo O que tinha para viver."
5 Dizendo alguns, a respeito do templo, que estava ornado de belas pedras e de ricas ofertas, Jesus disse;
6 "De tudo isto que vedes, virão dias em que não ficará pedra sobre pedra, que não seja demolida."
7 Então interrogaram-no: "Mestre, quando acontecerão estas coisas, e que sinal haverá, quando estiverem para acontecer?"
8 Ele respondeu: "Vede, não vos deixeis enganar; porque muitos virão com o meu nome, dizendo: Sou eu, está próximo o tempo. Não os sigais.
9 Quando ouvirdes falar de guerras e de tumultos, não vos assusteis; estas coisas devem suceder primeiro; mas não será logo o fim."
10 Depois disse-lhes: "Levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino.
11 Haverá grandes terremotos por várias partes, pestes e fomes; aparecerão coisas espantosas, e extraordinários sinais no céu.
12 Mas antes de tudo isto, lançar-vos-ão as mãos, e vos perseguirão, entregando-vos nas sinagogas, nas prisões, e vos levarão à presença dos reis e dos governadores, por causa do meu nome.
13 Isto vos será ocasião de dardes testemunho.
14 Gravai, pois, nos vossos corações o não premeditar como vos haveis de defender,
15 porque eu vos darei uma linguagem e uma sabedoria, à qual não poderão resistir, nem contradizer todos os vossos inimigos.
16 Sereis entregues por vossos pais, irmãos, parentes, e amigos e farão morrer muitos de vós;
17 e sereis aborrecidos de todos por causa de meu nome;
18 mas não se perderá um cabelo da vossa cabeça.
19 Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas.
20 Mas quando virdes que Jerusalém é sitiada por exércitos, então sabei que está próxima a sua desolação.
21 Os que então estiverem na Judeia, fujam para os montes; os que estiverem no meio da cidade, retirem-se; os que estiverem nos campos, não entrem nela;
22 porque estes são dias de vingança, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas.
23 Aí das mulheres grávidas, e das que amamentarem naqueles dias! porque haverá grande angústia sobre a terra, e ira contra este povo.
24 Cairão ao fio da espada, serão levados cativos a todas as nações, e Jerusalém será calcada pelos gentios, até se completarem os tempos dos gentios.
25 Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra haverá consternação dos povos pela confusão do bramido do mar e das ondas,
26 morrendo os homens de susto, na expectação do que virá sobre todo o mundo, porque as virtudes dos céus se abalarão.
27 Então verão o Filho do homem vir sobre uma nuvem com grande poder e majestade.
28 Quando começarem, pois, a suceder estas coisas, erguei-vos, levantai as vossas cabeças, porque está próxima a vossa libertação.
29 Acrescentou esta comparação: Vede a figueira e todas as árvores.
30 Quando começam a desabrochar, conheceis que está perto o estio.
31 Assim, também, quando virdes que acontecem estas coisas, sabei que está próximo o reino de Deus,
32 Em verdade vos digo que não passará esta geração, sem que todas estas coisas se cumpram.
33 Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.
34 Velai, pois, sobre vós, para que não suceda que os vossos corações se tornem pesados com as demasias do comer e do beber, com os cuidados desta vida, e para que aquele dia vos não apanhe de improviso;
35 porque ele virá como um laço sobre todos os que habitam sobre a face de toda a terra.
36 Vigiai, pois, orando sem cessar, a fim de que vos torneis dignos de evitar todos estes males que devem suceder, e de aparecer com confiança diante do Filho do homem."
37 Jesus estava de dia ensinando no templo, mas ao anoitecer saía para passar a noite no monte, que se chamava das Oliveiras.
Capítulo 22 Ver capítulo
1 Aproximava-se a festa dos ázimos, chamada Páscoa.
2 Os príncipes dos sacerdotes e os escribas procuravam modo de matar Jesus; porém temiam o povo.
3 Ora Satanás entrou em Judas, que tinha por sobrenome Iscariotes, um dos doze,
4 o qual foi combinar com os príncipes dos sacerdotes e com os oficiais de que modo lho entregaria.
5 Eles ficaram contentes, e combinaram com ele dar-lhe dinheiro.
6 Judas deu a sua palavra, e buscava ocasião oportuna de lho entregar sem tumulto.
7 Chegou o dia dos ázimos, no qual se devia imolar a Páscoa.
8 Jesus enviou Pedro e João, dizendo: "Ide, preparai-nos a refeição pascal."
9 Eles perguntaram: "Onde queres que a preparemos?"
10 Ele disse-Ihes: "Logo que entrardes na cidade, sair-vos-á ao encontro um homem levando uma bilha de água; segui-o até à casa em que entrar;
11 e direis ao dono da casa: O Mestre manda-te dizer: Onde está o aposento em que hei-de comer a Páscoa com os meus discípulos?
12 Ele vos mostrará uma grande sala toda ornada; preparai aí o que for preciso."
13 Indo eles, encontraram tudo como Jesus Ihes dissera; e prepararam a Páscoa.
14 Chegada a hora, pôs-se Jesus à mesa com os Apóstolos, e
15 disse-lhes: "Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de sofrer,
16 porque vos digo que não mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus."
17 Tendo tomado o cálice, deu graças, e disse: "Tomai e distribuí-o entre vós,
18 porque vos declaro que não tornarei a beber do fruto da vide, até que chegue o reino de Deus."
19 Depois tomou o pão, deu graças, partiu, e deu-lho, dizendo: "Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim.
20 Tomou da mesma sorte o cálice, depois de cear, dizendo: "Este cálice é a nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vós.
21 Entretanto, eis que a mão de quem me há-de entregar está à mesa comigo.
22 Na verdade, o Filho do homem vai, segundo o que está decretado, mas, ai daquele homem, por quem será entregue!"
23 Eles começaram a perguntar entre si qual deles seria o que haveria de fazer tal coisa.
24 Levantou-se também entre eles uma contenda sobre qual deles se devia considerar o maior.
25 Jesus, porém, disse-lhes: "Os reis das nações dominam sobre elas, e os que têm autoridade sobre elas chamam-se benfeitores.
26 Não assim entre vós, mas o que entre vós é o maior, faça-se como mais pequeno, e o que governa, seja como o que serve.
27 Porque, qual é maior, o que está à mesa, ou o que serve? Não é maior o que está sentado à mesa? Pois eu estou no meio de vós como um que serve.
28 Vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tribulações.
29 Por isso eu preparo o reino para vós, como meu Pai o preparou para mim,
30 para que comais e bebais à minha mesa, no meu reino, e vos senteis sobre tronos a julgar as doze tribos de Israel.
31 Simão, Simão, eis que Satanás vos busca com instância para vos joeirar como trigo;
32 mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, conforta os teus irmãos."
33 Pedro disse-Ihe: "Senhor, eu estou pronto a ir contigo para a prisão e para a morte."
34 Jesus, porém, disse-lhe: Digo-te, Pedro, que não cantará hoje o galo, sem que tu, por três vezes, me tenhas negado que me conheces." Depois disse-lhes:
35 "Quando eu vos mandei sem bolsa, sem alforge, sem sandálias, faltou-vos porventura alguma coisa?"
36 Eles responderam: "Nada." Disse-Ihes, pois: "Mas agora quem tem bolsa, tome-a, e também alforge, quem não tem espada venda o seu manto, e compre uma.
37 Porque vos digo que é necessário que se cumpra em mim isto que está escrito: Foi posto entre os malfeitores (Is. 53,12), Porque as coisas que me dizem respeito estão perto do seu cumprimento."
38 Eles responderam; "Senhor, eis aqui duas espadas." Jesus disse-lhes: "Basta."
39 Tendo saído, foi, segundo o seu costume, para o monte das Oliveiras. Seus discípulos o seguiram.
40 Quando chegou àquele lugar, disse-lhes: "Orai, para não cairdes em tentação."
41 Afastou-se deles a distância de um tiro de pedra; e, posto de joelhos, orava,
42 dizendo: "Pai, se é do teu agrado, afasta de mim este cálice; não se faça, contudo, a minha vontade, mas a tua."
43 Então apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava. Posto em agonia orava mais instantemente.
44 O seu suor tornou-se como gotas de sangue, que corriam até à terra.
45 Tendo-se levantado da oração, e indo ter com seus discípulos, encontrou-os adormecidos pela tristeza.
46 Disse-lhes: "Porque dormis? Levantai-vos, e orai, para que não entreis em tentação."
47 Estando ele ainda falando, eis que chega um tropel de gente. Aquele que se chamava Judas, um dos doze, vinha à frente. Aproximou-se de Jesus para o abraçar.
48 Jesus disse-lhe: "Judas! com um beijo entregas o Filho do homem?"
49 Os que estavam com Jesus, vendo o que ia acontecer, disseram-lhe: "Senhor, se os feríssemos à espada?"
50 E um deles feriu um servo do Sumo Pontífice, e cortou-lhe a orelha direita.
51 Mas Jesus, tomando a palavra, disse: "Deixai, basta." E, tendo-lhe tocado a orelha, o sarou.
52 Disse depois Jesus aos príncipes dos sacerdotes, aos oficiais do templo, e aos anciães que tinham vindo contra ele: "Viestes armados de espadas e de varapaus como contra um ladrão.
53 Quando eu estava todos os dias convosco no templo, nunca estendestes a mão contra mim; porém, esta é a vossa hora, e o poder das trevas."
54 Prendendo-o, levaram-no a casa do príncipe dos sacerdotes. Pedro seguia-o de longe.
55 Tendo acendido fogo no meio do pátio, e, sentando-se em roda, estava também Pedro sentado no meio deles.
56 Uma criada, vendo-o sentado ao lume, e fixando-o bem, disse: "Este estava também com ele."
57 Mas Pedro o negou, dizendo: "Mulher, eu não o conheço."
58 Daí a pouco, vendo-o outro, disse-lhe: "Tu também és um deles." Pedro disse: " Ó homem, não sou."
59 Passado o intervalo quase de uma hora, um outro dizia com insistência: "Certamente que este também estava com ele, pois é galileu."
60 Pedro respondeu: "Ó homem, não sei o que dizes." Imediatamente, quando ele ainda falava, o galo cantou;
61 e, tendo-se voltado, o Senhor olhou para Pedro. Pedro então lembrou-se da palavra que lhe tinha sido dita pelo Senhor: "Antes que o galo cante, me negarás três vezes."
62 E, tendo saído para fora, chorou amargamente.
63 Os homens, que guardavam Jesus, escarneciam dele e feriam-no.
64 Vendaram-lhe os olhos, e interrogavam-no: "Adivinha, quem é que te deu?"
65 E proferiam muitas outras injúrias contra ele.
66 Quando foi dia, juntaram-se os anciães do povo, os príncipes dos sacerdotes, e os escribas. Levaram-no ao seu tribunal, e disseram-lhe: "Se tu és o Cristo, dize-no-lo."
67 Ele respondeu-lhes: "Se eu vo-lo disser, não me acreditareis;
68 também se vos fizer qualquer pergunta, não me respondereis, nem me dareis liberdade.
69 Mas, no futuro, estará sentado o Filho do homem à direita do poder de Deus."
70 Então disseram todos: "Logo tu és o Filho de Deus?" Ele respondeu: "Vós o dizeis, eu o sou."
71 Então eles disseram: "Que mais testemunho nos é necessário? Nós mesmos o ouvimos da sua boca."
Capítulo 23 Ver capítulo
1 Levantando-se toda a multidão, levaram-no a Pilatos.
2 Começaram a acusá-lo, dizendo: "Encontrámos este homem sublevando a nossa nação, proibindo dar tributo a César, e dizendo que é o Cristo Rei."
3 Pilatos interrogou-o: "Tu és o rei dos Judeus?" Ele, respondendo, disse: "Tu o dizes."
4 Então Pilatos disse aos príncipes dos sacerdotes e ao povo: "Não encontro neste homem crime algum."
5 Porém eles insistiam, cada vez mais, dizendo: "Ele subleva o povo, ensinando por toda a Judeia, desde a Galileia, oude começou, até aqui."
6 Pilatos, ouvindo falar da Galileia, perguntou se aquele homem era galileu.
7 Quando soube que era da jurisdição de Herodes, remeteu-o a Herodes, que, naqueles dias, se encontrava também em Jerusalém.
8 Herodes, tendo visto Jesus, teve grande alegria, porque havia muito tempo tinha desejo de o ver, por ter ouvido dele muitas coisas, e esperava ver-lhe fazer algum milagre.
9 Fez-lhe muitas perguntas. Mas ele nada lhe respondeu.
10 Estavam presentes os príncipes dos sacerdotes e os escribas, acusando-o com grande insistência.
11 Herodes com os seus guardas desprezou-o, fez escárnio dele, mandando-o vestir com uma vestidura branca, e tornou-o a enviar a Pilatos.
12 Naquele dia, ficaram amigos Herodes e Pilatos; porque antes eram inimigos um do outro.
13 Pilatos, tendo chamado os príncipes dos sacerdotes, os magistrados e o povo,
14 disse-lhes: "Vós apresentaste-me este homem como amotinador do povo; ora, interrogando-o eu diante de vós, não encontrei nele culpa alguma daquelas de que o acusais.
15 Nem Herodes tão-pouco, porque no-lo remeteu. Nada lhe foi encontrado que mereça morte.
16 Por isso soltá-lo-ei depois de castigado."
17 (Ora Pilatos era obrigado a soltar-lhes, pela festa (da Páscoa), um preso.)
18 Mas todo o povo exclamou a uma voz, dizendo : "Faz morrer este, e solta-nos Barrabás;
19 o qual tinha sido preso por causa de uma sedição levantada na cidade, e por homicidio.
20 Pilatos, que desejava livrar Jesus, falou-lhes de novo.
21 Eles, porém, tornaram a gritar: "Crucifica-o, crucifica-o!"
22 Ele disse-lhes terceira vez: "Mas, que mal fez ele? Não encontro nele causa alguma de morte; castigá-lo-ei, pois, e o soltarei."
23 Eles, porém, insistiam em altos gritos que fosse crucificado ; e os seus clamores iam crescendo.
24 Pilatos, pois, decretou que se executasse o que eles pediam.
25 Soltou-lhes aquele que tinha sido preso por causa de sedição e de homicídio, como eles reclamavam; e abandonou Jesus ao arbítrio deles.
26 Quando o iam conduzindo, agarraram um certo Simão Cireneu, que voltava do campo; e puseram a cruz sobre ele, para que a levasse após de Jesus.
27 Seguia-o uma grande multidão de povo e de mulheres, que batiam no peito, e o lamentavam.
28 Porém Jesus, voltando-se para elas, disse : "Filhas de Jerusalém, não choreis sobre mim, mas chorai sobre vós mesmas e sobre vossos filhos.
29 Porque eis que virá tempo em que se dirá: Ditosas as estéreis, os seios que não geraram, e os peitos que não amamentaram.
30 Então começarão os homens a dizer aos montes : Caí sobre nós; e aos outeiros : Cobri-nos (Os. 10,8). 31 Porque, se isto se faz no lenho verde, que se fará no seco?"
31 Eram também levados com Jesus outros dois, que eram malfeitores, para serem mortos.
33 Quando chegaram ao lugar que se chama Calvário, ali o crucificaram a ele e aos ladrões, um à direita e outro à esquerda.
34 Jesus dizia: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem ." Dividindo os seus vestidos, sortearam-nos (S. 21,19).
35 O povo estava observando. Os príncipes dos sacerdotes ( com o povo ) o escarneciam, dizendo: "Salvou os outros, salve-se a si mesmo, se é o Cristo, o escolhido de Deus."
36 Insultavam-no também os soldados, os quais, aproximando-se dele e oferecendo-lhe vinagre,
37 diziam : "Se és o rei dos Judeus, salva-te a ti mesmo."
38 Estava também por cima da sua cabeça uma inscrição : Este é o rei dos Judeus.
39 Um daqueles ladrões, que estavam pendurados, blasfemava contra ele, dizendo: "Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e a nós."
40 O outro, porém, tomando a palavra, repreendia-o, dizendo: "Nem tu temes a Deus, estando no mesmo suplício?"
41 Nós estamos na verdade justamente, porque recebemos o castigo que merecem as nossas acções, mas este não fez nenhum mal.
42 E dizia a Jesus: "Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino."
43 Jesus disse-lhe: "Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no paraíso."
44 Era então quase a hora, sexta, e toda a terra ficou coberta de trevas até à hora nona;
45 escureceu-se o sol, e rasgou-se pelo meio o véu do templo.
46 Jesus, exclamando em alta voz, disse: "Pai, nas tuas mãos encomendo o meu espírito (S. 30,6)." Dizendo isto, expirou.
47 O centurião, vendo o que tinha acontecido, glorificou a Deus, dizendo : "Na verdade este homem era justo."
48 E toda a multidão que assistia a este espectáculo, e via o que sucedia, retirava-se, batendo no peito.
49 Todos os conhecidos de Jesus, e as mulheres que o tinham seguido desde a Galileia, estavam de longe observando estas coisas.
50 Então um homem, chamado José, que era membro do Sinédrio, varão bom e justo,
51 que não tinha concordado com a determinação dos outros, nem com os seus actos, oriundo de Arimateia, cidade da Judeia, que também esperava o reino de Deus,
52 foi ter com Pilatos, e pediu-lhe o corpo de Jesus.
53 Tendo-o descido da cruz, envolveu-o num lençol, e depositou-o num sepulcro aberto na rocha, no qual ainda ninguém tinha sido sepultado,
54 Era o dia da Preparação, e o sábado ia começar.
55 Ora as mulheres, que tinham ido da Galileia com Jesus, indo atrás de José, observaram o sepulcro, e de que modo o corpo de Jesus fora nele depositado.
56 Voltando, prepararam aromas e bálsamos. No sábado, estiveram em repouso, segundo a lei.
Capítulo 24 Ver capítulo
1 No primeiro dia da semana, foram muito cedo ao sepulcro, levando os aromas que tinham preparado.
2 Encontraram revolvida a pedra do sepulcro,
3 Entrando, não encontraram o corpo do Senhor Jesus.
4 Aconteceu que, estando consternadas por isso, eis que apareceram junto delas dois homens com vestidos resplandecentes.
5 Estando elas medrosas e com os olhos no chão, disseram-lhes: "Porque buscais entre os mortos o que está vivo?
6 Ele não está aqui, ressuscitou. Lembrai-vos do que ele vos disse, quando estava na Galileia:
7 Importa que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, seja crucificado, ressuscite ao terceiro dia."
8 Então lembraram-se das suas palavras.
9 Tendo voltado do sepulcro, contaram todas estas coisas aos onze, e a todos os outros.
10 As que referiam aos Apóstolos estas coisas eram Maria Madalena, Joana, Maria, mãe de Tiago, e as outras, que estavam com elas.
11 Mas estas palavras pareciam-lhes como que um delírio, e não lhes deram crédito.
12 Todavia Pedro, levantando-se, correu ao sepulcro. Inclinando-se, viu só os lençóis ( por terra), e retirou-se, admirando consigo mesmo o que sucedera.
13 No mesmo dia, caminhavam dois deles para uma aldeia, chamada Emaús, que estava à distância de Jerusalém sessenta estádios.
14 Iam falando um com o outro sobre tudo o que se tinha passado.
15 discorrendo entre si, aproximou-se deles o próprio Jesus, e caminhou com eles.
16 Os seus olhos, porém, estavam como que fechados, de modo que não o reconheram.
17 Ele disse-Ihes: "Que conversas são essas que ides tendo pelo caminho, porque estais tristes?
18 Respondeu um deles, chamado Cléofas: "Só tu és forasteiro em Jerusalém, e não sabes o que ali se tem passado estes dias?"
19 Ele disse-lhes: "Que é?" Responderam : "Sobre Jesus Nazareno, que foi um profeta, poderoso em obras e em palavras, diante de Deus e de todo o povo;
20 e de que maneira os nossos príncipes dos sacerdotes e os nossos magistrados o entregaram para ser condenado à morte, e o crucificaram.
21 Ora nós esperávamos que ele fosse o que havia de resgatar Israel; depois de tudo isto, é já hoje o terceiro dia, depois que estas coisas sucederam.
22 É bem verdade que algumas mulheres, das que estavam entre nós, nos sobressaltaram, porque, ao amanhecer, foram ao sepulcro,
23 e, não tendo encontrado o seu corpo, voltaram dizendo que tinham tido uma aparição de anjos, os quais disseram que ele está vivo.
24 Alguns dos nossos foram ao sepulcro e acharam que era assim como as mulheres tinham dito; mas não o encontraram.
25 Então Jesus disse-lhes: "Ó estultos e tardos do coração para crer tudo o que anunciaram os profetas
26 Porventura não era necessário que o Cristo sofresse tais coisas, para entrar na sua glória?"
27 Em seguida, começando por Moisés, e discorrendo por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se encontrava dito em todas as Escrituras.
28 Aproximaram-se da aldeia, para onde caminhavam. Jesus fingiu que ia para mais longe.
29 Mas eles o constrangeram, dizendo: "Fica connosco, porque faz-se tarde, e o dia declina." Entrou para ficar com eles.
30 Estando com eles à mesa, tomou o pão, o benzeu, partiu, e lho deu.
31 Abriram-se os seus olhos, e reconheceram-no; mas ele desapareceu.
32 Disseram então um para o outro: "Não é verdade que nós sentíamos abrasar-se-nos o coração, quando ele nos falava pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?"
33 Levantando-se na mesma hora, voltaram para Jerusalém. Encontraram juntos os onze, e os que estavam com eles,
34 os quais diziam : "Na verdade o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão."
35 E eles contaram também o que lhes tinha acontecido no caminho, e como o tinham reconhecido ao partir o pão.
36 Enquanto falavam nisto, apresentou-se Jesus no meio deles, e disse-lhes: "A paz seja convosco."
37 Mas eles, turbados e espantados, julgavam ver algum espirito.
38 Jesus disse-lhes: "Porque estais turbados, e que pensamentos são esses que vos sobem aos corações?
39 Olhai para as minhas mãos e pés, porque sou eu mesmo; apalpai, e vede, porque um espírito não tem carne, nem ossos, como vós vedes que eu tenho."
40 Dito isto, mostrou-lhes as mãos e os pés.
41 Mas, não crendo eles ainda e estando fora de si com a alegria que sentiam, perguntou-lhes: "Tendes aqui alguma coisa que se coma?"
42 Eles apresentaram-lhe uma posta de peixe assado e um favo de mel.
43 Tendo-os tomado comeu-os à vista deles.
44 Depois disse-Ihes: "Isto é que eu vos dizia, quando ainda estava convosco, que era necessário que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, nos profetas e nos salmos."
45 Então abriu-lhes o entendimento, para compreenderem as Escrituras;
46 e disse-lhes: "Assim está escrito, e assim era necessário que o Cristo padecesse e ressuscitasse dos mortos ao terceiro dia,
47 e que em seu nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém.
48 Vós sois as testemunhas destas coisas.
49 Eu vou mandar sobre vós o que meu Pai prometeu. Entretanto permanecei na cidade, até que sejais revestidos da virtude do alto."
50 Depois levou-os até cerca de Betânia, e levantando as suas mãos, os abençoou,
51 Enquanto os abençoava, separou-se deles, e elevava-se ao céu.
52 Eles, depois de se haverem prostrado diante dele, voltaram para Jerusalém com grande júbilo.