Eclesiástico - Livro Completo
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Capítulo 1 Ver capítulo

1 Toda a sabedoria vem do Senhor Deus, e com ele esteve sempre e existe antes de todos os séculos.

2 A areia do mar, as gotas da chuva e os dias do tempo, quem os pode contar? A altura do céu, e a extensão da terra, e a profundidade do abismo, quem os pode medir?

3 Quem pode penetrar a sabedoria de Deus a qual precede todas as coisas?

4 A sabedoria foi criada antes de tudo, e a luz da inteligência existe desde a eternidade.

5 A fonte da sabedoria é o Verbo de Deus nos céus e os seus caminhos são os mandamentos eternos.

6 A quem foi descoberta a raiz da sabedoria, e quem conheceu os seus profundos desígnios? A quem foi revelada e manifestada a ciência da sabedoria? E quem compreende a multiplicidade dos seus passos?

8 Um só, que é o altíssimo Criador omnipotente, rei poderoso, sumamente terrível, que está assentado sobre o seu trono, Deus dominador.

9 Foi ele que a criou no Espírito Santo, e que a viu, contou e mediu.

10 Ele a difundiu por todas as suas obras e por toda a carne, segundo a medida da sua liberalidade, e a comunicou aos que o amam.

11 O temor do Senhor é glória e honra, alegria e coroa de regozijo.

12 O temor do Senhor deleita o coração, e dará alegria, gozo e larga vida.

13 Aquele que teme ao Senhor encontrar-se-á bem no fim, será abençoado no dia da sua morte.

14 O amor de Deus é uma sabedoria digna de ser honrada.

15 Aqueles a quem ela se manifesta, amam-na logo que a vêem, desde que reconhecem as maravilhas que opera.

16 O princípio da sabedoria é o temor do Senhor. Forma-se com os homens fiéis no ventre de sua mãe, anda com as mulheres (santas e) escolhidas, vê-se em companhia dos justos e dos fiéis.

17 O temor do Senhor é a religião da ciência.

18 Esta religião guarda e santifica o coração, dá-lhe satisfação e alegria.

19 Quem teme o Senhor encontrar-se-á bem no dia da sua morte será abençoado.

20 O temor de Deus é a plenitude da sabedoria, e os seus frutos saciam (o que a possui).

21 Ele encherá toda a casa (do sábio) com os seus produtos, e os celeiros com os seus tesouros.

22 O temor do Senhor é a coroa da sabedoria: ele dá a plenitude da paz e frutos de salvação.

23 Ele viu a sabedoria e contou-a; ambas as coisas são um dom de Deus.

24 A sabedoria espalha a ciência e a luz da prudência, e exalta a glória dos que a possuem.

25 A raiz da sabedoria é temer ao Senhor; os seus ramos são de muita dura.

26 Nos tesouros da sabedoria acham-se a inteligência e a religião da ciência; mas para os pecadores a sabedoria é uma coisa execrável.

27 O temor do Senhor expulsa o pecado:

28 quem não tem este temor não poderá ser justo, porque a sua cólera será a sua ruína.

29 O homem paciente sofrerá até um certo tempo, e depois ser-lhe-á dada a alegria.

30 O homem de bom senso reterá em si mesmo as suas palavras até ao devido tempo, e os lábios de muitos publicarão a sua prudência.

31 Sábias sentenças estão encerradas nos tesouros da sabedoria; o pecador, porém, detesta o culto de Deus.

33 Filho, tu que desejas ardentemente a sabedoria observa os mandamentos, e Deus ta dará.

34 Porque o temor do Senhor é a sabedoria e a disciplina,

35 e o que lhe agrada é a fé e a mansidão; ele encherá os tesouros daquele (que as possui).

36 Não sejas rebelde ao temor do Senhor, e não te aproximes dele com um coração dobre.

37 Não sejas hipócrita diante dos homens, e não te sejam os teus lábios motivo de queda.

38 Tem cuidado com eles para que não caias e não desonres a tua alma,

39 para que Deus não descubra os teus segredos, e não te lance a terra no meio da assembleia,

40 por te teres aproximado do Senhor com disposição maligna, e por teres tido o teu coração cheio de dolo e de engano.

Capítulo 2 Ver capítulo

1 Meu filho, se entrares no serviço de Deus, persevera firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a prova.

2 Humilha o teu coração e tem paciência, inclina o teu ouvido e recebe as palavras da sabedoria, e não te precipites no tempo do infortúnio.

3 Sofre as demoras de Deus; conserva-te unido a Deus, espera pacientemente, para que no fim a tua vida cresça.

4 Aceita (de boamente) tudo o que te suceder, aguenta-te no sofrimento, no tempo da humilhação tem paciência,

5 porque no fogo se prova o ouro e a prata, e os homens amados (de Deus provam-se) no cadinho da humilhação.

6 Confia em Deus, e ele te salvará, dirige bem o teu caminho e espera nele; conserva o seu temor até à velhice.

7 Vós, os que temeis o Senhor, esperai a sua misericórdia e não vos desvieis dele, para não cairdes.

8 Vós, os que temeis o Senhor, tende fé nele, e não se perderá a vossa recompensa.

9 Vós, os que temeis o Senhor, esperai nele: para vossa consolação virá sobre vós a sua misericórdia.

10 Vós, os que temeis o Senhor, amai-o, e os vossos corações serão alumiados.

11 Considerai, filhos, as gerações humanas, e sabei que ninguém, que esperou no Senhor, foi confundido.

12 Quem permaneceu firme nos seus mandamentos, e foi desamparado? Ou quem o invocou, e foi dele desprezado?

13 Porque Deus é bom e misericordioso, e perdoará os pecados no dia da tribulação; ele é o protector de todos os que o buscam em verdade.

14 Ai do coração dobre, dos lábios criminosos, das mãos que fazem o mal, do pecador que anda sobre a terra por dois caminhos!

15 Ai dos fracos de coração, que não confiam em Deus. Coragem: e que, por isso, não serão protegidos por ele!

16 Ai dos que perderam a paciência, que deixaram os caminhos rectos e se extraviaram por veredas malignas!

17 Que farão eles, quando o Senhor começar a examinar (tudo)?

18 Os que temem o Senhor não são incrédulos à sua palavra, e os que o amam continuam no seu caminho.

19 Os que temem o Senhor procuram o que lhe é agradável, e os que o amam saciam-se da sua lei.

20 Os que temem o Senhor preparam os seus corações, e santificam as suas almas na sua presença.

21 Os que temem o Senhor, guardam os seus mandamentos, e têm paciência até que lance os olhos sobre eles, dizendo: Se não fizermos penitência, cairemos nas mãos do Senhor, e não nas mãos dos homens.

22 Porque, na medida em que é elevada a sua grandeza, assim o é a sua misericórdia.

Capítulo 3 Ver capítulo

1 Os filhos da sabedoria foram assembleia dos justos, e o povo que constituem e obediência e amor (de Deus).

2 Ouvi, filhos, os preceitos do vosso pai, e procedei assim para que sejais salvos.

3 Porque Deus quis honrar o pai pelos filhos e firmou cuidadosamente sobre eles a autoridade da mãe.

4 O que ama a Deus implorará o perdão dos seus pecados, e se absterá de tornar a cair neles, e será ouvido na sua oração de todos os dias.

5 Como quem acumula tesouros, assim é aquele que honra sua mãe.

6 O que honra seu pai encontrará alegria nos seus filhos, e será atendido no dia da sua oração.

7 O que honra seu pai viverá uma vida larga: e consola sua mãe quem obedece a seu pai.

8 O que teme O Senhor honra seus pais; e servirá, como a senhores, aos que o geraram.

9 Honra teu pai por acções, por palavras e com toda a paciência,

10 para que venha sobre ti a sua bênção, e esta bênção permaneça contigo até ao fim,

11 A bênção do pai torna firmes as casas dos filhos, e a maldição da mãe deita-as abaixo pelos alicerces.

12 Não te glories com aquilo que desonra teu pai porque a sua ignomínia não é glória para ti.

13 Com efeito, a glória do homem provém da honra de seu pai, e um pai sem honra é a vergonha de seu filho.

14 Filho, ampara a velhice de teu pai não o entristeças durante a sua vida.

15 Se o seu espírito se for enfraquecendo, suporta-o não o desprezes por teres mais vigor do que ele pois a caridade exercida com teu pai, não ficará no esquecimento.

16 Serás recompensado por teres suportado os defeitos de tua mãe:

17 a tua casa prosperará na justiça, e no dia da tribulação (Deus) se lembrará de ti; os teus pecados se desfarão como o gelo em pleno sol.

18 Como é infame aquele que desampara o seu pai! E como é amaldiçoado de Deus o que exaspera sua mãe!

19 Filho, leva ao cabo as tuas obras com mansidão, e atrairás não só a estima, mas também o amor dos homens.

20 Quanto maior és, mais te deves humilhar em todas as coisas, e acharás graça diante de Deus;

21 Porque só o poder de Deus é que é grande, e é pelos humildes que ele é honrado. Não procures saber o que excede a tua capacidade, e não especules o que ultrapassa as tuas forças (intelectuais), mas pensa sempre no que Deus te mandou, e não tenhas a curiosidade de conhecer demasiado número das suas obras.

23 Porque não te é necessário ver com os teus olhos o que está escondido.

24 Não te apliques a esquadrinhar com ânsia as coisas inúteis, e não tenhas a curiosidade de conhecer demasiado número das obras de Deus.

25 De facto, muitas coisas te foram reveladas, que excedem o espírito humano.

26 A muitos enganaram as suas opiniões, e o seu sentir reteve-os na vaidade.

27 O coração duro será oprimido de males no fim (da vida); aquele que ama o perigo perecera nele.

28 O coração que anda por dois caminhos, não será bem sucedido, e o depravado de coração achará neles a sua ruína.

29 O coração perverso será oprimido de dores, e o pecador ajuntará pecados sobre pecados.

30 A assembleia dos soberbos é incurável, porque a planta do pecado se arreigará neles, sem que o notem.

31 O coração do sábio manifesta-se pela sabedoria, e o ouvido dos bons escuta a sabedoria com grande avidez.

32 O coração sábio e inteligente abstém-se do pecado, e é bem sucedido nas obras de justiça.

33 A água apaga o fogo ardente, e a esmola resiste aos pecados.

34 Deus contempla aquele que pratica a misericórdia e lembra-se dele para o futuro, e (assim, o misericordioso) no tempo da desgraça encontrará um apoio.

Capítulo 4 Ver capítulo

1 Filho, não prives o pobre da sua esmola, não apartes dele os teus olhos. Não desprezes aquele que tem fome, nem exasperes o pobre na sua necessidade.

3 Não aflijas o coração do desventurado, e não retardes a esmola ao necessitado.

4 Não rejeites a petição do atribulado, nem voltes a cara ao pobre.

5 Não afastes os teus olhos do indigente, para que não se irrite, nem dês ocasião, aos que te pedem, de te amaldiçoar por trás,

6 porque será ouvida a imprecação daquele que te amaldiçoa na amargura da sua alma; o seu Criador o ouvirá. Mostra-te afável no ajuntamento dos pobres; humilha a tua alma diante dum ancião; abaixa a tua cabeça diante dos grandes.

8 Aplica o teu ouvido ao pobre, sem enfado, paga a tua dívida, dá-lhe mansamente uma resposta serena.

9 Livra da mão do soberbo o que padece injúria, e, quando julgares (uma causa), não o faças com aspereza.

10 (No julgar) sê misericordioso com os órfãos como um pai, e como um marido para com a sua (pobre) mãe,

11 e serás como um filho obediente do Altíssimo, que se compadecerá de ti, mais do que uma mãe.

12 A sabedoria infunde vida a seus filhos, toma debaixo da sua protecção os que a buscam, vai adiante deles no caminho da justiça.

13 O que a ama, ama a vida, e os que fazem vigílias para a encontrar gozarão da sua doçura.

14 Aqueles que a possuírem, terão a vida (eterna) por herança, e onde ela entrar, Deus abençoará tudo.

15 Os que a servem, serão obedientes ao Santo, e Deus ama os que a amam.

16 Aquele que a ouve, julgará as nações, e o que tem os olhos fixos nela permanecerá seguro.

17 Se tiver confiança nela, herdá-la-á, e a sua posse será confirmada em seus filhos.

18 Porque ela anda com ele na prova, e o escolhe entre os primeiros.

19 Ela fará vir sobre ele o temor, o medo e a prova; atormentá-lo-á com a tribulação da sua disciplina, até que o experimente nos seus pensamentos, e se fie na sua alma.

20 Então ela o porá firme, encaminhar-se-á directamente a ele, enchê-lo-á de alegria,

21 descobrir-lhe-á os seus segredos, e o enriquecerá com um tesouro de ciência e de inteligência da justiça.

22 Porém, se ele se extraviar, ela o abandonará e o entregará nas mãos do seu inimigo.

23 Filho, aproveita o tempo, foge do mal.

24 Não te envergonhes de dizer a verdade, para bem da tua alma.

25 Há vergonha que faz cair em pecado, e há vergonha que traz consigo glória e graça.

26 Não faças acepção de pessoas com prejuízo teu nem mintas à custa da tua alma.

27 Não respeites o teu próximo na tua queda.

28 Não retenhas a palavra quando ela pode ser salutar. Não escondas a tua sabedoria pela tua vaidade.

29 Com efeito, a sabedoria dá-se a conhecer pela língua; o bom senso, a ciência e a doutrina mostram-se na palavra do homem cordato; a firmeza (manifesta-se) nas obras de justiça.

30 Não contradigas de modo algum a verdade; confunde-te da mentira em que tenhas caído por ignorância.

31 Não te envergonhes de confessar os teus pecados, mas não te submetas a ninguém que te leve a pecar.

32 Não resistas cara a cara ao homem poderoso, não te oponhas à corrente do rio.

33 Combate pela justiça para (salvares) a tua vida, peleja até à morte pela justiça, e Deus combaterá por ti contra os teus inimigos.

34 Não sejas precipitado em falar, e (ao mesmo tempo) remisso e negligente nas tuas obras.

35 Não sejas como um leão na tua casa, fazendo tropelias contra os teus domésticos e oprimindo os teus súbditos.

36 A tua mão não esteja aberta para receber, e fechada para dar.

Capítulo 5 Ver capítulo

1 Não te fies nas riquezas iníquas e não digas: eu tenho bastante com que viver — porque de nada te aproveitará isto no dia do castigo e da escuridão. Não te abandones, quando te sentires forte, aos maus desejos do teu coração.

3 e não digas: Como sou poderoso! Quem poderá obrigar-me a dar contas das minhas acções? Com efeito Deus exercerá a sua vingança.

4 Não digas; Eu pequei; e que mal me veio dai ? — porque o Altíssimo é lento em punir (os crimes).

5 Não estejas sem temor da ofensa que te foi perdoada, e não ajuntes pecados sobre pecados.

6 Não digas; A misericórdia do Senhor é grande, ele se compadecerá da multidão dos meus pecados.

7 Porque a sua misericórdia e a sua ira estão perto uma da outra, e a sua ira olha para os pecadores.

8 Não tardes em te converter ao Senhor, não o difiras de dia para dia,

9 porque virá de improviso a sua ira, e no dia do castigo te perderá.

10 Não andes inquieto por (amor de) riquezas injustas, porque elas não te aproveitarão no dia do castigo e da escuridão.

11 Não te voltes a todo o vento, e não andes por todos os caminhos. porque é assim que todo o pecador de língua dobre se dá a conhecer.

12 Se firme no caminho do Senhor, na sinceridade dos teus sentimentos e conhecimentos, e que a palavra de paz e de justiça te acompanhe sempre.

13 Sê manso para ouvir a palavra, a fim de que a entendas; então darás com sabedoria uma resposta justa.

14 Se tens inteligência, responde ao teu próximo; se não, põe a tua mão sobre a tua boca, para que te não suceda ser surpreendido numa palavra indiscreta e cair em confusão,

15 A honra e a glória acompanham o falar do homem sensato, mas a língua do imprudente é a sua ruína.

16 Que ninguém te chame intriguista, e que não te venha a tua língua a ser um laço e um motivo de confusão.

17 Porque sobre o ladrão virão a confusão e o arrependimento, e sobre a língua dobre uma nota de infâmia; ao mexeriqueiro (estão reservados) o ódio, a inimizade e a contumélia.

18 Faze igualmente justiça aos pequenos e aos grandes.

Capítulo 6 Ver capítulo

1 De amigo não te tornes inimigo do teu próximo, porque o mau terá por sorte a vergonha e a ignomínia, como todo o pecador invejoso e de língua dobre.

2 Não te eleves como um touro no pensamento do teu coração, para não suceder que a tua loucura quebre a tua força,

3 consuma as tuas folhas e perca os teus frutos, e tu venhas a ficar como uma árvore seca no deserto.

4 A alma maligna perderá aquele que a tem, torná-lo-á a alegria dos seus inimigos. e conduzi-lo-á à sorte dos ímpios.

5 A palavra doce multiplica os amigos e amansa os inimigos; a linguagem amável abunda no homem bom.

6 Dá-te bem com muitos, mas seja teu conselheiro um entre mil.

7 Se queres ter um amigo, toma-o depois de o teres provado, e não te fies facilmente nele.

8 Com efeito, há tal amigo que somente o é quando nisso acha a sua conveniência, e que deixará de o ser no dia da tribulação.

9 E há amigo que se muda em inimigo; e há amigo que porá a descoberto ódios, disputas e rixas;

10 e há amigo que só o é para a mesa, e que o não será no dia da necessidade.

11 Se o teu amigo perseverar firme, será para ti como um igual, tratará à vontade com os da tua casa.

12 Se ele se humilhar diante de ti e se apagar na tua presença, terás uma amizade excelente na união dos corações.

13 Separa-te dos teus inimigos, e está alerta com os teus amigos.

14 O amigo fiel é uma forte protecção; quem o encontrou, encontrou um tesouro.

15 Nada se pode comparar com um amigo fiel, e o ouro e a prata não merecem ser postos em balança com a sinceridade da sua fé.

16 O amigo fiel é uma medicina de vida e de imortalidade; os que temem o Senhor acharão um tal amigo.

17 O que teme a Deus será, por isso mesmo, feliz na amizade, porque o seu amigo será semelhante a ele.

18 Filho, desde a tua mocidade recebe a Instrução, e adquirirás uma sabedoria que te dure até à velhice,

19 Aproxima-te da sabedoria, como o que lavra e semeia, e espera os seus bons frutos.

20 Trabalharás (apenas) um pouco na sua cultura, e depressa comerás dos seus frutos.

21 Quão excessivamente áspera é a sabedoria para os néscios! Não permanecerá junto dela o insensato.

22 Será para eles como uma pedra pesada que serve para provar, e não tardarão em se descarregarem dela.

23 Porque a sabedoria que instrui é como o seu nome, não se manifesta a muitos (à maioria das pessoas); mas naqueles que a conhecem, permanece até (os levar) à presença de Deus.

24 Ouve, filho, recebe uma sábia advertência, não rejeites o meu conselho.

25 Mete os teus pés nos seus grilhões, e o teu pescoço nas suas cadelas.

26 Baixa o teu ombro, leva-a às costas, e não te aborreças com as suas prisões.

27 Aproxima-te dela de todo o teu coração, guarda os seus caminhos com todas as tuas forças.

28 Segue os seus vestígios, e ela se te manifestará; quando já a possuíres, não a deixes,

29 porque nela encontrarás, no fim, o teu descanso,e ela se converterá para ti em gosto.

30 Os seus grilhões serão para ti uma forte protecção e um firme apoio, as suas cadeias um vestido de glória:

31 nela está realmente uma beleza que dá a vida, e os seus vínculos são ligaduras que saram.

32 Tu te revestirás dela como duma veste de glória, e a porás sobre ti como uma coroa de regozijo.

33 Filho, se me deres atenção, aprenderás, e, se aplicares o teu espírito, serás sábio.

34 Se me ouvires, receberás a instrução, e se fores amigo de ouvir, serás sábio.

35 Frequenta a reunião dos velhos prudentes, une-te de coração à sua sabedoria; a fim de poderes ouvir tudo o que te disserem de Deus, e de não te escaparem as suas louváveis sentenças.

36 Se vires um homem sensato, madruga para ir ter com ele, e gastem os teus pés os degraus da sua porta.

37 Fixa a tua atenção nos preceitos de Deus medita continuamente os seus mandamentos, que ele mesmo te dará um coração (firme no bem), e ser-te-á dada a desejada sabedoria.

Capítulo 7 Ver capítulo

1 Não faças o mal, e o mal não cairá, sobre ti.

2 Retira-te da injustiça, e a injustiça se afastará de ti.

3 Filho, não semeies males nos sulcos da injustiça, para não recolheres sete vezes mais.

4 Não peças ao Senhor o cargo de conduzir outros, nem ao rei um posto de honra.

5 Não te tenhas por justo diante de Deus, porque ele conhece o (fundo do) coração, e não pretendas parecer sábio diante do rei.

6 Não procures ser juiz, se não tens coragem para despedaçar as injustiças, não vá acontecer que temas à vista do poderoso, e te exponhas a proceder contra a equidade.

7 Não ofendas a multidão duma cidade; não te metas entre o tumulto do povo;

8 não ates um segundo pecado ao primeiro, porque, nem ainda por um só, ficarás impune.

9 Não te deixes cair no desânimo.

10 nem te descuides de fazer oração e dar esmola.

11 Não digas: Deus atenderá à multidão das minhas dádivas, e, oferecendo eu os meus dons ao Deus altíssimo, ele os receberá com agrado.

12 Não escarneças do homem cuja alma está em amargura; porque Deus, que tudo vê, é quem humilha e exalta.

13 Não inventes mentiras contra teu irmão, nem tampouco o faças contra o teu amigo.

14 Não queiras proferir mentira alguma; porque o acostumar-se a isso é mau.

15 Não sejas verboso na assembleia dos anciães nem multipliques as palavras nas tuas orações.

16 Não aborreças as obras penosas, nem o trabalho do campo, criado pelo Altíssimo.

17 Não te alistes entre a turba das pessoas indisciplinadas.

18 Lembra-te da ira (de Deus) que não tardará.

19 Humilha profundamente o teu espírito, porque a carne do ímpio será castigada com o fogo e com o verme.

20 Não faças mal a um teu amigo, porque difere dar-te o dinheiro, nem desprezes pelo ouro um teu irmão querido.

21 Não te separes da mulher sensata e virtuosa. que recebeste por sorte no temor do Senhor, porque a graça da sua modéstia é mais preciosa que o ouro.

22 Não trates mal o servo que trabalha com fidelidade, nem o mercenário que todo se dá a servir-te.

23 O servo sensato seja querido de ti como a tua alma, não lhe negues a liberdade (que ele merece), e não o deixes cair na pobreza.

24 Tens gados? Cuida deles; se te são úteis, conserva-os.

25 Tens filhos? Educa-os e acostuma-os à sujeição desde a sua infância.

26 Tens filhas? Vela pela pureza dos seus corpos, e não lhes mostres o teu rosto demasiado jovial. Casa a tua filha, e terás arrumado um assunto importante; dá-a a um homem de bom senso.

28 Se tens mulher segundo o teu coração, não a repudies; e não confies na que é odiosa.

29 De todo o teu coração honra teu pai, e não te esqueças dos gemidos de tua mãe.

30 Lembra-te que não terias nascido sem eles, e faze por eles o que eles fizeram por ti.

31 Teme o Senhor com toda a tua alma, e venera os seus sacerdotes.

32 Ama com todas as tuas forças aquele que te criou, e não desampares os seus ministros.

33 Honra a Deus de toda a tua alma, respeita os sacerdotes, e purifica-te, oferecendo as espáduas.

34 Dá-lhes a sua parte das primícias e das vítimas de expiação, como te é mandado: purifica-te das tuas negligências com pequenas ofertas;

35 oferece ao Senhor as espáduas das vítimas, os sacrifícios de santificação e as primícias das coisas santas.

36 Estende a tua mão para o pobre, a fim de que o teu sacrifício de expiação e a tua oferta sejam perfeitos.

37 Dá graciosamente a todos os vivos, e não recuses os teus dons aos mortos.

38 Não deixes de consolar os que choram, e acompanha (na sua dor) os aflitos.

39 Não sejas preguiçoso em visitar os enfermos, porque é assim que tu te fortificarás na caridade,

40 Em todas as tuas obras lembra-te do teu fim, e nunca jamais pecarás.

Capítulo 8 Ver capítulo

1 Não litigues com um homem poderoso, para que não suceda que lhe caias nas mãos.

2 Não contendas com o homem rico, para que não suceda que te mova algum processo,

3 porque o ouro e a prata têm perdido muitos, e o seu poder chega até a desencaminhar o coração dos reis.

4 Não disputes com o grande falador, e não meterás mais lenha no seu fogo.

5 Não tenhas trato com o homem mal educado, para que não suceda falar mal dos teus antepassados.

6 Não desprezes o homem que se retira do pecado, não o censures (pelo mal que fez antes): lembra-te que todos nós somos dignos de castigo. Não desprezes nenhum homem na sua velhice, porque alguns de entre nós envelhecerão também.

8 Não te regozijes com a morte do teu inimigo; considera que todos nós havemos de morrer e que não queremos que haja regozijo por isso.

9 Não desprezes o que contarem os velhos sábios, mas faze com que te sejam familiares as suas sentenças :

10 deles aprenderás a sabedoria, os ensinamentos da inteligência e a arte de servir os grandes de um modo irrepreensível.

11 Não deixes de ouvir o que contam os velhos, porque eles o aprenderam de seus pais;

12 deles aprenderás a inteligência e a arte de responder oportunamente.

13 Não acendas os carvões dos pecadores, arguindo-os. para que não sejas abrasado na chama do fogo dos seus pecados.

14 Não resistas, cara a cara, a um homem insolente, para que não suceda que ele se ponha a armar laços às tuas palavras,

15 Não emprestes a um homem mais poderoso do que tu, porque, se lhe emprestares, faze de conta que o perdeste.

16 Não fiques por fiador em mais do que podem as tuas forças, porque, se ficares, considera-te obrigado a pagar.

17 Não arrazoes contra um juiz, porque ele julga o que supõe ser justo.

18 Não te metas a uma viagem com homem temerário, para que não suceda que ele faça recair sobre ti os seus males; com efeito, ele anda segundo a sua (caprichosa) vontade, e tu perecerás com ele pela sua loucura.

19 Não tenhas rixas com o homem colérico, e com o temerário não vás a um lugar solitário, porque para ele nada vale o sangue, e, longe de todo o socorro, te esmagará.

20 Não te aconselhes com loucos, porque eles não poderão amar senão o que lhes apraz.

21 Não deliberes diante dum estranho, porque não sabes o que ele poderá conceber.

22 Não descubras o teu coração a qualquer homem, para que não suceda que te mostre uma falsa amizade e te ultraje.

Capítulo 9 Ver capítulo

1 Não sejas cioso da mulher que repousa no teu seio, para que não empregue contra ti a malícia que lhe ensinaste.

2 Não dês à mulher poder sobre a tua alma. para que não usurpe a tua autoridade, e fiques envergonhado.

3 Não olhes para a mulher volúvel, para não caíres nos seus laços.

4 Não andes muito com uma bailarina, nem a ouças, para não pereceres à força dos seus atractivos.

5 Não detenhas os teus olhos sobre uma donzela. para que a sua beleza não te seja ocasião de queda.

6 Nunca entregues a tua alma às prostitutas, para que te não percas a ti e aos teus bens. Não deixes errar os olhos pelas ruas da cidade, nem andes vagueando pelas suas praças.

8 Afasta os teus olhos da mulher enfeitada, e não olhes com insistência para a formosura alheia.

9 Por causa da formosura da mulher pereceram muitos, e por ela se acende a concupiscência como fogo.

10 Toda a mulher devassa será pisada como esterco no caminho.

11 Muitos, por terem admirado a formosura da mulher alheia, se tornaram réprobos, porque a sua conversação queima como fogo.

12 Não te assentes jamais com a mulher alheia, nem te recostes com ela à mesa:

13 não a incites a beber vinho (contigo) para que não suceda que o teu coração se converta para ela e que a tua paixão te faça cair na perdição.

14 Não deixes o amigo antigo, porque o novo não será semelhante a ele.

15 O amigo novo é um vinho novo; quando se fizer velho, (então) o beberás com gosto.

16 Não invejes a glória nem as riquezas do pecador, porque não sabes qual será a sua ruína.

17 Não te agrade a violência dos injustos, sabendo que até à sepultura não agradará o ímpio (a Deus).

18 Conserva-te longe daquele homem que tem poder de mandar matar, e assim não saberás o que é temer a morte.

19 Mas, se te aproximares dele, vê não cometas algum mal, donde possa resultar tirar-te a vida.

20 Sabe que comunicas com a morte, porque caminhas no meio de laços, e andas sobre as armas de homens irritados.

21 Segundo as tuas forças acautela-te do teu próximo, e trata com os sábios e prudentes.

22 Os teus convivas sejam homens justos; no temor de Deus esteja posta a tua glória;

23 ocupe o teu espírito o pensamento de Deus, e toda a tua conversação verse sobre os preceitos do Altíssimo.

24 Os artistas são louvados pelas obras das suas mãos, o príncipe do povo pela sabedoria dos seus discursos, e os velhos pela prudência das suas palavras.

25 É terrível na sua cidade o homem linguareiro. e o precipitado nas suas palavras será aborrecido.

Capítulo 10 Ver capítulo

1 O juiz sábio fará justiça ao seu povo, e o governo do homem sensato será estável.

2 Qual o juiz do povo, tais os seus ministros; qual o governador da cidade, tais os seus habitantes.

3 O rei pouco sensato perderá o seu povo, e as cidades povoar-se-ão pelo bom senso dos governantes.

4 O domínio sobre um pais está na mão de Deus, e ele é que, a seu tempo, suscitará um governador útil.

5 A prosperidade do homem está na mão de Deus, e é ele que põe o sinal da sua honra sobre a fronte do escriba.

6 Esquece-te de todas as injúrias que recebeste do teu próximo, e não faças nada por via de violência. A soberba é aborrecida por Deus e pelos homens, e toda a iniquidade das nações é execrável.

8 Um reino é transferido dum povo para outro, por causa das injustiças, das violências, dos ultrajes e de diversos enganos.

9 Não há coisa mais criminosa do que o avarento. Por que se ensoberbece a terra e a cinza?

10 Não há coisa mais iníqua do que amar o dinheiro; o que o ama venderia até a sua alma, visto que se despojou, em vida, das próprias entranhas.

11 A vida de todo o potentado é breve. A doença prolongada fatiga o médico.

12 O médico atalha a doença de pouca dura; assim um que hoje é rei, amanhã morrerá.

13 Quando morrer o homem, terá por herança as serpentes, os bichos, os vermes.

14 O princípio da soberba do homem é renegar a Deus,

15 porque o seu coração afasta-se daquele que o criou, porque o princípio de todo o pecado é a soberba. Aquele que se entrega a ela, será cheio de maldições, e ela por fim será a sua ruína.

16 Por isso é que o Senhor cobriu de opróbrios as assembleias dos maus, e as destruiu para sempre.

17 Deus destruiu os tronos dos chefes soberbos, e em seu lugar colocou os mansos.

18 Deus fez secar as raízes das nações soberbas, e plantou os que eram humildes dentre as mesmas nações.

19 O Senhor destruiu as terras das nações, e as arruinou até aos alicerces.

20 Mirrou muitas delas e destruiu-as, e fez apagar a sua memória de cima da terra.

21 Deus aboliu a memória dos soberbos, e conservou a dos humildes de coração. A soberba não foi criada com o homem, nem a ira com os nascidos das mulheres.

23 A descendência do homem, que teme a Deus, será honrada, porém aquela que transgride os mandamentos do Senhor, será desonrada.

24 Entre os irmãos, a honra é para o que governa; na presença do Senhor, serão honrados aqueles que o temem.

25 A glória dos ricos, dos nobres e dos pobres, é o temor de Deus.

26 Não desprezes o homem justo, ainda que pobre, e não glorifiques o pecador, ainda que rico.

27 O grande, o juiz e o poderoso gozam de honra; porém ninguém é tão grande como aquele que teme a Deus.

28 Os homens livres sujeitar-se-ão a um servo prudente; o homem prudente e educado não murmurará quando for repreendido, e o ignorante não será honrado.

29 Não te orgulhes do trabalho que fazes, e não te abandones à preguiça no tempo da adversidade.

30 Vale mais o que trabalha e que tudo tem em abundância, do que o jactancioso que não tem pão.

31 Filho, conserva a tua alma na mansidão, e dá-lhe a honra que ela merece.

32 Quem justificará o que peca contra a sua alma? E quem honrará o que desonra a sua vida?

33 O pobre encontra a glória na sua ciência e no seu temor (de Deus); há quem seja (apenas) respeitado por causa das suas riquezas.

34 Ora o que é glorificado na pobreza, quanto mais o seria nas riquezas? Mas o que baseia a sua glória nas riquezas, tema a pobreza.

Capítulo 11 Ver capítulo

1 A sabedoria do humilde exaltará a sua cabeça, e o fará assentar no meio dos grandes.

2 Não louves o homem pela sua beleza; nem o desprezes pelo seu aspecto.

3 Pequena é a abelha entre os animais voláteis, e contudo o seu fruto é o primeiro na doçura.

4 Não te vanglories jamais das tuas vestes, nem te desvaneças no dia da tua honra, porque só as obras do Altíssimo são admiráveis, gloriosas, misteriosas, invisíveis.

5 Muitos príncipes (homens anteriormente humildes) assentaram-se sobre o trono, e alguém, em quem se não pensava, levou o diadema.

6 Muitos poderosos foram profundamente humilhados; e homens ilustres foram entregues nas mãos de outros.

7 Não vituperes ninguém, antes de te haveres informado, e, quando te tiveres informado, repreende com equidade.

8 Antes de ouvir, não respondas nada. e enquanto outro fala não o interrompas.

9 Não disputes sobre coisas que não te dizem respeito, e não te assentes com os pecadores para julgar.

10 Filho, não empreendas muitos negócios, porque, se fores rico, não estarás isento de culpa. Se empreenderes muitas coisas, não poderás abrangê-las, e, por mais diligência que faças, não poderás dar saída a todas.

11 Há ímpio que trabalha, se dá pressa e se atormenta, mas, quanto mais faz, menos enriquece.

12 Há homem sem vigor, que necessita de amparo, falto de forças e abundante em miséria,

13 mas a quem Deus olha benignamente levanta da sua humilhação e exalta a cabeça: muitos se maravilharam dele e deram glória a Deus.

14 Os bens e os males, a vida e a morte, a pobreza e as riquezas, tudo isto vem de Deus.

15 É em Deus que se encontram a sabedoria, a instrução e a ciência da lei. A caridade e as boas obras nele residem.

16 O erro e as trevas foram criados com os pecadores; os que se comprazem no mal, no mal envelhecem.

17 O dom de Deus permanece nos justos, e o seu progresso assegura sucesso eterno.

18 Há quem enriqueça, vivendo com parcimónia, e toda a parte da sua recompensa

19 consiste em dizer: Encontrei repouso, e agora comerei sozinho dos meus bens.

20 (Esse) não considera que o tempo passa, que a morte se avizinha, e que, morrendo, deixará tudo aos outros.

21 Mantém-te firme na tua aliança (com Deus), ocupa-te sempre dela, e envelhece na prática do que te foi mandado.

22 Não te detenhas nas obras dos pecadores, mas confia em Deus e persevera no teu trabalho.

23 Com efeito a Deus é fácil o enriquecer de repente o pobre.

24 A bênção de Deus apressa-se a recompensar o justo, e em pouco tempo o faz crescer e frutificar.

25 Não digas : De que preciso eu? Que bens poderei esperar daqui em diante?

26 Não digas : Basta-me o que tenho; que mal posso temer para o futuro?

27 No dia da felicidade não esqueças a desgraça, e no dia da desgraça não esqueças a felicidade.

28 Porque é fácil a Deus, no dia da morte, dar a cada um segundo as suas obras.

29 O mal presente faz esquecer grandes delícias; no fim do homem serão descobertas as suas obras.

30 Não louves nenhum homem antes da morte, porque um homem conhece-se pelos filhos que deixa.

31 Não introduzas em tua casa toda a sorte de pessoas, porque são muitos os embustes do doloso.

32 Assim como sai um hálito fétido dum estômago estragado, assim como a perdiz é metida na gaiola, e a cabra montesa no laço, assim é também o coração do soberbo, assim é aquele que está espiando para ver a queda do seu próximo.

33 Ele arma ciladas, convertendo o bem em mal, e põe mácula nas coisas mais puras.

34 Uma só faísca produz um incêndio; um só doloso derrama muito sangue, e o homem pecador arma traições para o derramar.

35 Evita o homem corrompido, pois está forjando males, para que não faça cair sobre ti uma perpétua infâmia.

36 Dá entrada em tua casa ao estrangeiro, e te derrubará num torvelinho, e te tornará estranho aos teus.

Capítulo 12 Ver capítulo

1 Se fizeres bem, sabe a quem o fazes, e receberás gratidão pelos teus benefícios. Faze bem ao justo, e receberás uma grande recompensa, se não dele, pelo menos do Senhor.

3 Não há nada de bom para aquele que sempre faz o mal, e que não dá esmolas, porque o Altíssimo aborrece os pecadores e usa de misericórdia com os penitentes.

4 Dá ao bondoso, e não protejas o pecador, porque (Deus) dará o castigo aos ímpios e aos pecadores, guardando-os para o dia da vingança.

5 Dá ao que é bom, e não acolhas o pecador.

6 Faze bem ao humilde, e não dês ao ímpio; impede que se lhe dê pão, a fim de se não tornar deste modo mais poderoso do que tu, porque acharás dobrado mal por todos os bens que lhe fizeres. O próprio Altíssimo aborrece também os pecadores, e pagará aos ímpios com o castigo.

8 Não é na prosperidade que o amigo se conhece, e o inimigo não ficará encoberto nas adversidades.

9 Quando um homem é feliz, estão tristes os seus inimigos; quando ele é desgraçado, conhece-se que é seu amigo.

10 Não te fies jamais no teu inimigo, porque a sua malícia é como o azebre que ataca o cobre.

11 Mesmo se ele todo humilhado vier cabisbaixo, põe-te alerta e guarda-te dele.

12 Não o ponhas junto de ti, nem ele se assente à tua direita, para que não suceda que ele se volte para o teu lugar, para ocupar a tua cadeira, e que, reconhecendo, por fim, a verdade das minhas palavras, te sintas compungido pela recordação dos meus avisos.

13 Quem se compadecerá do encantador ferido pela serpente e de todos os que se aproximam das feras ? o mesmo acontecerá com aquele que acompanha com o homem iníquo e que se encontra envolvido em seus pecados.

14 Permanecerá contigo uma hora, mas, se caíres em decadência, não te suportará.

15 O inimigo tem sobre os lábios a doçura, mas no seu coração arma laços para te fazer cair na cova.

16 O inimigo tem lágrimas nos olhos. mas, se encontrar ocasião, não se fartará de (teu) sangue.

17 Se vierem sobre ti os males, verás que ele é a sua primeira origem.

18 O inimigo tem lágrimas nos olhos, mas, fingindo socorrer-te, procurará fazer-te cair.

19 Abanará a cabeça, baterá palmas, e, falando muito entre dentes, mudará de semblante.

Capítulo 13 Ver capítulo

1 O que tocar o pez, ficará manchado dele; o que trata com o soberbo, revestir-se-á de soberba.

2 Impõe-se uma pesada carga o que trata com outro mais poderoso que ele; (por isso) não te associes com o que é mais rico do que tu.

3 Como se associará uma panela (de barro) com um caldeirão? Quando estes vasos derem um no outro, ela se quebrará.

4 O rico faz uma injustiça, e (ainda por cima) solta clamores; o pobre, porém, maltratado, guarda silêncio.

5 Enquanto lhe fores útil, utilizará os teus serviços; quando não valeres nada, abandonar-te-á.

6 Se tens, fará convivência contigo, e te esgotará sem nenhuma pena ter de ti.

7 Se lhe fores necessário, ele te enganará, e, sorrindo-se, te dará boas esperanças; falando-te com boas palavras, dir-te-á: De que necessitas tu ?

8 Confundir-te-á com os seus banquetes, até que te esgote em duas ou três vezes (que o convides), e, por último, zombará de ti; depois, vendo-te, abandonar-te-á e abanará a cabeça escarnecendo de ti.

9 Humilha-te diante de Deus, e espera (que) a sua mão (obre).

10 Tem cuidado, não te deixes seduzir para que não caias numa loucura que te humilhe.

11 Não te humilhes na tua sabedoria, não suceda que este abaixamento te arraste para a loucura.

12 Se fores chamado por algum grande, retira-te, porque isso o excitará mais a chamar-te.

13 Não lhe sejas importuno, para que ele se não desgoste de ti; e não te afastes demasiado, para que te não esqueça.

14 Não pretendas falar com ele, como se fosses seu igual, nem te fies nas suas muitas palavras, porque ele te experimentará, fazendo-te falar muito, e, sorrindo, te interrogará sobre os teus segredos,

15 O seu coração desapiedado conservará todas as tuas palavras, e não te poupará, nem aos maus tratos, nem às prisões.

16 Tem cuidado contigo, e presta bem atenção aos teus ouvidos. pois andas em risco de te perder.

17 Mas, ouvindo essas coisas (as suas palavras), toma-as por um sonho, e vigiarás.

18 Ama a Deus durante toda a tua vida, e invoca-o para tua salvação.

19 Todo o ser vivo ama o seu semelhante; igualmente todo o homem ama o seu próximo.

20 Toda a carne se une à que se lhe assemelha, e todo o homem se une com o seu semelhante.

21 Quando o lobo tiver amizade com o cordeiro, então a terá o pecador com o justo.

22 Que relações pode ter um homem santo com um cão? Ou que sociedade pode ter um homem rico com um pobre?

23 O asno montês é a presa do leão no deserto; assim também os pobres são a presa dos ricos.

24 E, assim como a humildade é a abominação do soberbo, assim também o pobre é a execração do rico.

25 O rico, se for abalado, é sustido pelos seus amigos; mas o pobre, quando cai, será repelido até pelos seus amigos.

26 Se o rico se engana, tem muitos defensores; se fala com arrogância, justificam-no. Se o pobre se engana, ainda em cima é repreendido; se fala avisadamente, não fazem caso.

28 Se fala o rico, todos se calam, e exaltam até às nuvens as suas palavras.

29 Se fala o pobre, dizem: Quem é este? Se puser um pé em falso, acabá-lo-ão de derrubar.

30 As riquezas são boas para o que não tem pecado na sua consciência; a pobreza é péssima na boca do ímpio.

31 O coração do homem muda-lhe o rosto, quer para bem, quer para mal.

32 O sinal dum bom coração, que é um rosto satisfeito, encontra-se dificilmente e com trabalho.

Capítulo 14 Ver capítulo

1 Bem-aventurado o homem que não cometeu faltas com palavras da sua boca, e que não foi torturado pelos remorsos do pecado. Ditoso aquele que não teve tristeza na sua alma, e que não descaiu da sua esperança.

3 A riqueza é inútil ao homem cobiçoso e avaro; e de que serve o ouro ao homem invejoso?

4 O que amontoa riquezas, defraudando-se do necessário com injustiça, ajunta-as para outros, e outrem se regalará com os seus bens. Para quem será bom aquele que é mau para si? Nem ele goza dos seus bens.

6 Nada há pior do que aquele que é avaro para si mesmo: nisto está o salário da sua malícia. Se faz bem, é só por inadvertência e sem querer; e por último descobre a sua malícia.

8 O olho do invejoso é mau; ele volta o seu rosto e despreza a sua alma.

9 O olho do avaro não. se sacia com uma porção injusta; não se fartará, enquanto não tiver secado e consumido a sua vida.

10 O olho mau tende para o mal, e não se satisfará de pão, mas estará faminto e melancólico à sua própria mesa.

11 Filho, se tens posses, faze com elas bem a ti mesmo, e oferece a Deus dignas oblações.

12 Lembra-te que a morte não tarda, e que te foi intimado o ir para o sepulcro, porque é decreto deste mundo o ter infalivelmente de morrer.

13 Faze bem ao teu amigo antes da morte, e, estendendo a mão, dá esmola ao pobre, segundo as tuas posses.

14 Não te prives dum bom dia, e não deixes perder nenhuma parcela do bem que te é concedido.

15 Não vês que hás-de deixar a outros o fruto das tuas penas e dos teus trabalhos, para eles o repartirem, pela sorte, entre si ?

16 Dá, e recebe, e justifica a tua alma.

17 Pratica a justiça antes da tua morte. porque na sepultura não se vai procurar alimento.

18 Toda a carne envelhece como o feno, e como as folhas que crescem sobre as árvores verdes.

19 Umas folhas nascem, e outras caem: assim nas gerações de carne e de sangue; umas morrem e outras nascem.

20 Toda a obra corruptível virá enfim a perecer, e aquele que a fez irá com ela.

21 Toda a obra excelente será bem apreciada, e o que a executa, nela será honrado.

22 Bem-aventurado o homem que permanece constante na sabedoria. que medita na sua justiça, e que pensa, em seu coração, no olhar de Deus que vê tudo;

23 que repassa no seu coração os caminhos da sabedoria, e que penetra na inteligência dos seus segredos, indo atrás dela como quem lhe segue o rasto, e se detém sobre os seus caminhos:

24 que olha pelas suas janelas, que escuta à sua porta;

25 que repousa junto da sua casa, e que, pregando uma estaca nas suas paredes, assenta ao lado dela a sua pequena cabana, dentro da qual terão perpétua morada (todos) os bens.

26 Ele porá seus filhos debaixo da sua cobertura, e ele mesmo morará debaixo dos seus ramos.

27 À sua sombra será defendido do calor, e repousará na sua glória.

Capítulo 15 Ver capítulo

1 O que teme a Deus fará boas obras. e o que pratica a justiça possuirá a sabedoria;

2 ela lhe sairá ao encontro, qual mãe honorificada, e o acolherá como uma esposa virgem

3 Ela o sustentará do pão de vida e de inteligência, e lhe dará a beber da água da sabedoria salutar; e se fixará nele, e ele será constante.

4 Será o seu sustentáculo para que não seja confundido, e o exaltará entre os seus próximos.

5 Abrir-lhe-á a boca no meio da assembleia, enchê-lo-á de espírito de sabedoria e inteligência, e revesti-lo-á dum hábito de glória.

6 Acumulará sobre ele um tesouro de regozijo e alegria, e lhe dará por herança um nome eterno. Os homens insensatos não a alcançarão, mas os homens de bom senso encontrar-se-ão com ela. Os insensatos não a verão, porque ela está longe da soberba e do engano.

8 Os homens mentirosos não se lembrarão dela, mas os homens sinceros achar-se-ão com ela, e caminharão felizmente até à (hora da) visita de Deus.

9 O louvor não tem beleza na boca do pecador.

10 porque a sabedoria sai de Deus; o louvor de Deus acompanha a sabedoria, abunda na boca fiel; é o (soberano) Dominador que lho inspira.

11 Não digas: Deus é causa de estar longe de mim (a sabedoria); não faças tu o que ele aborrece (e tê-la-ás).

12 Não digas: Ele é que me transviou — porque não lhe são necessários os ímpios.

13 O Senhor aborrece todas as abominações do erro, e não amam tais coisas os que o temem.

14 Deus criou o homem desde o principio, e deixou-o na mão do seu conselho.

15 Deu-lhe mais os seus mandamentos e os seus preceitos.

16 Se quiseres observar os mandamentos e praticar sempre com fidelidade o que é agradável (a Deus), eles te guardarão.

17 Ele pôs diante de ti a água e o fogo; lança a tua mão ao que quiseres.

18 Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal; o que lhe agradar, isso lhe será dado.

19 porque a sabedoria de Deus é grande, e ele é forte no seu poder, e está vendo todos sem cessar.

20 Os olhos do Senhor estão sobre os que o temem, e ele mesmo conhece o proceder do homem.

21 Ele a ninguém mandou obrar impiamente, a ninguém deu permissão de pecar; porque ele não deseja ter uma multidão

22 de filhos infiéis e inúteis.

Capítulo 16 Ver capítulo

1 Não te regozijes com ter muitos filhos, se são ímpios, nem ponhas neles a tua complacência, se não têm temor de Deus.

2 Não tenhas confiança na (duração da) sua vida, nem contes com os seus trabalhos,

3 porque mais vale um (filho) temente a Deus, do que mil filhos ímpios.

4 É mais útil morrer sem filhos, do que deixar filhos ímpios.

5 Por um só homem de juízo será povoado um país, uma tribo de ímpios virá a ficar deserta.

6 Eu vi com os meus olhos muitos exemplos destes, e com os meus ouvidos ouvi outros ainda maiores.

7 O fogo acender-se-á na reunião dos pecadores, e a ira (de Deus) inflamar-se-á contra uma nação incrédula.

8 Não imploraram perdão dos seus pecados os antigos gigantes, que, confiados na sua força, foram destruídos.

9 Deus não perdoou ao lugar em que Lot morava, e detestou os seus habitantes, por causa da insolência das suas palavras.

10 Não teve compaixão deles, exterminou toda esta nação, que se ensoberbecia nos seus pecados.

11 Ele da mesma sorte (perdeu) os seiscentos mil homens de pé, que conspiraram entre si na dureza do seu coração; ainda que um só fora contumaz, seria grande maravilha, se tivesse ficado sem castigo.

12 Porque a misericórdia e a ira estão sempre com ele; é poderoso para perdoar, e também o é para derramar a sua ira;

13 os seus castigos igualam a sua misericórdia, julga o homem segundo as suas obras.

14 Não escapará (ao castigo) o pecador com as suas rapinas, e a paciência do que usa de misericórdia, não tardará em ser recompensada,

15 Toda a misericórdia preparará a cada um o seu lugar. segundo o merecimento das suas obras e segundo a sabedoria (com que tiver vivido) neste lugar de exílio.

16 Não digas: Esconder-me-ei de Deus; quem pensará em mim lá dos altos céus?

17 Eu não serei conhecido entre um tão grande povo; pois, que coisa é a minha alma entre tamanha multidão de criaturas?

18 Eis que o céu e o céu dos céus, o abismo, toda a extensão da terra e tudo o que neles se contém, tremerão à sua vista.

19 As montanhas, assim como os outeiros e os fundamentos da terra, quando Deus lhes puser os olhos, todos, a um tempo, serão abalados de terror.

20 E, no meio de tudo isto, ainda permanece insensato o coração (do homem); porém, todo o coração é visto por Deus.

21 Quem é que compreende os seus caminhos, e a tempestade, que a vista do homem nunca verá?

22 Com efeito, a maior parte das suas obras são ocultas. Mas quem poderá anunciar as obras da sua justiça? Quem as poderá suportar? Porquanto os seus decretos estão longe de alguns, e o exame de todas as coisas é no último dia.

23 O homem sem coração pensa em coisas vãs, e o imprudente e extraviado pensa (somente) em loucuras.

24 Ouve-me, filho, aprende o meu ensinamento e está atento em teu coração às minhas palavras,

25 Eu te darei instruções muito acertadas e te manifestarei os arcanos da sabedoria. Está atento em teu coração às minhas palavras, e te direi, com rectidão de espírito, as maravilhas que desde o princípio Deus fez brilhar nas suas obras, e te mostrarei com verdade a sua ciência.

26 Por decisão de Deus, existem desde o princípio, as suas obras; desde que as criou, distinguiu-as em partes, e (colocou) as principais delas segundo as suas épocas.

27 Adornou para sempre as suas obras; elas não sentiram fome nem fadiga, e nunca interromperam o seu trabalho.

28 Nunca nenhuma delas embaraçará a outra.

29 Não sejas incrédulo à palavra do Senhor.

30 Depois disto, olhou Deus para a terra, e a encheu dos seus bens.

31 Mostrou à sua superfície animais de todas as espécies, e é a ela que eles voltam.

Capítulo 17 Ver capítulo

1 Deus criou o homem da terra, e formou-o à sua imagem. E ele o fez de novo voltar à terra, Revestiu-o de força segundo a sua natureza.

3 Assinalou-lhe determinado tempo e número de dias, e deu-lhe poder sobre tudo o que há na terra.

4 Ele o fez ser temido de toda a carne, e deu-lhe o império sobre os animais e sobre as aves. Deu-lhe uma auxiliar semelhante a ele, da sua própria substância. Dotou-os de discernimento, língua, olhos, ouvidos, coração para pensar, e encheu-os de saber e inteligência.

6 Criou neles a ciência do espírito, encheu de sabedoria o seu coração, e mostrou-lhes os males e os bens. Pôs o seu olhar sobre os seus corações, para lhes fazer ver as maravilhas das suas obras,

8 a fim de que louvassem a santidade do seu nome, glorificando-o pelas suas maravilhas e publicando a magnificência das suas obras.

9 Deu-lhes, além disso, a instrução, e entregou-lhes em herança a lei da vida.

10 Fez com eles uma aliança eterna. e mostrou-lhes a sua justiça e os seus juízos.

11 Com os seus próprios olhos viram as grandezas da sua glória, e os seus ouvidos ouviram a majestade da sua voz. Ele disse-lhes: Guardai-vos de toda a iniquidade.

12 Impôs a cada um deveres para com o próximo.

13 O proceder deles está-lhe sempre presente, não escapa aos seus olhos.

14 A cada nação constituiu quem a governasse,

15 mas Israel foi visivelmente a porção (privilegiada) de Deus.

16 Todas as suas obras estão diante de Deus como o Sol, e os seus olhos estão sempre fixos no seu proceder.

17 As leis divinas não foram obscurecidas pela maldade deles, e todas as suas iniquidades estão diante do Senhor.

18 A esmola do homem é para Deus como um selo, e ele conserva a beneficência do homem como a menina dos olhos.

19 Levantar-se-á depois (para juízo). dará a cada um o que for devido. e fá-los-á voltar às profundezas da terra.

20 Aos penitentes, porém, abre o caminho da justiça; conforta os desfalecidos. e destina-lhes a verdade por herança.

21 Converte-te ao Senhor, deixa os teus pecados;

22 suplica ante a sua face e diminui as tuas ofensas.

23 Volta para o Senhor, afasta-te da tua injustiça, e tem grande horror àquilo que é abominável:

24 reconhece a justiça dos juízos de Deus. e persevera no estado em que te colocou e na invocação do Deus Altíssimo.

25 Acompanha com o povo santo, com aqueles que vivem e que dão glória a Deus.

26 Não te demores no erro dos ímpios, louva (a Deus) antes da morte. O louvor do morto terminou, porque ele é como se não existisse.

27 Louva-o enquanto vives, louva-o enquanto tens vida e saúde, louva a Deus e glorifica-te nas suas misericórdias.

28 Quão grande é a misericórdia do Senhor, e a sua compaixão para com todos os que se convertem a ele!

29 Com efeito, nem tudo se pode encontrar nos homens, visto que os filhos dos homens não são imortais, e se comprazem na frivolidade da malícia.

30 Que coisa há mais luminosa do que o Sol? E contudo ele eclipsa-se. Que coisa há pior do que os pensamentos da carne e do sangue? Ora isto será punido.

31 O Sol contempla o exército (dos astros) das alturas do céu, mas todos os homens não são mais do que terra e cinza.

Capítulo 18 Ver capítulo

1 Aquele que vive eternamente, criou todas as coisas, sem excepção. Só o Senhor será reconhecido justo. Ele é o rei invencível que subsiste para sempre.

2 Quem é capaz de contar as suas obras?

3 Quem poderá penetrar as suas maravilhas?

4 Quem poderá descrever o poder (soberano) da sua grandeza? Quem empreenderá enumerar as suas misericórdias?

5 Nada se pode diminuir ou acrescentar, nem é possível compreender as maravilhas de Deus.

6 Quando o homem tiver acabado, então estará no começo, e, quando cessar (a pesquisa), ficará perplexo.

7 Que é o homem, e para que presta? E que bem ou que mal pode ele fazer?

8 A duração dos dias do homem, quando muito, é de cem anos, mas, qual gota de água do mar, ou grão de areia, assim são estes poucos anos comparados com o dia da eternidade.

9 Por isso é que o Senhor é paciente com os homens, e derrama sobre eles a sua misericórdia.

10 Ele vê que a presunção do seu coração é má, e reconhece que o seu fim é deplorável.

11 Por isso é que os trata com a plenitude da sua doçura, e mostra-lhes o caminho da equidade.

12 A misericórdia do homem tem por objecto o seu próximo, porém a misericórdia de Deus estende-se a todo o ser vivo.

13 Cheio de compaixão, ensina e disciplina (os homens), como um pastor faz ao seu rebanho.

14 Compadece-se daquele que recebe a doutrina da sua misericórdia, e do que se apressa a cumprir os seus mandamentos.

15 Filho, não mistures a repreensão com o benefício, nem juntes às tuas dádivas a tristeza duma palavra má.

16 Porventura o orvalho não mitiga o calor ardente? Assim vale mais a palavra (doce) do que a dádiva.

17 Porventura a palavra (doce) não vale mais que o próprio dom? Mas uma e outra coisa se encontra no homem justo.

18 O insensato impropera àsperamente; o dom do invejoso consome os olhos.

19 Antes de Julgar (os outros) procura ser justo, e aprende, antes de falar.

20 Antes da enfermidade emprega cuidados (para a evitar), interroga-te a ti mesmo antes do juízo, e encontrarás misericórdia diante de Deus.

21 Humilha-te antes da doença, e mostra o teu proceder no tempo da enfermidade.

22 Nada te embarace de orar sempre, e não te envergonhes de praticar boas obras até à morte, porque a recompensa de Deus dura para sempre.

23 Prepara a tua alma antes da oração, e não sejas como um homem que tenta a Deus.

24 Lembra-te da ira do último dia, e do tempo em que Deus castigará, desviando o seu rosto.

25 Lembra-te da pobreza no tempo da abundância, e das necessidades da indigência no dia das riquezas.

26 Desde manhã até à tarde se muda o tempo, e tudo isto se faz num momento aos olhos de Deus.

27 o homem sábio andará com temor em tudo, e nos dias do pecado se guardará da preguiça,

28 Todo o homem hábil conhece a sabedoria, e dá louvor ao que a encontrou.

29 Os homens sensatos nas palavras, obram também com sabedoria, compreendem a verdade e a justiça, e espalham como chuva provérbios e sentenças.

30 Não te deixes ir atrás das tuas más tendências e refreia os teus apetites.

31 Se condescenderes com a tua alma no que deseja, ela fará de ti a alegria dos teus inimigos.

32 Não te comprazas em ir às assembleias, mesmo as mais pequenas, porque nelas comete-se incessantemente o mal.

33 Não te empobreças, pedindo dinheiro emprestado para rivalizares (com os outros em despesas), não tendo tu nada no bolso; isto equivaleria a seres inimigo da tua própria vida.

Capítulo 19 Ver capítulo

1 O operário dado ao vinho não enriquecerá. Aquele que despreza as coisas pequenas, pouco a pouco cairá. O vinho e as mulheres desencaminham os próprios sábios, e tornam culpáveis os homens sensatos.

3 Aquele que se junta com prostitutas será mau, chegará a ser o pasto da podridão e dos vermes, ficará sendo um grande exemplo, e a sua alma será tirada do número (dos vivos).

4 O crédulo é leve de coração e ficará prejudicado, e o que peca contra a sua alma será tratado com desprezo.

5 Aquele que se deleita com a iniquidade será desonrado; o que aborrece a correcção, abreviará a sua vida; o que aborrece a loquacidade, extingue a malícia.

6 O que peca contra a sua alma arrepender-se-á de o ter feito, e o que se deleita na malícia será desonrado, Não repitas uma palavra má e ofensiva, e não serás diminuído.

8 Não contes os teus pensamentos nem ao amigo nem ao inimigo, e, se cometeste algum pecado, não o descubras.

9 Com efeito, ouvir-te-á e se guardará de ti. e, aparentando desculpar o teu pecado, te aborrecerá, e estará sempre presente (para te prejudicar).

10 Ouviste alguma palavra contra o teu próximo? Morra dentro de ti, ficando seguro de que ela te não fará rebentar.

11 O insensato está como com dores de parto, por causa duma palavra, como a mulher que geme para dar à luz uma criança.

12 Como seta cravada na carne da coxa, assim é a palavra no coração do insensato.

13 Admoesta o teu amigo, porque talvez não tenha compreendido (que fez mal) e te diga; Eu não fiz tal — e para que, se o fez, o não torne a fazer.

14 Repreende o teu próximo porque talvez não tenha dito (o que se lhe atribui), e para que, se o disse, o não torne a dizer.

15 Repreende o teu amigo, porque muitas vezes se diz o que não é verdade;

16 não acredites em tudo o que se diz. Homem há que peca pela língua, mas não do coração.

17 E quem há que não tenha pecado com a língua? Repreende o teu próximo antes de o ameaçares,

18 e dá lugar ao temor do Altíssimo, porque toda a sabedoria é temor de Deus, nela está o temer a Deus, e em toda a sabedoria há o cumprimento da lei.

19 Não é sabedoria a habilidade de fazei mal. nem o pensar dos pecadores é prudência.

20 Há uma malícia (habilidosa) que é execrável, e há (certos) insensatos que (apenas) têm falta de sabedoria

21 Vale mais um homem que tem pouca sabedoria e que é falto de senso, mas que tem o temor de Deus, do que o que tem muito senso, mas que viola a lei do Altíssimo.

22 Há uma habilidade certeira, mas que é injusta.

23 Há quem fale com firmeza (rude), mas expondo a verdade. Há quem se humilhe maliciosamente com o coração cheio de dolo.

24 Há quem se submeta excessivamente, com uma profunda humilhação. Há quem abaixe a sua cabeça, fingindo não ver o que é segredo;

25 porém, se a debilidade o impede de pecar, quando encontrar ocasião de fazer mal, fá-lo-á.

26 Pelo semblante se conhece o homem; pelo seu aspecto se conhece o homem sensato.

27 O vestuário do seu corpo, o riso dos dentes e o andar do homem, dão a conhecer o que ele é.

28 Há uma correcção falsa, que nasce da ira dum insolente, e há um juízo, que se prova não ser justo, e há quem se cale mostrando ser prudente.

Capítulo 20 Ver capítulo

1 Quanto melhor é repreender do que irritar-se, e não impedir de falar aquele que confessa a sua falta! Como o eunuco que, concupiscentemente, procura desonrar a donzela,

3 assim é o que, por violência, faz um julgamento injusto.

4 Como é bom que o corrigido manifeste o seu arrependimento! Assim evitarás o pecado voluntário.

5 Há quem, estando calado, seja tido por sábio, e quem se torne odioso por ser descomedido no falar.

6 Há tal que se cala por não saber falar; e há tal que se cala, porque sabe qual é a ocasião oportuna.

7 O homem sábio está em silêncio até um certo tempo, mas o leviano e o imprudente não esperam a ocasião.

8 Aquele que fala muito prejudica a sua alma, e aquele que injustamente se excede será detestado.

9 O homem sem disciplina pode ser bem sucedido no mal, porém aquilo que ele inventa pode converter-se em sua própria ruína.

10 Há dom que não é útil, e há dom que é duplamente recompensado.

11 Há glória que leva à ruína, e há humilhação seguida de exaltação.

12 Há quem compre muitas coisas por baixo prego, mas que (de facto) as paga pelo séptuplo do seu valor.

13 O sábio torna-se amável pelas suas palavras; porém as graças dos insensatos perder-se-ão.

14 O donativo do insensato não te será útil, porque ele tem sete olhos para te considerar.

15 Ele dará pouco, e lançá-lo-á muitas vezes em rosto; quando a sua boca se abre, é como um incêndio.

16 Um empresta hoje, e torna-o a pedir amanhã: homem assim torna-se odioso.

17 O insensato não terá amigo, e o bem que ele faz não será agradecido,

18 porque os que comem o seu pão têm língua falsa. Quantas vezes e quantos homens escarnecerão dele?

19 De facto dá, sem discernimento, o que devia reservar, e também aquilo que não devia guardar.

20 A falta duma língua enganadora é como uma queda sobre o pavimento; assim a ruína dos maus virá de súbito.

21 O homem desagradável é como um conto vão, que anda sempre na boca de gente mal educada.

22 Será mal recebida a máxima procedente da boca do insensato, porque não a diz a seu tempo.

23 Há quem se abstenha de pecar por falta de meios, e sofra por ter de estar na inacção.

24 Há quem perca a sua alma por causa do respeito humano; perde-a, cedendo a uma pessoa imprudente, a si mesmo se perde, por atender demasiadamente a uma pessoa.

25 Tal há que, por falsa vergonha, promete ao seu amigo, e arranja gratuitamente nele um inimigo.

26 A mentira é no homem uma vergonhosa mancha, e ela encontra-se habitualmente na boca da gente sem educação.

27 Melhor é um ladrão do que um homem que mente de contínuo, mas ambos terão por herança a perdição.

28 Os costumes dos homens mentirosos são sem honra, e a sua confusão acompanha-os sempre.

29 O sábio atrai a si a estima com as suas palavras, e o homem prudente agradará aos grandes.

30 Aquele que cultiva a sua terra, tornará mais alto o monte dos seus frutos, o que pratica obras de justiça será exaltado, e o que agrada aos grandes fugirá da iniquidade.

31 Os presentes e as dádivas cegam os olhos dos juízes, são como uma mordaça na sua boca, que os torna mudos e os impede de castigar.

32 Sabedoria escondida é tesouro invisível; que utilidade haverá em ambas estas coisas?

33 Melhor é o homem que encobre a sua insipiência do que aquele que esconde a sua sabedoria.

Capítulo 21 Ver capítulo

1 Filho, pecaste? Não tornes a pecar, mas faze oração pelas tuas faltas passadas, para que te sejam perdoadas.

2 Foge dos pecados como de uma serpente, porque, se te aproximares, serás apanhado.

3 Os seus dentes são dentes de leão, que matam as almas dos homens.

4 Todo o pecado é como uma espada de dois fios; a sua ferida não tem cura.

5 O ultraje e as violências aniquilam a riqueza; a mais opulenta casa será destruída pela soberba; do mesmo modo os bens do soberbo serão arrancados pela raiz.

6 A súplica do pobre chegará desde a sua boca até aos ouvidos de Deus, e prontamente lhe será feita justiça. Aquele que aborrece a repreensão caminha por cima das pegadas do pecador; aquele que teme a Deus converter-se-á do (intimo do) seu coração.

8 O homem poderoso de língua insolente dá-se a conhecer ao longe, mas o sábio sabe escapar-se dele.

9 Aquele que edifica a sua casa à custa alheia, é como o que ajunta as suas pedras no inverno.

10 A assembleia dos pecadores é como um montão de estopa: o seu fim será a fogueira.

11 O caminho dos pecadores é calcetado de pedras unidas entre si, mas vai dar à habitação dos mortos, às trevas e aos tormentos.

12 Aquele que guarda a justiça penetrará o espírito dela.

13 A sabedoria e o bom senso são a consumação do temor de Deus.

14 Aquele que não é sábio no bem, nunca será (bem) instruído.

15 Há uma sabedoria que é fecunda no mal, e não há bom senso onde há amargura.

16 A ciência do sábio derrama-se abundantemente, como (água de) uma inundação, e o seu conselho permanece como uma fonte de vida.

17 O coração do insensato é como um vaso rachado: nada pode reter da sabedoria.

18 O sábio, ouvindo qualquer palavra judiciosa, louvá-la-á e aplicá-la-á a si; se porém a ouve o voluptuoso, não lhe agradará, e deitá-la-á para trás das costas.

19 A conversação do insensato é (aborrecida) como uma carga durante a viagem, mas nos lábios do sensato achar-se-á a graça.

20 A boca do homem prudente é buscada na assembleia: as pessoas pensarão nas suas palavras dentro dos seus corações.

21 A sabedoria é para o insensato como uma casa arruinada; a ciência do insensato reduz-se a palavras sem sentido.

22 A doutrina é para o insensato como grilhões nos pés, e como algemas na mão direita.

23 O insensato, quando se ri, levanta a sua voz; mas o varão sábio apenas se sorri discretamente.

24 A ciência é para o homem prudente um ornamento de ouro, e como um bracelete no seu braço direito.

25 O pé do insensato é fácil em se meter em casa do vizinho, porém o homem educado retrai-se diante duma pessoa poderosa.

26 O insensato olha pela janela dentro duma casa, mas o homem educado conserva-se fora.

27 É má educação escutar a uma porta; ao prudente será insuportável esta grosseria.

28 Os lábios dos imprudentes dirão fatuidades, mas as palavras dos homens prudentes serão pesadas na balança.

29 O coração dos insensatos está na sua boca, e a boca dos sábios está no seu coração.

30 Quando o ímpio amaldiçoa o inimigo, amaldiçoa-se a si mesmo.

31 O mexeriqueiro mancha-se a si próprio, e é aborrecido de todos; o que mora com ele será odioso; o homem prudente, que se cala, será honrado.

Capítulo 22 Ver capítulo

1 Ao preguiçoso é atirado lodo e todos falam dele com desprezo. Ao preguiçoso é atirado excremento de bois e todo o que o tocar sacudirá as mãos.

3 O filho mal educado é a vergonha do pai; a filha (semelhante) será pouco estimada.

4 A filha prudente será uma herança para seu marido, mas aquela, cujo procedimento envergonha, será a desonra de seu pai.

5 A mulher atrevida cobre de confusão seu pai e seu marido, e não será inferior aos ímpios: dum e doutro andará desprezada.

6 Um discurso fora de propósito é como a música em ocasião de luto; o castigo e a doutrina em todo o tempo (oportuno) são (empregados pela) sabedoria.

7 Aquele que ensina o insensato é como o que quer tornar a unir os cacos de um vaso quebrado.

8 O homem que se põe a contar alguma coisa ao que o não ouve, é como o que desperta o adormecido dum pesado sono.

9 Aquele que fala da sabedoria a um insensato, é como o que fala com um homem adormecido, o qual, no fim do discurso, dirá: Quem é este?

10 Chora sobre o morto porque lhe faltou a luz, e chora sobre o insensato, porque lhe falta o siso.

11 Chora pouco sobre o morto, porque ele entrou no descanso;

12 mas a vida criminosa do mau é pior que a morte.

13 O pranto sobre o morto dura sete dias. mas sobre o insensato e o ímpio dura toda a sua vida.

14 Não fales muito com o estulto, e não acompanhes com o insensato.

15 Guarda-te dele, para que não tenhas inquietações, e não serás contaminado com o seu pecado.

16 Desvia-te dele, e acharás descanso, e não te enfastiarás com a sua estultícia.

17 Que coisa haverá mais pesada do que o chumbo? E que outro nome se lhe pode dar melhor do que o de insensato?

18 A areia, o sal e qualquer massa de ferro, são mais fáceis de levar do que o imprudente, o insensato e o ímpio.

19 A travação de madeixa, bem ligada e disposta no alicerce do edifício, não se desunirá; assim, também, o coração firmado sobre um bem pensado conselho.

20 A resolução do homem sensato nunca enfraquecerá com o medo.

21 Assim como uma paliçada posta em lugares elevados e uma parede de pedregulho, sem argamassa, não podem resistir à violência do vento,

22 também o coração tímido, de pensamentos insensatos, não resistirá à violência do temor.

23 O coração do insensato, oscilante nos seus pensamentos, não temerá em tempo algum; assim também (por outro motivo) o que está sempre firme nos preceitos de Deus.

24 Aquele que pica o olho, faz sair dele lágrimas; o que pica o coração excita o sentimento.

25 Aquele que atira com uma pedra aos pássaros, fá-los fugir; assim também aquele que diz injúrias ao seu amigo, desfaz a amizade.

26 Ainda que tenhas arrancado a espada contra o teu amigo, não desesperes, porque o regresso é possível.

27 Ainda que tenhas dito ao teu amigo palavras contristadoras, não temas, porque a reconciliação é possível, excepto se se trata de afrontas, impropérios, orgulhoso desdém, revelação de segredo e golpes à traição: em todos estes casos fugirá de ti o amigo.

28 Permanece fiel ao teu amigo na sua pobreza, para que também te alegres com ele nas suas prosperidades.

29 Conserva-te fiel a ele no tempo da sua tribulação, para que tenhas parte com ele na sua herança.

30 O vapor e o fumo elevam-se da fornalha antes do fogo; assim também as injúrias, ultrajes e ameaças precedem a efusão de sangue.

31 Eu não me envergonharei de saudar o meu amigo, nem me esconderei da sua presença, e, se me vierem males por causa dele, sofrê-los-ei.

32 Mas toda a pessoa que souber isto se acautelará dele.

33 Quem porá uma guarda à minha boca, e um selo inviolável sobre os meus lábios, para que eu não caia por sua causa, e para que a minha língua me não perca?

Capítulo 23 Ver capítulo

1 Senhor, que és meu pai e dono da minha vida, não me abandones ao conselho dos meus lábios, nem permitas que eu caia por causa deles.

2 Quem aplicará ao meu pensamento o açoite (das correcções)e (fará sentir) ao meu coração a disciplina da sabedoria, para eu não ser poupado no respeitante às minhas faltas, a fim de que não apareçam os meu pecados.

3 para que se não aumentem as minhas ignorâncias, se não multipliquem os meus delitos, não abundem os meus pecados, e eu não caia diante dos meus adversários.

4 e folgue de me ver arruinado o meu inimigo? Senhor, meu pai e Deus da minha vida, não me abandones às suas sugestões.

5 Não permitas a imodéstia dos meus olhares, e afasta de mim todo o (mau) desejo.

6 Afasta de mim a intemperança, e não se apodere de mim a paixão da impureza, e não me entregues a uma alma sem vergonha e sem recato.

7 Ouvi, filhos, as regras que vos dou sobre a moderação da língua Aquele que as guardar, não perecerá pelos lábios, nem cairá em acções criminosas.

8 O pecador será colhido na sua leviandade, e o soberbo e o maldizente encontrarão nela motivos de queda.

9 A tua boca não se acostume ao juramento, porque isto é causa de muitas quedas.

10 O nome de Deus não esteja sempre na tua boca (para jurar), e não mistures nas tuas conversas os nomes dos santos, porque nisto não serás isento de falta.

11 Pois, assim como o escravo, posto frequentemente à tortura, não se livra das pisaduras, assim todo o homem que jura e invoca (a cada passo) o nome de Deus, não será de todo isento de pecado.

12 O homem que jura muito será cheio de iniquidade, e a desgraça não se apartará de sua casa.

13 Se não cumprir o juramento, o seu pecado será sobre ele; se dissimular, peca duplamente.

14 Se jurar em vão, não terá desculpa, e a sua casa será cheia de castigos.

15 Há uma outra palavra que merece a morte, e nunca ela se ouça entre os descendentes de Jacob.

16 Tudo isto será retirado dos homens pios, que não serão envoltos em tais pecados.

17 Não se acostume a tua boca a palavras desordenadas, porque nelas há sempre pecado.

18 Lembra-te do teu pai e da tua mãe, quando te sentares no meio dos grandes,

19 para não acontecer que Deus se esqueça de ti, diante desses mesmos grandes, e, enfatuado com a tua familiaridade, sofras algum impropério, (para não acontecer que) chegues a desejar antes não ter nascido, e amaldiçoes o dia do teu nascimento.

20 O homem acostumado a dizer impropérios nunca se corrigirá em toda a sua vida.

21 Duas sortes de pessoas pecam muitas vezes, e a terceira atrai a ira e a perdição. A alma ardente como um fogo aceso não se acalma sem ter devorado alguma coisa.

23 O homem, que abusa do seu corpo, não terá sossego enquanto não acender o fogo.

24 Todo o pão é doce para o homem voluptuoso; não se cansará de pecar até ao fim da vida. Todo o homem que desonra o seu tálamo (conjugal), despreza a sua alma, dizendo: Quem me vê?

26 As trevas cercam-me, as paredes escondem-me, e ninguém de parte alguma olha para mim; de quem tenho eu receio? O Altíssimo não se lembrará dos meus pecados. (Esse homem) não considera que os olhos do Senhor vêem todas as coisas, que um semelhante temor humano expele de si o temor de Deus, e que os olhos dos homens são unicamente os que o fazem temer.

28 Não sabe que os olhos do Senhor são muito mais luminosos do que o Sol, que em torno estão vendo todos os caminhos dos homens, que penetram o profundo do abismo e os corações dos mesmos homens, até aos mais ocultos esconderijos.

29 Com efeito, o Senhor Deus, assim como conhecia todas as coisas antes de as ter criado, assim também agora, depois que as criou, as vê todas.

30 Este tal será punido nas praças da cidade, será posto em fuga como um potro de égua, e, onde ele menos o esperar, será apanhado.

31 Será vexado diante de todos. por isso mesmo que não compreendeu o temor do Senhor.

32 Assim (perecerá) também toda a mulher que deixa o seu marido, e que lhe dá por herdeiro o fruto duma união adúltera.

33 Porque primeiramente ela foi desobediente à lei do Altíssimo; em segundo lugar pecou contra o seu marido: em terceiro lugar cometeu um adultério. e deu-se a si filhos doutro, que não era seu esposo.

34 Esta mulher será levada à assembleia, e serão lançados os olhares sobre seus filhos.

35 Os seus filhos não lançarão raízes, os ramos dela não darão fruto.

36 Deixará uma memória maldita, e nunca mais se apagará a sua infâmia.

37 E os que vierem depois dela conhecerão que não há coisa melhor do que o temor de Deus e que nada há mais doce do que observar os mandamentos do Senhor.

38 É uma grande glória seguir o Senhor, porque é dele que se receberá larga vida.

Capítulo 24 Ver capítulo

1 A sabedoria faz o seu próprio elogio, honra-se em Deus, gloria-se no meio do seu povo; abre a sua boca na Assembleia do Altíssimo, glorifica-se diante dos seus exércitos,

3 é exaltada no meio do seu povo, e admirada na assembleia santa.

4 Entre a multidão dos escolhidos, recebe louvores, e entre os abençoados recebe bênçãos.

5 Ela diz: Eu saí da boca do Altíssimo, primogénita antes de todas as criaturas.

6 Eu fiz com que nascesse nos céus uma luz indefectível, e como uma névoa cobri toda a terra.

7 Eu habitei nos lugares mais altos, e o meu trono é sobre uma coluna de nuvem.

8 Sozinha percorri a abóbada celeste, penetrei na profundidade do abismo, andei sobre as ondas do mar.

9 Caminhei por toda a terra. Imperei sobre todos os povos

10 e sobre todas as nações.

11 Tive debaixo dos meus pés, com o meu poder, os corações de todos os grandes e pequenos; entre todos busquei um lugar de repouso, e uma morada na herança do Senhor.

12 Então o Criador de tudo deu-me os seus preceitos, falou-me; aquele que me criou descansou no meu tabernáculo.

13 Disse-me: Habita em Jacob, possui a tua herança em Israel, e lança raízes entre os meus escolhidos.

14 Eu fui criada desde o princípio, antes dos séculos, e não deixarei de existir até ao fim dos séculos, e exerci diante dele o meu ministério na morada santa.

15 Assim me fixei em Sião, repousei na cidade santa, e em Jerusalém está o meu poder.

16 Deitei raízes no meio dum povo glorioso, cuja herança está na parte do meu Deus, e na assembleia dos santos estabeleci a minha morada.

17 Elevei-me como o cedro do Líbano, como o cipreste do monte Sião.

18 Cresci como a palmeira de Cades, como as roseiras de Jericó.

19 Elevei-me como uma formosa oliveira nos campos, como o plátano no caminho à beira das águas.

20 Difundi um perfume como o cinamomo e o bálsamo aromático, e como mirra escolhida exalei suave odor.

21 Perfumei a minha habitação como o estoraque, o gálbano, o onix e a mirra, e como a gota de incenso caída por si própria; a minha fragrância é como a dum bálsamo sem mistura.

22 Estendi os meus ramos como o terebinto; os meus ramos são ramos de honra e de graça.

23 Como a vide lancei flores dum agradável cheiro; e as minhas flores dão frutos de glória e de riqueza.

24 Eu sou a mãe do amor formoso, do temor, da ciência e da santa esperança.

25 Em mim há toda a graça do caminho e da verdade, em mim toda a esperança da vida e da virtude.

26 Vinde a mim todos os que me desejais, e enchei-vos dos meus frutos,

27 porque o meu espírito é mais doce do que o mel, e possuir-me é mais suave que o favo de mel.

28 A minha memória durará por toda a série dos séculos.

29 Aqueles que me comem terão ainda fome. e os que me bebem terão ainda sede.

30 Aquele que me ouve não será confundido, e os que agem por mim não pecarão.

31 Aqueles que me tornam conhecida terão a vida eterna.

32 Tudo isto é o livro da vida, a aliança do altíssimo e o conhecimento da verdade.

33 Moisés deu-nos a lei com os preceitos da justiça, a herança da casa de Jacob e as promessas feitas a Israel.

34 (O Senhor) prometeu a Davide, seu servo, que faria sair dele um rei fortíssimo, o qual se sentaria sobre um trono de glória para sempre.

35 É ela (a lei) que espalha ,a sabedoria como o Fison (as suas águas), e como o Tigre no tempo dos frutos novos.

36 É ela que faz transbordar a inteligência como o Eufrates, como o Jordão no tempo da ceifa.

37 É ela que derrama a ciência como o Nilo, e que aumenta as suas águas como o Geon no tempo da vindima.

38 Nem o primeiro (que a estudou) a acabou de conhecer, nem, igualmente, o último de a descobrir.

39 Os seus pensamentos são mais vastos do que o mar, e os seus conselhos mais profundos do que o grande abismo.

40 Eu, a Sabedoria, fiz correr os rios.

41 Eu sou como o caminho da água imensa derivada dum rio, como o canal duma ribeira, e como um aqueduto que sai do paraíso.

42 Eu disse: Regarei as plantas do meu jardim, saciarei de água os frutos do meu prado.

43 E eis que o meu curso de água se tornou um caudaloso rio, e o meu rio se tornou um mar.

44 Com efeito, a luz da doutrina, com que a todos ilustro, é como a luz da aurora; eu a manifestarei ao longe.

45 Penetrarei todas as partes inferiores da terra, lançarei os olhos por todos os que dormem, e iluminarei todos os que esperam no Senhor.

46 Continuarei a espalhar a minha doutrina como uma profecia, e deixá-la-ei aos que andam em busca da sabedoria, e não cessarei (de estar presente), de geração em geração, até ao século santo.

47 Vede que eu não trabalhei só para mim, mas para todos os que buscam a verdade.

Capítulo 25 Ver capítulo

1 Em três coisas se compraz o meu espírito, as quais têm a aprovação de Deus e dos homens:

2 A concórdia entre os irmãos, o amor dos próximos, a boa harmonia entre marido e mulher.

3 Há três sortes (de pessoas) que a minha alma aborrece, e cuja vida me é insuportável:

4 Um pobre soberbo, um rico mentiroso, um velho fátuo e insensato.

5 O que não ajuntaste na tua mocidade, como o acharás na tua velhice?

6 Quão belo é para os cabelos brancos o saber julgar, para os anciães o saber dar um conselho!

7 Quão bem parece a sabedoria nos velhos, e a inteligência e o conselho nas pessoas de alta jerarquia!

8 A experiência consumada é a coroa dos velhos, e o temor de Deus é a sua glória.

9 Nove coisas se apresentam ao meu espírito como muito felizes, e exporei uma décima aos homens por minhas palavras;

10 Um homem que encontra a sua alegria em seus filhos; o que vive o bastante para ver a ruína de seus inimigos:

11 aquele— feliz! — que vive com uma mulher de bom senso; o que não caiu pela sua língua; o que não serviu pessoas indignas dele;

12 aquele— feliz!—que encontrou um amigo verdadeiro; o que fala da justiça a um ouvido que lhe dá atenção;

13 aquele que — como é grande! — encontrou a sabedoria e a ciência; aquele que — a este nenhum se avantaja,— teme o Senhor.

14 O temor de Deus eleva-se sobre tudo.

15 Bem-aventurado o homem que recebeu o dom do temor de Deus; com quem se comparará aquele que o possui ?

16 O temor de Deus é o princípio do seu amor, mas inseparavelmente se lhe deve ajuntar um princípio de fé.

17 A tristeza do coração é a maior chaga, e a maldade da mulher é uma consumada malícia.

18 Toda a chaga, não porém a chaga do coração;

19 toda a malícia, não porém a malícia da mulher;

20 toda a aflição, não porém a proveniente dos que nos têm ódio;

21 toda a vingança, não porém a vingança que vem dos inimigos.

22 Não há veneno pior que o da serpente,

23 e não há ira pior que a da mulher. Será melhor viver com um leão e com um dragão, do que habitar com uma mulher má.

24 A maldade da mulher faz-lhe mudar de rosto, dá-lhe um aspecto sombrio como o dum urso, torna-o (escuro e áspero) como um saco. No meio dos seus vizinhos

25 lamenta-se o seu marido, e, ouvindo-os, suspira amargamente.

26 Toda a malícia é leve comparada com a malícia da mulher; que a sorte dos pecadores caia sobre ela.

27 O que é para os pés dum velho o subir um monte de areia, isso é para um homem sossegado uma mulher desbocada.

28 Não olhes para a formosura da mulher, e não cobices uma mulher pela sua formosura.

29 Da mulher (má) provêm a cólera, a audácia e uma grande confusão.

30 Se a mulher tem o mando, levanta-se contra seu marido.

31 Coração abatido, rosto triste e chaga do coração, eis (o que produz) uma mulher má.

32 Mãos fracas e joelhos vacilantes, eis (o que causa) a mulher que não faz ditoso seu marido.

33 Da mulher nasceu o princípio do pecado, e é por causa dela que todos morremos.

34 Não dês à tua água a mais ligeira abertura, nem à mulher má, liberdade de sair a público.

35 Se não andar sempre debaixo da tua mão, ela te cobrirá de confusão diante dos teus inimigos.

36 Separa-a do teu corpo, a fim de que não abuse sempre de ti.

Capítulo 26 Ver capítulo

1 Ditoso o homem que tem uma virtuosa mulher, porque será dobrado o número dos seus anos. A mulher forte é a alegria de seu marido, derramará paz sobre os anos da sua vida.

3 A mulher virtuosa é uma sorte excelente, é o prêmio dos que temem a Deus, será dada ao homem pelas suas boas obras.

4 Terá (o marido dela) satisfeito o coração, seja rico ou pobre, e o seu rosto ver-se-á sempre alegre.

5 Três coisas receou o meu coração, e com a quarta se amedrontou o meu semblante:

6 A acusação duma cidade (inteira), a sedição dum povo,

7 a calúnia, coisas estas mais pesadas que a morte;

8 mas a mulher ciumenta é dor do coração e luto.

9 Na mulher ciosa a língua é um flagelo, que a todos atinge.

10 Como o jugo dos bois desajustado, assim é a mulher má; o que a toma, é como quem toma um escorpião.

11 A mulher dada ao vinho é motivo de grande cólera e vergonha, e a sua infâmia não será oculta.

12 A impudicícia da mulher reconhece-se na desfaçatez do olhar e no mover das suas pálpebras.

13 Redobra de vigilância sobre a filha que não se retrai (dos homens) para que não se perca, se encontrar ocasião.

14 Vigia sobre todo o desavergonhamento dos seus olhos. e não estranhes se ela te desprezar.

15 Ela, como um viajante sequioso, abrirá a boca à fonte e beberá de toda a água que tiver a mão, junto de qualquer poste se assentará, e a toda a seta abrirá a aljava até mais não poder.

16 A graça duma mulher cuidadosa deleita o seu marido,

17 e o seu bom proceder infunde-lhe vigor até aos ossos. É um dom de Deus

18 uma mulher sensata, amiga do silêncio; nada é comparável a uma mulher bem educada.

19 Graça sobre graça é a mulher santa e cheia de pudor.

20 Todo o preço é nada em comparação duma alma casta.

21 Como o Sol que se levanta para o mundo, nas alturas de Deus, assim é a beleza duma mulher virtuosa, ornamento da sua casa.

22 Como a lâmpada que brilha sobre o candelabro sagrado, assim é a graciosidade do rosto numa idade madura.

23 Como colunas de ouro sobre bases de prata, assim são, sobre as suas plantas, os pés esbeltos da mulher ponderada.

24 Como fundamentos eternos sobre a pedra sólida, assim são os mandamentos de Deus no coração da mulher santa.

25 Com duas coisas se entristeceu o meu coração, e a terceira provocou-me a cólera:

26 Um homem de guerra que perece à míngua, tecem, um homem sábio que é desprezado,

27 e aquele que passa da justiça ao pecado; a este último reservou Deus para a espada.

28 Duas coisas me parecem difíceis e perigosas: Dificultosamente evitará as faltas o que negoceia, e o taberneiro não estará isento dos pecados da língua.

Capítulo 27 Ver capítulo

1 Por causa da pobreza muitos delinquiram; aquele que procura enriquecer-se afasta os olhos. Como se finca um pau no meio da juntura de duas pedras, assim também se introduzirá o pecado entre a venda e a compra.

3 O delito será destruído com o delinquente.

4 Se te não mantiveres firmemente no temor do Senhor, depressa a tua casa será arruinada.

5 Como quando se abana o crivo apenas ficam as alimpas, assim a perplexidade do homem fica no seu pensamento.

6 O forno prova os vasos do oleiro, e a prova dá tribulação, os homens justos. Como o cuidado que se tem da árvore se dá a conhecer no fruto, assim a palavra manifesta o que vai no coração do homem.

8 Não louves um homem antes de ele falar, porque esta é a prova dos homens.

9 Se fores atrás da justiça, alcançá-la-ás, dela te revestirás como duma vestidura talar de glória; com ela habitarás, ela te protegerá para sempre, e no dia do juízo acharás nela apoio.

10 As aves chegam-se para os seus semelhantes; assim a verdade volta para aqueles que a praticam.

11 O leão está sempre à espreita da presa; assim os pecados armam laços aos que praticam a iniquidade.

12 O homem santo persevera na sabedoria como o Sol; o insensato, porém, muda como a lua.

13 No meio dos insensatos guarda a palavra para outro tempo; (evita-os e) permanece, antes, de continuo entre os que pensam (bem).

14 A conversação dos pecadores é odiosa, e o seu riso é nas delicias do pecado.

15 O discurso do que muito jura fará arripiar os cabelos da cabeça, e a sua irreverência fará tapar os ouvidos.

16 Na bulha dos soberbos há efusão de sangue; é penoso ouvir as suas maldições.

17 Aquele que descobre os segredos do amigo, perde o crédito e não encontrará mais um amigo a seu gosto.

18 Ama o teu próximo e sê leal na amizade com ele.

19 Se descobrires os seus segredos, não o voltarás a ganhar.

20 Como um homem que mata o seu amigo, assim é o que destrói a amizade do seu próximo.

21 Como aquele que deixa ir da sua mão o pássaro. assim tu deixaste ir o teu próximo, e não o conciliarás mais.

22 Não o sigas, porque já está muito distante; fugiu do laço como uma gazela. Porque foi ferida a sua alma,

23 não poderás mais atraí-lo a ti. Depois duma injúria há reconciliação;

24 mas o revelar os segredos do amigo tira toda a esperança a uma alma infeliz.

25 O que pisca os olhos forja maus desígnios, e ninguém o pode afastar de si.

26 Na tua presença falará com doçura, admirará o que tu disseres, mas depois mudará de linguagem e armará laços às tuas palavras.

27 Muitas coisas aborreço, mas nenhuma como um tal homem; o Senhor o aborrece também.

28 Quando alguém lança uma pedra ao alto, ela cairá sobre a sua cabeça; assim a ferida traiçoeira abrirá feridas no traidor.

29 O que abre a cova, cairá nela; o que põe uma pedra no caminho para tropeço do próximo, tropeçará nela; o que arma um laço a outrem, nele perecerá.

30 O desígnio perverso recairá sobre o que o forja, que não saberá donde lhe vem o mal.

31 O escárnio e o ultraje são próprios dos soberbos, e a vingança, como um leão, armar-lhe-á ciladas.

32 Aqueles que se alegram com a queda dos justos, perecerão no laço, e a dor os consumirá antes da sua morte.

33 A ira e o furor são duas coisas execráveis; o pecador as terá em si mesmo.

Capítulo 28 Ver capítulo

1 Aquele que quer vingar-se, encontrará a vingança do Senhor, o qual tirará exacta conta dos seus pecados.

2 Perdoa ao teu próximo que te ofendeu, e então, quando pedires, serão perdoados os teus pecados.

3 Um homem conserva a sua ira contra outro homem, e pede a Deus remédio?

4 Não tem compaixão dum homem seu semelhante, e pede perdão dos seus pecados? Ele, que é carne, conserva rancor, e pede propiciação a Deus? Quem lha alcançará pelos seus delitos?

6 Lembra-te do teu fim e deixa de nutrir inimizades, porque a corrupção e a morte ameaçam-te por detrás dos mandamentos do Senhor.

8 Lembra-te do temor de Deus, e não te ires contra o teu próximo.

9 Lembra-te da aliança do Altíssimo, e não tomes em conta a falta do próximo cometida por inadvertência.

10 Abstém-te de litígios, e diminuirás os pecados;

11 o homem iracundo acende pendências; o homem pecador suscita discórdias entre os amigos, lança a inimizade no meio dos que vivem em paz.

12 O fogo ateia-se na proporção da madeira do bosque, e a cólera do homem (ateia-se) segundo o seu poder, aumenta em proporção da sua riqueza.

13 A precipitação em discutir acende o fogo, a demanda irreflectida derrama sangue, e a língua que testifica (falsamente) trás a morte.

14 Se assoprares a uma faúlha ela se inflamará, se cuspires sobre ela, se apagará: ambas as coisas saem da boca.

15 O mexeriqueiro e o homem de duas línguas são malditos porque perturbam muitos que viviam em paz.

16 A _(má)_ língua dum terceiro abalou a muitos, dispersou-os de povo em povo.

17 Ela destruiu as cidades muradas dos ricos, e fez cair as casas dos grandes.

18 Desbaratou as forças dos povos, dispersou as nações fortes.

19 A (má) língua de um terceiro lançou fora de casa mulheres virtuosas e privou-as (do fruto) de seus trabalhos.

20 Aquele que a atende não terá descanso, nem terá amigo em que repouse.

21 O golpe dum açoite faz uma pisadura, mas o golpe da língua esmigalha os ossos.

22 Muitos morreram passados ao fio da espada, porém não tantos como os que morreram por culpa da sua língua.

23 Bem-aventurado aquele que está a coberto da língua iníqua, que não passou pela ira dela, que não atraiu para cima de si o seu jugo e que não foi ligado com as suas cadeias,

24 porque o seu jugo é um jugo de ferro, e as suas cadeias são cadeias de bronze.

25 A morte que ela causa é uma morte desgraçadíssima, e a sepultura é-lhe preferível.

26 Ela durará (algum, mas) não muito tempo; assenhorear-se-á dos caminhos dos injustos, mas a sua chama não queimará os justos. Os que deixam a Deus, cairão no poder dela. que os queimará, sem se extinguir; lançar-se-á sobre eles como um leão, e como um leopardo os despedaçará.

27 Cerca os teus ouvidos com espinhos,não queiras ouvir a língua má, e põe na tua boca uma porta com ferrolhos.

28 Funde o teu ouro e a tua prata, e faze uma balança para (pesares) as tuas palavras, e um freio bem ajustado para a tua boca;

29 olha, não escorregues no teu falar, para não caíres diante dos teus inimigos, que te armam ciladas, e para que não venha a tua queda a ser incurável e mortal.

Capítulo 29 Ver capítulo

1 Aquele que usa de misericórdia, empresta a juro ao seu próximo: aquele que tem a mão generosa, guarda os mandamentos.

2 Cumpre a tua palavra, e trata lealmente com ele. e em todo o tempo acharás o que te é necessário.

3 Muitos consideram o que se lhes emprestou como um achado, e causam desgosto àqueles que o ajudaram.

4 Beijara as mãos do que lhes empresta até que tenham recebido, e com voz humilde fazem (grandes) promessas;

5 porém, chegando o prazo de pagar a dívida, pedem espera. dizem palavras de enfado e de murmuração, e desculpam-se com o tempo (dizendo que a rida está difícil).

6 porém, chegando o prazo de pagar a dívida, pedem espera, dizem palavras de enfado e de murmuração, e desculpam-se com o tempo (dizendo que a rida está difícil).

7 Ainda que possam pagar, porão dificuldades, depois darão dificilmente metade do capital, e dirão que se deve considerar isso como uma coisa achada.

8 Se não (podem pagar), privam o credor do seu dinheiro, e, sem causa alguma, o ficarão tendo por inimigo;

9 pagar-lhe-ão com injúrias e maldições, e, à mercê e beneficio recebidos, corresponderão com ultrajes.

10 Muitos deixam de emprestar, não por desumanidade, mas porque temem ser defraudados sem o merecerem.

11 Apesar de tudo isto, sê magnânimo com o miserável e não o faças esperar pela esmola.

12 Por causa do mandamento acode ao pobre, e não o deixes ir com as mãos vazias na sua indigência.

13 Perde o teu dinheiro por amor do teu irmão e do teu amigo, e não o escondas debaixo duma pedra para ficar perdido.

14 Emprega o teu tesouro segundo os preceitos do Altíssimo, e isto te aproveitará mais do que o ouro.

15 Encerra a esmola no coração do pobre, e ela rogará por ti para te livrar de todo o mal.

16 Mais do que o escudo e do que a lança do esfor-

17 çado,

18 ela pelejará contra o teu inimigo.

19 O homem de bem dá fiança pelo seu próximo; e o que tiver perdido a vergonha o abandonará à sua sorte.

20 Não te esqueças do benefício que te fez o que ficou por teu fiador, porque ele expôs a sua vida por ti.

21 O pecador e o impuro fogem do seu fiador.

22 O pecador faz de conta que são seus os bens do seu fiador, e com coração ingrato abandona o seu libertador.

23 Um homem fica por fiador do seu próximo, e este, perdendo a vergonha, abandoná-lo-á.

24 Fianças imprudentes perderam a muitos que iam bem nos seus negócios, agitaram-nos como ondas do mar.

25 Fizeram emigrar para diversos lugares homens poderosos, que andaram errantes entre nações estranhas.

26 O pecador que viola o mandamento do Senhor meter-se-á em fianças ruinosas; e aquele que empreende muitos negócios, cairá sob a justiça.

27 Assiste ao teu próximo conforme as tuas posses, mas olha por ti, não caias tu também.

28 O essencial da vida do homem é a água, o pão, o vestuário e uma casa para cobrir a sua nudez.

29 Aquilo que o pobre come, debaixo de qualquer coberto de tábuas é melhor do que um festim magnífico numa casa estranha, quando se não tem domicílio próprio.

30 Contenta-te com o pouco ou muito que tiveres, e não ouvirás, com amargura, que és um estranho,

31 É uma vida desgraçada a daquele que se anda hospedando de casa em casa; em toda a parte em que for hóspede, não procederá com confiança, nem ousará abrir a boca.

32 Ele noutras ocasiões terá hospedado outros, terá dado de comer e de beber a ingratos, e, depois disto, ouvirá palavras amargas:

33 Anda, hóspede, vai pôr a mesa, e dá de comer aos outros do que tens à mão:

34 retira-te por causa da honra que devo aos meus amigos: necessito da minha casa para receber o meu irmão.

35 São duras estas (duas) coisas para um homem sensato: As palavras amargas dum hospedeiro e os insultos dum credor.

Capítulo 30 Ver capítulo

1 Aquele que ama o seu filho, castiga-o com frequência, para que se alegre com isso mais tarde, e não ande a bater às portas dos outros.

2 Aquele que instruí o seu filho será louvado nele, e nele mesmo se gloriará entre os seus conhecidos.

3 Aquele que instruí o seu filho causa inveja ao seu inimigo, e entre os seus amigos se gloriará dele.

4 Morreu o seu pai, e foi como se não morresse, porque deixou depois de si um seu semelhante.

5 Em sua vida viu (o seu filho) e nele se alegrou; em sua morte não se entristeceu, nem se envergonhou diante dos seus adversários,

6 porque deixou um defensor da sua casa contra os inimigos, e alguém que será agradecido aos amigos.

7 Aquele que amimalha os seus filhos, terá que lhes pensar as feridas, e a qualquer palavra se turbarão as suas entranhas.

8 Um cavalo indomado torna-se intratável, e um filho deixado à sua vontade torna-se insolente.

9 Lisonjeia teu filho, e ele te causará terror; brinca com ele, e ele te entristecerá.

10 Não te ponhas a rir com ele, para que não venhas a sofrer por isso, para que, no fim, não tenhas de ranger os dentes.

11 Não lhe dês largas na sua mocidade, e não feches os olhos ao que ele se lembrar de fazer.

12 Encurva-lhe a cerviz na mocidade, fustiga-o nos flancos enquanto é menino, para que não suceda endurecer-se e não te obedeça, e venha a ser a dor da tua alma.

13 Instrui o teu filho, e trabalha por formá-lo, para que te não desonre com a sua vida vergonhosa.

14 Um pobre são e cheio de força vale mais do que um rico fraco e atormentado de doenças.

15 A saúde da alma, na santidade da justiça, vale mais do que todo o ouro e prata; um corpo robusto vale mais do que imensos bens.

16 Não há riqueza maior do que a saúde do corpo, nem contentamento igual à alegria do coração.

17 Melhor é a morte que uma vida amargurada, e o descanso eterno que um achaque perseverante.

18 Os bens escondidos numa boca cerrada são como manjares esquisitos postos num sepulcro.

19 De que servirá ao ídolo a oblação? Ele não a comerá, nem lhe tomará o cheiro.

20 Assim acontece ao que é repelido pelo Senhor e que leva o pago da sua iniquidade,

21 o qual vê (o alimento) com os seus olhos e geme, como um eunuco que abraça uma donzela e suspira. Não abandones a tua alma à tristeza, e não te aflijas a ti mesmo nos teus pensamentos. O júbilo do coração é a vida do homem e um tesouro inexaurível de santidade; a alegria do homem prolonga a sua vida.

24 Tem piedade da tua alma, procurando agradar a Deus, e aguenta-te; recolhe o teu coração na santidade do mesmo Deus e afugenta para longe de ti a tristeza. Com efeito, a tristeza tem matado a muitos, e não há utilidade nela.

26 A inveja e a ira abreviam os dias, e os afans fazem chegar a velhice antes do tempo. Um coração generoso e bom está num contínuo festim, porque lhe preparam com diligência o seu alimento.

Capítulo 31 Ver capítulo

1 As vigílias para enriquecer consomem as carnes, e a preocupação com isso tira o sono.

2 O pensamento inquieto sobre o que poderá suceder perturba o sossego, e a enfermidade grave torna a alma sóbria.

3 O rico afadiga-se por juntar riquezas, e, quando se entrega ao repouso, goza dos seus bens.

4 Trabalha o pobre para ter que comer, e no fim acha-se (ainda) necessitado.

5 Aquele que ama o ouro não estará sem pecado, e aquele que vai atrás da corrupção, será cheio dela.

6 Muitos caíram por causa do ouro, cuja beleza foi a sua perdição. O ouro é uma pedra de tropeço para os que lhe sacrificam. Ai daqueles que vão atrás dele! Por sua causa perecerá todo o insensato.

8 Bem-aventurado o rico que foi achado sem mancha, que não correu atraído pelo ouro, que não pôs a sua esperança no dinheiro nem nos tesouros.

9 Quem é este, para nós o louvarmos? Realmente fez coisas maravilhosas em sua vida.

10 Ao que foi provado pelo ouro e encontrado perfeito, está reservada uma glória eterna: pôde transgredir a lei de Deus, e não a transgrediu, pôde fazer o mal, e não o fez.

11 Por isso os seus bens foram assegurados no Senhor, e toda a assembleia dos santos celebrará as suas esmolas.

12 Sentaste-te a uma grande mesa? Não sejas tu o primeiro a abrir a boca.

13 Não digas: Que abundância de iguarias há sobre ela!

14 Lembra-te que é má coisa um olho invejoso.

15 Que coisa há pior que semelhante olho ? Por isso chora com todo o seu rosto.

16 Quando olhar (aquele que te convidou), não sejas o primeiro a estender a mão, para que não cores, envergonhado pela tua gula.

17 Não comas à sobreposse, durante o banquete.

18 Julga das disposições do teu próximo pelas tuas.

19 Usa como um homem sóbrio do que te puser diante, não suceda que, por comeres muito, te tornes odioso.

20 Sê o primeiro a acabar em sinal da tua boa educação, e não te desmandes, para que não desgostes ninguém.

21 Se estás sentado entre muitas pessoas, não estendas a mão antes delas, nem sejas o primeiro a pedir de beber. Quão pouco vinho é suficiente para um homem regrado ! Assim, quando dormires, não te causará desassossego, nem sentirás dor.

23 Vigília, cólica e ânsias, terá o homem intemperante.

24 O homem sóbrio terá um sono salutar, dormirá até pela manhã, e a sua alma se deleitará com ele. Se fores obrigado a comer muito, levanta-te e vomita : achar-te-ás aliviado, e não atrairás ao teu corpo uma doença.

26 Ouve-me, filho, e não me desprezes: no fim reconhecerás a verdade das minhas palavras. Sê pronto em todas as tuas acções, e não te virá nenhuma enfermidade.

28 Os lábios de muitos bem-dirão aquele que dá de comer liberalmente, e dar-se-á um testemunho fiel da sua generosidade.

29 Toda a cidade murmurará contra o que é mesquinho em dar pão, e o testemunho que dá da sua mesquinhez é verdadeiro.

30 Não provoques (a beber) aqueles que são amigos do vinho, porque o vinho tem perdido muitos.

31 O fogo prova a dureza do ferro: assim o vinho bebido até embriagar dará a conhecer o coração dos soberbos.

32 O vinho bebido com sobriedade é como vida para os homens; se o beberes moderadamente, serás sóbrio.

33 Que vida é a daquele a quem falta o vinho?

34 Que coisa é a que nos priva da vida? A morte.

35 O vinho desde o princípio foi criado para regozijo, e não para embriaguez.

36 O vinho bebido moderadamente é o júbilo da alma e do coração.

37 A temperança no beber é a saúde da alma e do corpo.

38 O vinho bebido com excesso produz a irritação, a ira e muitas ruínas.

39 O vinho bebido com excesso é a amargura da alma.

40 A embriaguez inspira audácia, faz cair o insensato, diminui as forças e ocasiona feridas.

41 Em um festim de vinho (abundante) não arguas o próximo, e não o desprezes no calor da sua alegria.

42 Não lhe digas palavras de censura e não o apertes com qualquer reclamação.

Capítulo 32 Ver capítulo

1 Puseram-te a presidir? Não te ensoberbeças por isso; sê entre os outros como um deles.

2 Tem cuidado deles, e depois disso assenta-te; cumpridas todas as tuas obrigações, põe-te a comer,

3 a fim de que te causem alegria, e recebas a coroa, como um ornamento gracioso, e mostres que eras digno de ser escolhido.

4 Fala, tu que és o mais velho, pois é a ti que pertence falar primeiro.

5 (mas fala) com conhecimento e acerto, e não impeças a música.

6 Não desperdices palavras, onde não há quem as ouça, e não te glories despropositadamente do teu saber. Correm igual paralelo uma pedrinha de carbúnculo, em engaste de ouro, e um concerto de músicos em festim de vinho.

8 Como um camafeu de esmeralda encastoado em ouro, assim é uma melodia musical entre um alegre e moderado vinho.

9 Ouve em silêncio, e a tua modéstia conciliar-te-á a simpatia (de todos).

10 Tu, jovem, fala com dificuldade no que te diz respeito.

11 Se fores interrogado duas vezes, tenha concisão a tua resposta.

12 Porta-te em muitas coisas como se as ignorasses, e ouve, já calando, já também perguntando.

13 No meio dos grandes não tomes demasiada liberdade, e onde estão os velhos não fales muito.

14 Antes do trovão aparece o relâmpago e diante da modéstia vai a graça; pela tua circunspecção serás bem-quisto.

15 Chegada a hora de te levantares, não te detenhas; sê o primeiro a retirar-te para tua casa, e lá diverte-te e recreia o teu espírito.

16 Faze o que te aprouver, contanto que seja sem pecar e sem palavras soberbas.

17 Por todas estas coisas bem-dize ao Senhor, que te criou e que te cumula de todos os seus bens.

18 Aquele que teme o Senhor abraçará a sua doutrina, e os que velarem para o buscar receberão a sua bênção.

19 Aquele que busca a lei será cheio dela, e o que procede com hipocrisia tropeçará nela.

20 Aqueles que temem o Senhor encontrarão um juízo justo, e farão brilhar as suas justiças como uma luz.

21 O homem pecador evitará a repreensão, e encontrará interpretações (da lei) segundo o seu desejo.

22 O homem prudente não desprezará o instruir-se, o estranho, ou o soberbo, não tem nenhum temor;

23 mas quando opera por si e sem conselho, as suas próprias empresas o condenarão.

24 Filho, não faças coisa alguma sem conselho, e não te arrependerás depois dela feita.

25 Não vás pelo caminho da ruína, e não tropeçarás nas pedras; nem te metas num caminho escabroso, para que não dês à tua alma ocasião de queda.

26 Guarda-te dos teus próprios filhos e acautela-te dos teus domésticos.

27 Em todas as tuas obras guarda a tua alma, porque é assim que se guardam os mandamentos.

28 Aquele que crê em Deus, atende aos seus mandamentos, e o que confia nele não será danificado.

Capítulo 33 Ver capítulo

1 Aquele que teme o Senhor não sobrevirão desgraças, antes Deus o guardará na tentação e o livrará dos males.

2 O sábio não aborrece os mandamentos nem as leis, e não se fará em pedaços como o navio na tempestade.

3 O homem sensato crê na lei de Deus, e a lei é fiel para com ele.

4 Prepara o teu discurso, e, deste modo, serás ouvido; junta o teu saber e depois responde. O coração do insensato é como as rodas de um carro, e o seu pensamento é como um eixo que gira.

6 O amigo zombador é como um garanhão, que relincha debaixo de qualquer que o monta.

7 Por que é que um dia é preferido a outro dia, uma luz a outra luz, e um ano a outro ano, provindo todos do mesmo Sol?

8 Foi a ciência do Senhor que os diferenciou, quando criou o Sol, o qual obedece às suas ordens.

9 Distinguiu as estações e os seus dias de festa, em que (os homens) celebram as solenidades a hora determinada.

10 Destes mesmos dias fez Deus a uns grandes e sagrados, e a outros pôs no número dos dias comuns. Assim, igualmente, todos os homens são feitos do pó, da terra de que Adão foi formado.

11 O Senhor, porém, pela grandeza da sua sabedoria, distinguiu-os, diversificou os seus caminhos.

12 A uns abençoou e exaltou; a outros santificou e tomou para si; a outros amaldiçoou e humilhou, e deitou abaixo do seu lugar.

13 Como o barro está nas mãos do oleiro, para lhe dar a forma e disposição que deseja,

14 e para o empregar nos usos que lhe aprouver, assim o homem se encontra na mão daquele que o criou, e que lhe dará segundo o seu juízo.

15 Contra o mal está o bem, e contra a morte a vida; assim também contra o homem justo está o pecador. Considera assim todas as obras do Altíssimo; achá-las-ás duas a duas, e uma oposta à outra.

16 E eu fui o ultimo que despertei, e fui como o que ajunta os bagos atrás dos vindimadores.

17 Eu também esperei na bênção de Deus, e enchi o lagar como o que vindima.

18 Olhai que eu não trabalhei só para mim, mas para todos os que buscam a instrução.

19 Ouvi-me, ó grandes e todos os povos, e vós, os que presidis às assembleias, aplicai os ouvidos.

20 Ao teu filho, à tua mulher, ao teu irmão, ao teu amigo não dês em tua vida poder sobre ti; não dês a outro os bens que possuis, para que não suceda arrependeres-te disso e tomares a pedir-lhos.

21 Enquanto viveres e respirares, ninguém te faça mudar sobre este ponto.

22 porque melhor é que teus filhos te peçam, do que estares tu olhando para as mãos de teus filhos.

23 Em todas as tuas obras conserva a tua superioridade.

24 Não manches o teu bom nome. No dia em que terminar o curso da tua vida, no tempo da tua morte, reparte a tua herança.

25 Ao asno, penso, vara e carga; ao escravo, pão, correcção e trabalho.

26 Ele trabalha quando o castigam, doutra sorte não cuida senão em descansar; afrouxa-lhe as mãos, e buscará a liberdade.

27 O jugo e as correias fazem curvar o pescoço duro, assim as tarefas contínuas amansam o escravo.

28 Ao escravo malévolo, tortura e ferros: manda-o para o trabalho a fim de que não esteja ocioso,

29 porque a ociosidade ensina muita malícia.

30 Põe-no ao trabalho, porque assim lhe convém. Mas, se ele te não obedecer, aperreia-o com grilhões; porém não cometas excessos seja com quem for, e não faças coisa alguma grave sem ter reflectido.

31 Se tens um escravo fiel, estima-o como a ti próprio, trata-o como um irmão, porque o adquiriste à custa do teu sangue.

32 Se o tratares mal sem razão, fugir-te-á:

33 e se ele se afasta de ti e se retira, não saberás a quem perguntar, nem por que caminho o hás-de buscar.

Capítulo 34 Ver capítulo

1 É próprio do homem insensato sustentar-se de vãs esperanças e de mentira, e os sonhos dão asas à fantasia dos imprudentes.

2 Como o que procura agarrar uma sombra e vai atrás do vento, assim é o que atende a enganosas visões.

3 A visão dos sonhos é isto segundo aquilo, é como a imagem dum homem diante dele próprio.

4 Que coisa pura poderá vir dum impuro? E por um mentiroso que verdade será dita?

5 A adivinhação do erro, os agouros falsos e os sonhos dos malfeitores são vaidade.

6 O teu coração, como o da mulher que está de parto, padecerá imaginações. Se pelo Altíssimo te não foi enviada alguma destas visões, não ponhas nelas o teu coração,

7 porque os sonhos têm feito extraviar muitos, que caíram, por terem posto neles a sua confiança.

8 A palavra da lei será cumprida sem mentira, e a sabedoria será clara na boca do homem fiel.

9 Que sabe aquele que não foi provado? O homem experimentado em muitas coisas, tem muitos pensamentos; o que aprendeu muito, fala com sabedoria.

10 Aquele que não tem experiência, pouco sabe, mas o que se ocupou em muitos negócios adquire muita sagacidade.

11 Que sabe aquele que não foi tentado? O que foi enganado tornar-se-á muito esperto.

12 Muitas coisas tenho visto viajando, muitos costumes diferentes.

13 Algumas vezes me encontrei em perigo de morrer, por causa destas coisas, mas fui livre pela graça de Deus.

14 O espírito daqueles que temem a Deus, será procurado; quando Deus olhar para eles (o seu espirito) será abençoado.

15 Com efeito, a sua esperança está posta naquele que os salva, e os olhos de Deus estão sobre os que o amam.

16 Aquele que teme o Senhor de nada tremerá, e não terá pavor algum, porque ele mesmo é a sua esperança.

17 Bem-aventurada a alma daquele que teme o Senhor.

18 Para quem olha ela, e quem é a sua fortaleza?

19 Os olhos do Senhor estão sobre os que o temem; ele é um protector poderoso, um esteio forte, um abrigo contra o calor, uma protecção contra o ardor do meio-dia,

20 um sustentáculo contra o tropeção, um auxílio contra a queda; ele levanta a alma e alumia os olhos, dá saúde, vida e bênção.

21 A oblação daquele que sacrifica dos bens havidos com injustiça, é imunda, e não são agradáveis a Deus os escárnios dos injustos.

22 O Senhor é só para aqueles que o esperam no caminho da verdade e da justiça.

23 O Altíssimo não aprova os dons dos iníquos, não olha para as oblações dos maus, nem pela multidão dos seus sacrifícios lhes perdoará os seus pecados.

24 Aquele que oferece um sacrifício com os haveres dos pobres, é como o que degola um filho na presença de seu pai.

25 O pão dos necessitados é a vida dos pobres; aquele que lho tira é um homem sanguinário.

26 Quem tira a alguém o pão que ganhou com o seu suor, é como aquele que mata o seu próximo. Aquele que derrama sangue e o que defrauda o trabalhador, são irmãos.

28 Se um edifica, e outro destrói, que proveito lhes resulta daqui senão trabalho?

29 Se um ora, e outro amaldiçoa, de qual ouvirá Deus a voz?

30 Se alguém se lava, depois de ter tocado um morto, e o toca outra vez, de que lhe serve o ter-se lavado?

31 Assim se porta o homem, que jejua pelos seu pecados e que, de novo, os comete: que proveito tira da sua mortificação? Quem ouvirá a sua oração?

Capítulo 35 Ver capítulo

1 Aquele que observa a lei (por isso mesmo, como que) multiplica as oferendas.

2 É um sacrifício salutar estar atento aos mandamentos, e apartar-se de toda a iniquidade.

3 É oferecer um sacrifício de propiciação pelas injustiças e orar pelos pecados, o afastarmo-nos da injustiça.

4 Aquele que oferece a flor da farinha dá graças a Deus; e o que exerce a misericórdia oferece um sacrifício.

5 É agradável ao Senhor o fugir da iniquidade; é uma deprecação pelos pecados o retirar-se da injustiça.

6 Não apareças com as mãos vazias diante do Senhor,

7 porque todas estas coisas se fazem por causa do mandamento de Deus.

8 A oblação do justo torna pingue o altar, e é um suave perfume diante do Altíssimo.

9 O sacrifício do justo é agradável (a Deus), o Senhor não se esquecerá dele.

10 De bom ânimo tributa glória a Deus, e não diminuas as primícias de tuas mãos.

11 Tudo o que dás, dá-o com semblante alegre, santifica os teus dízimos com regozijo.

12 Dá ao Altíssimo segundo o que ele te tem dado, oferece-lhe com ânimo generoso, segundo as tuas posses,

13 porque o Senhor é remunerador, recompensar-te-á tudo sete vezes mais.

14 Não lhe ofereças donativos perversos, porque os não receberá.

15 Não esperes nada dum sacrifício injusto, porque o Senhor é juiz, e não há para ele distinção de pessoas.

16 O Senhor não fará acepção de pessoas contra o pobre, e ouvirá a oração do oprimido.

17 Não desprezará os rogos do órfão, nem a viúva que lhe fala com os seus gemidos.

18 Não correm as lágrimas à viúva pelas suas faces, e não clama ela contra aquele que lhas faz derramar?

19 Efectivamente, elas das faces (da viúva) sobem até ao céu, e o Senhor, que a ouve, não gostará de a ver chorar.

20 Aquele que adora a Deus com alegria será bem acolhido, e a sua prece chegará até às nuvens.

21 A oração do que se humilha penetrará as nuvens; ele não se consolará, enquanto ela não chegar (até Deus), e não se retirará, enquanto o Altíssimo não puser nela os olhos.

22 O Senhor não diferirá por muito tempo, mas julgará os justos e lhes fará justiça: o Fortíssimo não usará mais de paciência (com os opressores), mas quebrar-lhes-á o dorso.

23 Vingar-se-á das nações, até desfazer a multidão dos soberbos e quebrar os ceptros dos iníquos;

24 até retribuir aos homens segundo as suas acções, segundo as obras e presunção de (qualquer descendente de) Adão;

25 até fazer justiça ao seu povo e alegrar os justos com a sua misericórdia.

26 A misericórdia de Deus, no tempo da tribulação, é agradável, como a nuvem que se desfaz em chuva no tempo da seca.

Capítulo 36 Ver capítulo

1 Tem piedade de nós, ó Deus de todas as coisas, volta para nós os teus olhos e mostra-nos a luz das tuas misericórdias;

2 espalha o teu temor sobre as nações, que te não buscaram, para que elas reconheçam que não há outro Deus senão tu, e publiquem as tuas maravilhas,

3 Levanta a tua mão contra as nações estranhas, para que reconheçam o teu poder.

4 Assim como diante dos seus olhos mostraste em nós a tua santidade, assim também, à nossa vista, mostra nelas a tua grandeza,

5 para que reconheçam, como também nós reconhecemos, que fora de ti, Senhor, não há outro Deus.

6 Renova os teus prodígios, faze novas maravilhas,

7 glorifica a tua mão e o teu braço direito.

8 Excita o teu furor e derrama a tua ira.

9 Destrói o adversário e aflige o inimigo.

10 Apressa o tempo, lembra-te do fim, para que publiquem as tuas maravilhas.

11 Na voracidade das chamas consumido seja o que escapar, e os que tiranizam o teu povo caiam na perdição.

12 Esmaga a cabeça aos chefes dos inimigos, que dizem: Não há outro (Senhor) fora de nós.

13 Ajunta todas as tribos de Jacob, para que conheçam que não há outro Deus senão tu, para que publiquem as tuas grandezas, e sejam herança tua como o foram desde o principio.

14 Tem misericórdia do teu povo, que foi chamado do teu nome, e de Israel, a quem tu tens tratado como teu primogênito.

15 Tem piedade da cidade que santificaste, de Jerusalém, cidade do teu repouso.

16 Enche Sião das tuas palavras inefáveis, e o teu povo da tua glória.

17 Dá testemunho em favor daqueles que, desde o princípio, são tuas criaturas, e suscita (o cumprimento dos) oráculos que em teu nome proferiram os primeiros profetas.

18 Dá a recompensa aos que pacientemente esperam em ti, para que os teus profetas sejam achados fiéis; ouve as orações dos teus servos,

19 segundo a bênção de Aarão ao teu povo, e encaminha-nos pela estrada da justiça, a fim de que todos os que habitam a terra saibam que tu és o Deus que contempla os séculos.

20 O estômago recebe toda a casta de alimentos, mas entre os alimentos um é melhor que outro.

21 O paladar discerne pelo gosto o prato de caça, e o coração sensato as palavras mentirosas.

22 O coração depravado causa tristeza, mas o homem hábil resistir-lhe-á.

23 A mulher pode tomar por esposo a qualquer homem, mas entre as filhas uma é melhor que outra.

24 A formosura da mulher alegra o rosto do seu marido, e ultrapassa todos os desejos do homem.

25 Se a sua língua sabe curar, possui também a doçura e a bondade: o seu marido não será (infeliz ou pouco feliz) como os (outros) filhos dos homens.

26 O que possui uma mulher boa começa a formar a sua fortuna; tem um auxílio, que lhe é semelhante, e uma coluna de apoio.

27 Onde não há sebe, será roubada a fazenda; onde não há mulher, o homem suspira na indigência.

28 Quem é que se fia daquele que não tem ninho, que passa a noite onde quer que ela o surpreende, como salteador pronto para tudo, que vagueia de cidade em cidade?

Capítulo 37 Ver capítulo

1 Todo o amigo dirá: Eu também contraí amizade contigo. Porém há amigos que o são somente de nome. Não causa isto uma dor que se avizinha da morte.

2 que o companheiro e o amigo se convertam em inimigos?

3 Ó perversíssimo pensamento, onde tiveste a tua origem, para cobrir a terra com a tua malícia e com a tua perfídia?

4 Um amigo alegra-se com o seu amigo na prosperidade; no tempo da tribulação será seu adversário.

5 Um amigo condói-se do seu amigo, no interesse do seu ventre; à vista do inimigo, tomará o escudo.

6 Não te esqueças em teu coração do teu amigo, não percas a lembrança dele no meio da tua riqueza.

7 Não te aconselhes com aquele que te arma traições, e esconde os teus desígnios dos que te têm inveja.

8 Todo o que é consultado dá o seu conselho, mas há conselheiros que só atendem a si próprios.

9 Vê bem com quem te aconselhas; informa-te primeiro quais são os seus interesses, porque ele pensa neles dentro de si próprio.

10 Isto, para que não suceda talvez que finque na terra uma estaca,

11 e te diga: O teu caminho é bom — enquanto se põe do outro lado, para ver o que te acontecerá.

12 Consulta sobre santidade um homem sem religião, um injusto sobre justiça, uma mulher sobre outra de quem ela tem ciúme, um covarde a respeito de guerra, um negociante acerca do tráfico de mercadorias, um comprador sobre a venda, um invejoso sobre o reconhecimento.

13 um ímpio sobre a piedade, um desonesto sobre a honestidade, um operário do campo sobre qualquer trabalho

14 um jornaleiro por ano sobre o que ele deve fazer durante um ano, um servo preguiçoso a respeito dum grande trabalho!... Nunca te aconselhes com estes sobre tais coisas.

15 Comunica, sim, continuamente com um homem santo, que tu reconheceres fiel ao temor de Deus,

16 cuja alma é segundo a tua alma, e que se condoerá de ti, quando andares titubeando nas trevas.

17 Forma dentro de ti um coração de bom conselho, porque não tens outra coisa de maior preço do que ele.

18 A alma dum homem santo descobre algumas vezes melhor a verdade, do que sete sentinelas postadas num lugar elevado para atalaiar.

19 Mas sobre tudo pede ao Altíssimo que dirija o teu caminho em verdade.

20 Preceda todas as tuas obras a palavra verídica, e todos os teus empreendimentos nm conselho estável

21 Uma palavra má transtorna o coração, de que nascem quatro coisas: o bem e o mal, a vida e a morte; sobre elas quem domina de contínuo é a língua. Há homem hábil que ensina a muitos, mas que é inútil para si.

22 Outro é prudente e instrui a muitos, e é agradável (ou útil) a si próprio.

23 Aquele que usa duma linguagem pretenciosamente sábia é odioso; será privado de tudo.

24 Não lhe foi dada a graça pelo Senhor, porque carece de toda a sabedoria.

25 Há sábio, que é sábio para si: o fruto da sua sabedoria é louvável.

26 O homem sábio instrui o seu povo, e os frutos da sua sabedoria são estáveis.

27 O homem sábio será cheio de bênçãos, e louvá-lo-ão os que o virem.

28 A vida do homem reduz-se a um certo número de dias, porém os dias de Israel são inumeráveis.

29 O sábio herdará honra no seio do povo, e o seu nome viverá eternamente.

30 Filho, prova a tua alma durante a tua vida; se coisa lhe é prejudicial, não lha concedas,

31 porque nem todas as coisas convêm a todos, nem todas as pessoas se comprazem nas mesmas coisas.

32 Não sejas glutão em banquete algum, nem te lances a todos os pratos,

33 porque no excesso de alimento está a doença, e a intemperança conduz à cólica.

34 Por causa da intemperança morrem muitos; porém o homem sábio prolonga a sua vida.

Capítulo 38 Ver capítulo

1 Honra o médico, por causa da necessidade; com efeito, foi o Altíssimo que o criou.

2 Toda a medicina vem de Deus. e (o médico) receberá donativos do rei.

3 A ciência do médico exaltará a sua cabeça, e ele será louvado na presença dos grandes.

4 O Altíssimo produziu da terra os medicamentos; o homem prudente não os aborrecerá.

5 Porventura não foi por meio dum lenho que se tornou doce a água amargosa?

6 Ao conhecimento dos homens chegou a virtude dos medicamentos. O Altíssimo deu aos homens a ciência para ser por eles honrado nas suas maravilhas.

7 Com eles cura e mitiga a dor; o farmacêutico faz compostos agradáveis, compõe unguentos salutares, de forma que as criaturas de Deus não pereçam.

8 (Pela sua acção) a paz de Deus estende-se sobre a face da terra.

9 Filho, não te descuides na tua enfermidade, mas faze oração ao Senhor, e ele te curará.

10 Aparta-te do pecado, endireita as tuas mãos, purifica o teu coração de todo o delito.

11 Oferece um (incenso de) cheiro suave, uma lembrança de flor de farinha imola vitimas pingues; (depois disto) dá lugar ao médico,

12 pois para isso é que o Senhor o estabeleceu. E não se aparte de ti, porque te é necessária a sua assistência.

13 Virá tempo em que cairás nas mãos deles,

14 e eles mesmos rogarão ao Senhor que envie por meio deles o alívio e a saúde, em atenção à sua vida recta.

15 Aquele que peca na presença de quem o criou, virá a cair nas mãos do médico.

16 Filho, derrama lágrimas sobre o morto, põe-te a chorar como quem recebeu um rude golpe: enterra o seu corpo segundo o costume, e não desprezes a sua sepultura.

17 Chora-o amargamente durante um dia, para evitar a maledicência, e depois consola-te da tua tristeza;

18 Toma este nojo segundo o merecimento da pessoa, um dia ou dois, para não dares lugar à detracção.

19 Porque a tristeza faz apressar a morte, tira o vigor, e a melancolia do coração faz descair a cabeça.

20 A tristeza conserva-se na solidão; e a vida do pobre é como o seu coração.

21 Não entregues o teu coração à tristeza, mas lança-a fora de ti; lembra-te do teu fim. Não te esqueças dele, porque não há retorno; em nada aproveitarás ao morto, e a ti mesmo farás um grave dano.

23 Lembra-te da minha sorte (te dirá o morto): a tua será semelhante; ontem para mim, hoje para ti.

24 No repouso do morto deixa descansar a sua memória; e consola-o ao exalar o último suspiro.

25 O letrado adquire sabedoria no tempo do ócio, e o que tem poucas ocupações alcançará a sabedoria. De que sabedoria será cheio

26 o que pega no arado, que faz timbre de saber picar os bois com o aguilhão, que se ocupa constantemente com os trabalhos deles, e cuja conversação é somente sobre novilhos de touros?

27 Ele aplicará o seu coração em tirar (bem) os sulcos, e os seus desvelos em engordar as bezerras.

28 Assim sucede com todo o carpinteiro e arquitecto, que passa trabalhando a noite e o dia; com o que grava as figuras dos sinetes, e que todo se cansa em as variar, que aplica o seu coração em reproduzir o debuxo, e, à força de vigílias, completa a obra.

29 Assim sucede com o ferreiro, assentado ao pé da bigorna, atento ao ferro que está trabalhando; o vapor do fogo cresta as suas carnes, e ele aguenta-se contra o calor da frágua.

30 O estrondo do martelo fere-lhe sem cessar os ouvidos, e os seus olhos estão fixos no modelo da sua obra.

31 Aplica o coração a completar os seus trabalhos, com o seu desvelo os aformoseia, dando-lhes a última demão.

32 Assim sucede com o oleiro que, assentado a realizar a sua tarefa, dá voltas à roda com os pés, sempre cuidadoso pela sua obra, levando por conta tudo o que faz.

33 Com seu braço dá forma ao barro, e com os seus pés torna-o flexível.

34 Ele aplica o seu coração a vidrar a obra perfeitamente, e a sua diligência em limpar o forno.

35 Todos estes têm confiança na indústria das suas mãos, e cada um é sabido na sua arte.

36 Sem eles não se edificaria uma cidade.

37 não se habitaria nela, nem se passearia. Porém esses mesmos não entrarão nas assembleias.

38 não se assentarão nas cadeiras dos juízes, não entenderão as leis da justiça, não ensinarão as regras da moral nem do direito, e não se acharão ocupados nas parábolas.

39 Entretanto sustentam as coisas temporais, e os seus votos são para fazerem bem as obras da sua arte.

Capítulo 39 Ver capítulo

1 Outrotanto não sucede com o que aplica o seu espirito à lei do Altíssimo e nela medita. Investiga a sabedoria de todos os antigos, e dedica-se ao estudo dos profetas. Conserva no seu coração as narrações dos homens célebres, e penetra também nas subtilezas das parábolas.

3 Indaga o sentido oculto dos provérbios, e ocupa-se dos enigmas das parábolas.

4 serve no meio dos grandes, e aparece diante do que governa. Percorre a terra de nações estranhas, para reconhecer o que há de bom e mau entre os homens.

6 Aplica o seu coração a velar de madrugada, ante o Senhor que o criou, e na presença do Altíssimo faz a sua oração. Abre a sua boca para orar, e pede perdão de seus pecados.

8 Se o soberano Senhor assim o quiser, enchê-lo-á do espirito de inteligência,

9 e, então, ele derramará as palavras da sua sabedoria como chuva, e na oração louvará o Senhor.

10 Regulará os seus conselhos e instruções e meditará nos segredos de Deus.

11 Exporá publicamente a doutrina que aprendeu e fará consistir a sua glória na lei da aliança do Senhor.

12 Muitos louvarão a sua sabedoria, que jamais ficará no esquecimento.

13 Não perecerá a sua memória, e o seu nome será repetido de geração em geração.

14 As nações publicarão a sua sabedoria, e a assembleia publicará o seu louvor.

15 Enquanto viver, terá maior reputação do que mil outros, e, quando repousar, a sua fama aumentará com isso.

16 Quero ainda continuar a expor as minhas reflexões, porque estou cheio de entusiasmo.

17 Uma voz me diz; Ouvi-me vós, que sois rebentos divinos, e, como rosal plantado sobre as correntes das águas, frutificai.

18 Difundi um cheiro suave como o Líbano.

19 Dai flores como o lírio, exalai perfume, lançai graciosos ramos, entoai cantos de louvor e bem-dizei o Senhor nas suas obras.

20 Proclamai magnificentemente o seu nome, glorificai-o com a voz dos vossos lábios, com os cânticos da vossa boca e ao som das harpas. Direis assim em seu louvor:

21 Todas as obras do Senhor são muito boas.

22 À sua voz conteve-se a água como um montão, a uma palavra da sua boca, as águas recolheram-se como em reservatórios.

23 À sua ordem, tudo o que lhe apraz se realiza, e a salvação que ele dá, não será apoucada.

24 Estão à sua vista as acções de todos os homens, não há nada escondido a seus olhos.

25 O seu olhar estende-se de século em século, e nada é maravilhoso para ele.

26 Não se pode dizer: Que é isto, ou que é aquilo? Com efeito, todas as coisas foram criadas para seus usos.

27 A sua bênção é como um rio que inunda.

28 Como o dilúvio inundou a terra, assim a ira do Senhor será a sorte das gentes que o não buscaram.

29 Assim como ele converteu as águas em secura, e a terra ficou enxuta, e os seus caminhos são dirigidos aos caminhos deles, assim, na sua ira, (esses mesmos caminhos) são, para os pecadores, motivos de queda.

30 Os bens, desde o princípio, foram criados para os bons, e os males (foram criados) para os maus.

31 As coisas mais necessárias à vida do homem são; a água, o fogo, o ferro, o sal, o leite, o pão da flor da farinha, o mel, as uvas, o azeite e o vestuário.

32 Assim como todas estas coisas são um bem para os bons, assim para os ímpios e pecadores se tornam em mal.

33 Há espíritos que foram criados para a vingança, e no seu furor fazem com que os maus sofram continuamente os seus castigos.

34 No tempo do extermínio eles empregarão a sua força, aplacarão o furor daquele que os criou.

35 O fogo, a saraiva, a fome e a morte, todas estas coisas foram criadas para castigo,

36 (como também) os dentes das feras, os escorpiões, as serpentes, e a espada que pune os ímpios até ao extermínio.

37 (Todas estas coisas) executarão com alegria as ordens do Senhor, estarão prestes sobre a terra no momento necessário, e, chegando o tempo, executarão pontualmente as suas ordens.

38 Por isso desde o princípio estou convencido disto, que meditei e deixei por escrito.

39 Todas as obras do Senhor são boas, e cada uma delas, chegada a sua hora, fará o seu serviço.

40 Não se pode dizer: Isto é pior do que aquilo — porque todas as coisas serão achadas boas a seu tempo.

41 E agora, de todo o coração e com a boca, louvai, e bem-dizei o nome do Senhor.

Capítulo 40 Ver capítulo

1 Grande preocupação foi imposta a todos os homens, pesado jugo carrega sobre os filhos de Adão, desde o dia em que eles saem do ventre de sua mãe, até ao da sua sepultura (em que eles entram) no seio da mãe comum de todos;

2 Os seus pensamentos, os temores do coração, a apreensão do que esperam e o dia em que tudo acaba, (perturbam-nos a todos),

3 desde o que está sentado sobre um trono de glória, até àquele que jaz abatido na terra e na cinza;

4 desde aquele que está vestido de purpura e traz coroa, até ao que se cobre de pano grosseiro. Furor, inveja, inquietação, perplexidade, temor da morte, rancor obstinado e contendas (tudo isto faz sofrer o homem).

5 Até no tempo em que repousa na cama, o sono da noite lhe perturba as ideias.

6 Breve ou quase nenhum é o seu repouso, e ainda no seu mesmo sono, como sentinela que está de guarda,

7 é perturbado pelas visões do seu coração, como quem foge no dia da batalha; quando se imagina salvo, desperta, e admira-se do seu vão temor.

8 Isto acontece a todos os viventes, desde os homens até aos animais, mas para os pecadores é sete vezes pior.

9 Além disso, a morte, o sangue, as contendas, a espada, as opressões, a fome a ruína e os (outros) flagelos,

10 tudo isto foi criado para os maus. e por causa deles (é que também) veio o dilúvio.

11 Tudo o que é da terra, tornar-se-á em terra, como todas as águas voltam ao mar.

12 Toda a dádiva (oferecida para corromper) e toda a (riqueza adquirida com) iniquidade perecerão, porém a rectidão subsistirá eternamente.

13 As riquezas dos injustos secar-se-ão como uma torrente, e farão muito estrondo como um grande trovão quando chove.

14 Alegrar-se-á o homem, ao abrir as suas mãos; porém os prevaricadores serão completamente consumidos.

15 Os descendentes dos ímpios não multiplicarão os ramos: são como raízes viciadas que se agitam no alto dum rochedo.

16 A verdura que cresce sobre as águas, à borda dum rio, será arrancada antes de toda a outra erva.

17 A bondade é como um paraíso de bênçãos, e a misericórdia permanece para sempre.

18 A vida do operário que se basta a si próprio será doce; acharás nela um tesouro.

19 Os filhos e a fundação duma cidade dão fama duradoira, mas será preferida a tudo isto uma mulher irrepreensível.

20 O vinho e a música alegram o coração, mas o amor da sabedoria excede ambas estas coisas.

21 A flauta e a harpa produzem uma suave melodia, mas a língua doce sobrepuja ambas estas coisas. A graça e a beleza deleitam a tua vista, mas a verdura dos campos leva vantagem a ambas estas coisas.

23 O amigo e o companheiro auxiliam-se mutuamente na ocasião (própria), mas, mais do que estes dois, a mulher e o marido.

24 Os irmãos são um auxílio no tempo da tribulação; porém a misericórdia livrará mais do que eles.

25 O ouro e a prata são a firmeza dos pés; mas um bom conselho excede ambas estas coisas.

26 As riquezas e a força exaltam o coração; mas o temor do Senhor avantaja-se a estas duas coisas. Nada falta ao que tem o temor do Senhor, e com ele não há necessidade de outro auxílio.

28 O temor do Senhor é como um paraíso bem-dito; acha-se revestido duma glória superior a toda a glória.

29 Filho, não leves vida de mendicante, porque é melhor morrer do que mendigar.

30 A vida do homem, que se atém à mesa alheia, não é realmente vida, porque se alimenta com manjares dos outros.

31 Mas o varão bem educado e instruído se guardará disto.

32 Na boca do insensato será doce a mendicidade, mas em seu ventre arderá como fogo.

Capítulo 41 Ver capítulo

1 ó morte, quão amarga é a tua memória para o homem que tem paz no meio das suas riquezas, para o homem tranqüilo e afortunado em tudo, e que aluda se encontra em estado de tomar alimento !

3 Ó morte, que doce é a tua sentença para o homem necessitado, que se acha falto de forças,

4 para o homem já decrépito e consumido de cuidados, e para o que se vê sem esperança (de melhoras), e a quem falta a paciência!

5 Não temas o decreto da morte. Lembra-te dos que existiram antes de ti, e dos que virão depois de ti: É um decreto que o Senhor promulgou para todos os mortais.

6 Que coisa te sobrevirá de acordo com o beneplácito do Altíssimo? Viva um homem dez, cem ou mil anos.

7 na morada dos mortos não se toma em conta a (duração da) vida.

8 Os filhos dos pecadores tornam-se (ordinariamente) filhos de abominação, assim como os que frequentam as casas dos ímpios.

9 A herança dos filhos dos pecadores perecerá, e com a sua linhagem andará continuamente o opróbrio.

10 Os filhos dum ímpio queixam-se do seu pai, pois se acham, por causa dele, no opróbrio.

11 Desgraçados de vós homens ímpios, que deixastes a lei do Senhor Altíssimo!

12 Se nasceis, na maldição nasceis, se morreis, a maldição é a vossa herança.

13 Tudo o que é da terra tornar-se-á em terra; assim os ímpios (cairão) da maldição na perdição.

14 O pranto dos homens é sobre o seu cadáver, mas o nome dos ímpios será apagado do mundo.

15 Tem cuidado da tua boa reputação, poi-que esta será para ti um bem mais estável do que mil tesouros grandes e preciosos.

16 A vida boa tem somente um certo número de dias, mas o bom nome permanecerá para sempre.

17 Conservai, filhos, em paz a minha instrução, porque, se a sabedoria está escondida e o tesouro é invisível, que utilidade pode haver em ambas estas coisas?

18 Melhor é o homem que esconde a sua estultícia, do que o homem que esconde a sua sabedoria.

19 Tende, pois, vergonha do que vos vou indicar,

20 porque não é bom ter vergonha de tudo, nem todas as coisas são julgadas por todos segundo a verdade.

21 Envergonhai-vos da fornicação, diante do vosso pai e da vossa mãe, e da mentira, diante do que governa e do poderoso;

22 de um delito diante do príncipe e do juiz; da iniquidade diante da assembleia e do povo;

23 da injustiça diante do companheiro e do amigo;

24 de cometer algum furto, no lugar em que habitas, por causa da verdade de Deus e da sua aliança: de apoiar, (à mesa), o cotovelo sobre os pães; de usar de engano, no dar e receber;

25 de não responder aos que te saúdam; de fixar os olhos na mulher prostituta; de voltar o rosto a um parente.

26 Não voltes o rosto para não veres o teu próximo, e envergonha-te de lhe tirar a parte que lhe toca, e de lha não restituires.

27 Não olhes para a mulher alheia; não te entretenhas com a sua criada, nem te ponhas junto do seu leito.

28 (envergonha-te) de dizer palavras injuriosas aos teus amigos; quando tiveres dado alguma coisa, não a lances em rosto.

Capítulo 42 Ver capítulo

1 Não repitas o que tiveres ouvido, não reveles um segredo; assim serás verdadeiramente isento de confusão, e acharás graça diante de todos os homens. Não te envergonhes de coisa alguma das que te vou dizer, e não tenhas respeito humano, até ao ponto de pecar.

2 Não te envergonhes da lei do Altíssimo e da sua aliança, da sentença que absolve o ímpio (naquilo em que está inocente),

3 de tratar com companheiros e peregrinos, de legar os bens aos amigos,

4 da fidelidade da balança e dos pesos, da aquisição do muito ou do pouco,

5 do preço da venda dos negociantes, da correcção freqüente dos filhos, de açoutar o dorso do escravo péssimo até que salte o sangue.

6 Sobre a mulher má, bom é pôr-se o selo.

7 Onde há muitas mãos, guarda (tudo) fechado, e, tudo quanto entregares, dá-o por conta e por peso; aponta tudo o que deres e receberes.

8 (Não te envergonhes) de corrigir o insensato e o néscio, nem (de defender) os velhos, que são condenados pelos jovens; assim te mostrarás sábio em tudo, e serás bem visto diante de todos os vivos.

9 Uma filha é para seu pai uma oculta preocupação, o cuidado dela tira-lhe o sono: receia que passe a flor da sua idade sem se casar, ou que, quando enfim estiver com seu marido, lhe seja odiosa;

10 receia que na sua virgindade seja corrompida, e se ache pejada na casa de seu pai, ou que, habitando com seu marido, falte à fé conjugal, ou seja estéril.

11 Sobre a filha desenvolta vigia com dobrado resguardo, para que não faça de ti o opróbrio dos teus inimigos, o objecto de detracção da cidade e do ludíbrio da plebe, e te envergonhe diante da multidão do povo.

12 Não fixes os olhos sobre a beleza de ninguém, nem te detenhas no meio de mulheres.

13 porque dos vestidos sai a traça, e da mulher a maldade do homem.

14 É melhor a malvadez do homem que a bondade da mulher, quando esta é um motivo de confusão e de vergonha.

15 Lembrar-me-ei das obras do Senhor, e anunciarei o que tenho visto. Pelas palavras do Senhor existem as suas obras.

16 O Sol contempla todas as coisas, que Ilumina; a glória do Senhor enche a sua obra.

17 Porventura não fez o Senhor que os Santos publicassem todas as suas maravilhas, as quais o mesmo Senhor omnipotente solidamente estabeleceu, para que subsistam para sua glória?

18 Ele sonda o abismo e o coração dos homens, e penetra os seus pensamentos mais subtis.

19 Realmente o Senhor conhece toda a ciência, contempla os sinais do tempo (que há-de vir), manifesta o passado e o futuro, descobre os rastos das coisas ocultas.

20 Não lhe escapa nenhum pensamento, não se esconde dele palavra alguma.

21 Adornou as maravilhas da sua sabedoria. Existe antes dos séculos e para sempre. Nada se lhe pode acrescentar,

22 nem diminuir, nem necessita do conselho de ninguém.

23 Quão amáveis são todas as suas obras! E todavia não podemos ver delas mais que uma centelha.

24 Todas estas coisas vivem e permanecem para sempre, e, em tudo o que é preciso, todas lhe obedecem.

25 Todas as coisas se acham aos pares, uma oposta à outra; (Deus) nada fez que ficasse incompleto.

26 Confirmou os bens (ou as propriedades) de cada uma Quem se saciará de contemplar a sua glória?

Capítulo 43 Ver capítulo

1 O firmamento é a formosura do céu, e a abóbada celeste é um espectáculo de majestade.

2 O Sol, ao sair, glorifica o Senhor; é um vaso admirável, uma obra do Excelso.

3 Ao meio-dia queima a terra; quem pode suportar o seu ardor? O ferreiro serve-se da forja para trabalhar ao fogo;

4 O Sol abrasa três vezes mais os montes, despedindo raios de fogo, cujo resplendor deslumbra os olhos.

5 Grande é o Senhor que o criou; ele apressa a sua carreira para lhe obedecer.

6 A lua, em todas as suas revoluções, é a marca dos tempos e o sinal do futuro.

7 Os dias de festa são determinados pela lua, cujo brilho diminui, depois de atingir o máximo.

8 O mês toma dela o nome; ela cresce, dum modo admirável, até ficar cheia.

9 É o farol dos exércitos das alturas; brilha gloriosamente no firmamento dos céus.

10 O brilho das estrelas é a beleza do céu, (por elas) o Senhor ilumina o mundo nas alturas.

11 A palavra do Santo estão prontas a executar as suas ordens, e nunca se cansam de fazer sentinela.

12 Contempla o arco-íris e bem-dize aquele que o fez; é muito formoso no seu resplendor.

13 Ele cerca o céu com um círculo de glória; são as mãos do Excelso que o estendem.

14 O Senhor com o seu império faz precipitar a neve, e acelera os raios (para a execução) dos seus juízos.

15 Por esta causa se abrem os seus tesouros, e voam as nuvens como aves.

16 Pela grandeza do seu poder condensa as nuvens, e fragmentam-se as pedras da saraiva.

17 Quando ele aparece, abalam-se os montes, e ao seu querer, sopra o vento do meio-dia.

18 A voz do seu trovão fere a terra, a tempestade do norte e o redemoinho dos ventos (causam destruição).

19 Espalha a neve como aves que pousam sobre a terra; ela cai na terra como gafanhotos que se abatem sobre o solo.

20 Os olhos admiram a beleza da sua brancura, e o coração maravilha-se de a ver cair.

21 Ele derrama sobre a terra a geada como sal; quando esta se congela, torna-se como em pontas de abrolhos.

22 Sopra o vento frio do norte, e a água congela como um cristal, que repousa sobre todos os depósitos de águas, revestindo-as como de uma couraça.

23 Devora os montes, queima os desertos, seca a verdura como fogo.

24 O remédio de todos estes males é uma nuvem que venha depressa; um orvalho, que sobrevenha temperado, abrandará o seu rigor.

25 A uma palavra sua, acalma-se o vento; só com o seu pensar, aplaca o mar profundo, no meio do qual o Senhor plantou as ilhas.

26 Os que navegam sobre o mar, contem os seus perigos, que nós, escutando-os nos admiraremos.

27 Ali se encontram obras preclaras e maravilhosas, alimárias de todas as espécies e criaturas monstruosas.

28 Graças a ele tudo pende para o seu fim, por uma ordem estável; a sua palavra regula todas as coisas.

29 Por muito que digamos, muito nos ficará por dizer, mas o resumo de todo o nosso discurso é este: Ele está em todas as coisas.

30 Que podemos nós para o glorificar? Sendo o Todo-Poderoso, é superior a todas as suas obras.

31 O Senhor é terrível e soberanamente grande, maravilhoso o seu poder.

32 Glorificai o Senhor quanto puderdes, que ele ficará sempre acima (dos vossos louvores), porque é admirável a sua magnificência.

33 Bem-dizei o Senhor, exaltai-o quanto puderdes, porque ele está acima de todo o louvor.

34 Para o exaltar, revesti-vos de toda a fortaleza, não vos canseis (de o exaltar), porque jamais chegareis ao fim.

35 Quem o poderá ver e descrever? Quem o poderá engrandecer, como ele é, desde o princípio?

36 Muitas obras suas, maiores do que estas, nos são escondidas, pois nós somente vemos um pequeno número delas.

37 O Senhor fez todas as coisas, e deu sabedoria aos que vivem piamente.

Capítulo 44 Ver capítulo

1 Louvemos os varões ilustres, nossos maiores, a cuja geração pertencemos.

2 O Senhor operou (neles) muita glória. (manifestou) a sua magnificência desde o princípio.

3 Eles governaram os seus estados, foram homens grandes em poder e dotados de prudência; as predições que anunciaram adquiriram-lhes a dignidade de profetas;

4 governaram o povo do seu tempo, e com a virtude da prudência deram instruções muito santas aos povos.

5 Com a sua habilidade compuseram melodias, escreveram cânticos das escrituras.

6 Eram homens ricos, poderosos, dados ao culto da beleza, pacíficos em suas casas. Todos eles alcançaram glória entre as gerações do seu povo, e foram louvados no seu tempo.

8 Os que deles nasceram deixaram um nome, que faz recordar os seus louvores.

9 Há outros, cuja memória já não existe: pereceram, como se não tivessem existido, nasceram, como se não tivessem nascido, — eles e os seus filhos.

10 Porém aqueles foram varões de misericórdia, cujas obras de piedade não foram esquecidas.

11 Na sua descendência permanecem os seus bens;

12 os seus netos são uma santa herança, a sua posteridade manteve-se (fiel) na aliança (de Deus).

13 É por causa deles que os seus filhos permanecem para sempre; nem a sua raça nem a sua glória terão fim.

14 Os seus corpos foram sepultados em paz, e o seu nome vive de geração em geração.

15 Celebrem os povos a sua sabedoria, publiquem-se os seus louvores nas assembleias.

16 Henoch agradou a Deus; foi transportado ao paraíso, para excitar as nações à penitência.

17 Noé foi encontrado perfeito e justo, e no tempo da ira tornou-se a reconciliação (dos homens).

18 Por isso foram deixados uns restos (de seres vivos) sobre a terra, quando veio o dilúvio.

19 Com ele foi feita uma aliança eterna, para que não pudesse ser destruída por outro dilúvio toda a carne.

20 Abraão foi o glorioso pai duma multidão de nações, e não foi encontrado outro semelhante a ele em glória. Guardou a lei do Excelso, e com ele entrou em aliança.

21 Em sua carne (o Senhor) marcou esta aliança; na prova foi achado fiel.

22 Por isso jurou o Senhor que o havia de glorificar na sua descendência, que ele se multiplicaria como o pó da terra.

23 que exaltaria a sua posteridade como as estrelas, e que lhe daria por herança (o continente) de mar a mar, e desde o rio (Eufrates) até às extremidades da terra,

24 Com Isaac procedeu do mesmo modo, por amor de Abraão, seu pai.

25 O Senhor deu-lhe a bênção de todas as nações, e confirmou a sua aliança sobre a cabeça de Jacob.

26 Distinguiu-o com suas bênçãos, deu-lhe a herança, e repartiu-lha entre as doze tribos. E conservou-lhe homens de misericórdia, que fossem amados por todas as gentes.

Capítulo 45 Ver capítulo

1 Moisés foi amado de Deus e dos homens; a sua memória está em bênção.

2 (O Senhor) fê-lo semelhante em glória aos santos, engrandeceu-o e tornou-o terrível aos seus inimigos; (o mesmo Senhor) com as palavras dele (Moisés) fez cessar os prodígios.

3 Glorificou-o diante dos reis, prescreveu-lhe preceitos diante do seu povo, e fez-lhe ver a sua glória.

4 Pela sua fé e mansidão o santificou, e o escolheu dentre todos os homens. (Deus) ouviu-o a ele, escutou a sua voz, e fê-lo entrar na nuvem.

6 Deu-lhe os seus preceitos, frente a frente; e a lei da vida e da ciência, para ensinar a sua aliança a Jacob, e as suas ordens a Israel.

7 Exaltou seu irmão Aarão, semelhante a ele, da tribo de Levi.

8 Estabeleceu com ele um pacto eterno, deu-lhe o sacerdócio do seu povo, encheu-o de felicidade e de glória,

9 cingiu-o dum cinto de honra, revestiu-o duma vestidura de glória, coroou-o com as insígnias do poder.

10 Pôs-lhe a vestidura talar, a túnica interior e o éfode, com uma cercadura de numerosas campainhas ouro,

11 a fim de que elas tocassem quando ele andasse, e se ouvisse o seu som no templo para advertir os filhos do seu povo.

12 (Deu-lhe) uma vestidura santa, tecida de ouro, de jacinto e de púrpura, obra dum varão sábio, dotado de juízo e de verdade.

13 Era uma obra de artista, de fio de escarlate, com pedras preciosas gravadas encastoadas em ouro, e trabalhadas por indústria do lapidário, para memória das doze tribos de Israel.

14 Sobre a sua tiara (colocou) uma coroa de ouro, onde estava gravado o selo da santidade e a glória soberana; era uma obra primorosa e um adorno que arrebatava os olhos.

15 Não houve, nunca, antes deste (adorno sacerdotal) coisas tão preciosas, desde o princípio do mundo.

16 Dele se não vestiu pessoa alguma doutra família, mas só os seus filhos e os seus netos, por todo o decurso das idades.

17 Os seus sacrifícios eram diariamente consumidos pelo fogo.

18 Moisés encheu-lhe as mãos, e ungiu-o com óleo santo.

19 Foi-lhe concedido, por um pacto eterno, e aos seus descendentes enquanto durarem os dias do céu, o exercer as funções do sacerdócio, cantar os louvores (de Deus), e abençoar o seu povo em seu nome.

20 Ele o escolheu dentre os viventes para oferecer a Deus o sacrifício, o incenso e o perfume de lembrança, e para fazer a expiação pelo povo.

21 Deu-lhe poder relativamente aos seus preceitos e às disposições dos seus julgamentos, para ensinar os seus mandamentos a Jacob, e para dar a Israel a inteligência da sua lei.

22 Sublevaram-se contra ele uns estranhos (ao sacerdócio); por inveja o cercaram no deserto homens, que eram do partido de Datan e Abiron, e a facção de Coré, toda acesa em ira.

23 Viu isto o Senhor Deus, e não lhe agradou, e foram consumidos pela impetuosidade da sua cólera.

24 Operou contra eles prodígios, e consumiu-os com chamas de fogo.

25 Acrescentou a glória a Aarão, deu-lhe uma herança, concedeu-lhe as primícias dos frutos da terra.

26 Nas primícias preparou-lhe alimento em abundância; com efeito (os sacerdotes) devem comer dos sacrifícios do Senhor, os quais lhe deu a ele e à sua descendência. Mas não tem herança na terra das nações. nem porção entre os do seu povo, porque o mesmo Deus é a sua porção e herança.

28 Fineias, filho de Eleazar, é o terceiro em glória, imitando-o (a Moisés) no temor do Senhor.

29 Permaneceu firme no meio da queda vergonhosa do povo; pela bondade e zelo da sua alma aplacou Deus em favor de Israel.

30 Por isso é que Deus fez com ele uma aliança de paz, constituindo-o príncipe do santuário e do seu povo. a fim de que a dignidade sacerdotal pertencesse sempre a ele e à sua descendência.

31 (Deus) também fez uma aliança (semelhante) com o rei Davide, filho de Jessé, da tribo de Judá, constituindo-o herdeiro (do reino), a ele e à sua linhagem, a fim de dar sabedoria ao nosso coração, e julgar o seu povo com justiça. para que não se perdesse a sua felicidade. É tornou eterna a glória destes (rarões) em sua nação.

Capítulo 46 Ver capítulo

1 Josué, filho de Nun, valente na guerra, sucedeu a Moisés na missão de profeta; foi grande, grande como denota o seu nome, multo grande salvador dos escolhidos de Deus, para derrotar os inimigos que contra ele se levantavam, a fim de conseguir para Israel a sua herança.

3 Que glória não alcançou ele em levantar as suas mãos, e em brandir a lança contra as cidades (dos Amorreus)!

4 Quem antes dele combateu assim? De facto, o mesmo Senhor lhe trouxe às mãos os seus inimigos. Não é assim que, por impulso do seu zelo, o sol parou, e que um só dia se tornou tão longo como dois?

6 Ele invocou o Altíssimo Poderoso, quando atacava os inimigos por todas as partes, e o grande e santo Deus o ouviu, e fez cair saraiva de grande força. Investiu impetuosamente contra as hostes Inimigas, e derrotou os contrários na descida (do vale),

8 para que as nações conhecessem o poder divino, (e aprendessem) que não é fácil pelejar contra Deus. Ele seguiu sempre o Todo-Poderoso,

9 e nos dias de Moisés fez uma acção de misericórdia, ele e Caleb, filho de Jefone, resolvendo fazer frente ao inimigo, impedindo o povo de pecar, e apaziguando a murmuração que a malícia tinha excitado.

10 Sendo escolhidos estes dois, foram livres de perigo, dentre o número de seiscentos mil homens de pé, para introduzir o povo na sua herança, na terra que mana leite e mel.

11 O Senhor deu fortaleza ao mesmo Caleb; o seu vigor durou até à velhice, para subir a um lugar elevado do país, que a sua descendência possuiu por herança,

12 para que todos os filhos de Israel vissem que é bom obedecer ao Deus santo.

13 Em seguida vieram os juízes, apontados cada um por seu nome, cujo coração não foi pervertido, e que não se apartaram do Senhor.

14 para que a sua memória seja abençoada, para que os seus ossos reverdeçam nos sepulcros,

15 e dure perpétuamente o seu nome, passando aos seus filhos com a glória desses santos varões.

16 Samuel, profeta do Senhor, amado do Senhor seu Deus, instituiu um governo novo, e ungiu príncipes na sua nação.

17 Julgou o povo segundo a lei do Senhor, e Deus olhou propiciamente para Jacob. Pela sua fidelidade manifestou-se como profeta,

18 foi reconhecido fiel nas suas palavras, porque viu o Deus de luz.

19 Invocou o Senhor omnipotente, quando os inimigos o cercavam de todos os lados, e ofereceu um cordeiro sem mancha.

20 O Senhor trovejou do céu, com um grande estrondo fez ouvir a sua voz,

21 e destroçou os príncipes de Tyro e todos os chefes dos Filisteus.

22 Antes do tempo do sono eterno, deu testemunho, na presença do Senhor e do seu Ungido, de que não tinha recebido, de pessoa alguma, dinheiro nem sequer umas sandálias, e ninguém o pôde acusar.

23 Depois disto, Samuel morreu e apareceu ao rei (Saul), predizendo-lhe o fim da sua vida; levantou a sua voz de debaixo da terra, profetizando, para destruir a impiedade do povo.

Capítulo 47 Ver capítulo

1 Depois disto, levantou-se Natan profeta no tempo de Davide.

2 Assim como a gordura da vítima se separa da carne, assim Davide foi separado (ou escolhido) dentre os filhos de Israel.

3 Brincou com os leões como com cordeiros, e tratou os ursos como cordeirinhos.

4 Não foi ele quem, na sua mocidade, matou o gigante, e quem tirou o opróbrio do seu povo?

5 Levantando a mão, com a pedra da funda fez cair por terra o orgulho de Golias,

6 porque ele invocou o Senhor Todo-Poderoso, o qual deu à sua dextra força para derrubar um homem valente na guerra, e para exaltar o poder do seu povo. Também foi celebrado por causa (da morte) dos dez mil homens, tornou-se ilustre com as bênçãos do Senhor, e foi-lhe oferecida uma coroa de glória,

8 porque desbaratou os inimigos por todas as partes, exterminou os Filisteus, seus adversários, até ao dia de hoje, abateu o seu poder para sempre.

9 Em todas as suas obras deu graças ao Santo e ao Excelso com palavras de louvor.

10 Louvou o Senhor de todo o seu coração, amou a Deus que o criou e lhe deu força contra os inimigos.

11 Estabeleceu cantores para estarem diante do altar, e compôs suaves melodias para os seus cânticos.

12 Deu esplendor às festividades, brilho aos dias solenes até ao fim da sua vida, para que louvassem o santo nome do Senhor, e engrandecessem desde manhã a santidade de Deus.

13 O Senhor o purificou dos seus pecados, exaltou para sempre o seu poder, e assegurou-lhe, por um pacto, a realeza e um trono de glória em Israel.

14 Sucedeu-lhe seu filho sábio; o Senhor, por amor dele, destruiu todo o poder dos seus inimigos.

15 Salomão reinou em dias de paz; Deus submeteu-lhe todos os seus inimigos, para que fundasse uma casa ao seu nome, e lhe preparasse um santuário eterno. Quão bem instruído foste na tua mocidade!

16 Foste cheio de sabedoria, como um rio. A tua alma cobriu a terra,

17 e encheste-la de sentenças misteriosas. O teu nome tornou-se célebre até às ilhas remotas, e foste amado na tua paz.

18 Os teus cânticos, provérbios, parábolas e interpretações foram admirados por toda a terra.

19 Em nome do Senhor Deus, que é chamado o Deus de Israel,

20 ajuntaste ouro, como se fosse estanho, e amontoaste prata como chumbo;

21 (mas) depois inclinaste-te para as mulheres, entregaste à libertinagem o teu corpo,

22 puseste mácula na tua glória, profanaste a tua geração, fazendo com que viesse a ira sobre os teus filhos, o castigo sobre a tua loucura,

23 causando com isso um cisma no reino, e fazendo sair de Efraim uma dominação cruel.

24 Mas Deus não abandonará a sua misericórdia, não destruirá nem aniquilará as suas obras, não arrancará pela raiz a posteridade de (Daride) seu escolhido, não exterminará a linhagem desse varão amante do Senhor.

25 Por isso deixou um resto a Jacob, e a Davide (um rebento) da sua linhagem.

26 E morreu Salomão com seus pais.

27 Deixou depois de si um filho, (que foi causa da) loucura do povo.

28 um homem falto de prudência, chamado Roboão, que afastou de si o povo com o seu (mau) conselho;

29 e Joroboão, filho de Nabat, que fez pecar Israel, e abriu a Efraim o caminho do pecado. Houve grandíssima inundação dos seus crimes,

30 por causa dos quais foram muitas vezes lançados fora da sua terra.

31 (Israel) entregou-se a todo o género de maldades, até que veio a vingança, que pôs um termo a todos os pecados.

Capítulo 48 Ver capítulo

1 Surgiu depois o profeta Elias, como um fogo. As suas palavras ardiam como um facho. Fez vir sobre eles a fome. Os que o irritavam pela sua inveja foram reduzidos a um pequeno número, porque não podiam suportar os preceitos do Senhor.

3 Com a palavra do Senhor fechou o céu, e fez cair fogo do mesmo céu por três vezes.

4 Quão glorioso te tornaste, Elias, pelos teus prodígios! Quem pode gloriar-se de ser como tu?

5 Tu que fizeste sair um morto do sepulcro, arrancando-o à morte, em virtude da palavra do Senhor Deus;

6 que precipitaste os reis na desgraça, que desfizeste sem trabalho o seu poder, e, no meio da sua glória, os fizeste cair do leito (na sepultura); que ouviste sobre o Sinai o juízo do Senhor, e sobre o Horeb os decretos da sua vingança;

8 que sagraste reis para vingar crimes, e estabeleceste profetas para teus sucessores;

9 que foste arrebatado (ao céu) num redemoinho de fogo, num carro tirado por cavalos ardentes;

10 tu, que foste designado nos decretos dos tempos para abrandar a ira do Senhor, para reconciliar o coração dos pais com os filhos, e para restabelecer as tribos de Jacob.

11 Bem-aventurados os que te viram, e que foram honrados com a tua amizade!

12 Quanto a nos, vivemos só durante esta vida, e depois da morte não teremos um nome como o teu.

13 Elias foi envolto num redemoinho, mas o seu espírito ficou em Eliseu, o qual não temeu príncipe algum em seus dias, e, em poder, não foi vencido por ninguém.

14 Nada houve que o pudesse dominar, e, ainda depois de morto, o seu corpo profetizou.

15 Em sua vida fez prodígios, e na morte operou maravilhas.

16 Com todas estas maravilhas o povo não fez penitência, não se afastou dos seus pecados, até que foi expulso da sua terra, e espalhado por todo o mundo.

17 Ficou muito pouca gente (na Palestina), e (somente) um príncipe da casa de Davide.

18 Alguns deles fizeram o que era do agrado de Deus, outros cometeram muitos pecados.

19 Ezequias fortificou a sua cidade, conduziu água para o centro dela, abriu com ferro um rochedo, e fez reservatórios para água.

20 Durante o seu reinado veio Senaquerib. que enviou Rabsaces, o qual levantou a sua mão contra eles. estendeu a sua mão contra Sião, ensoberbecendo-se com o seu poder.

21 Então (os Israelitas) ficaram sobressaltados nos seus corações e nas suas mãos sentiram dores como as mulheres que estão de parto.

22 Invocaram o Senhor misericordioso, levantando ao céu as suas mãos estendidas, e o Santo, o Senhor Deus, ouviu logo a sua voz.

23 Não mais se lembrou dos seus pecados, não os entregou aos seus inimigos, mas purificou-os por mão do santo profeta Isaías.

24 Dissipou o Acampamento dos Assírios, e o anjo do Senhor os exterminou. Porque Ezequias fez o que era do agrado de Deus, andou com fortaleza pelo caminho de Davide seu Pai, como lhe tinha recomendado Isaías, profeta grande e fiel diante de Deus.

26 Em seus dias, o Sol voltou para trás, e ele (o profeta) prolongou a vida do rei.

27 Com o seu grande espírito (profético) viu os últimos tempos, e consolou os que choravam em Sião. Até ao fim dos séculos

28 mostrou o que devia acontecer, e as coisas ocultas antes que sucedessem.

Capítulo 49 Ver capítulo

1 A memória de Josias é como uma composição de aromas feita por arte do perfumista. Em toda a boca será doce a sua lembrança como o mel, e como a música em banquete de (abundante) vinho.

3 Foi destinado por Deus para excitar a nação à penitência, e exterminou as abominações da impiedade.

4 Dirigiu o seu coração para o Senhor, e nos dias dos pecadores fortificou a piedade.

5 Excepto Davide, Ezequias e Josias, todos cometeram o pecado:

6 os reis de Judá deixaram a lei do Altíssimo, desprezaram o temor de Deus.

7 Por isso tiveram de entregar a outros o seu reino, e a sua glória a uma nação estrangeira,

8 Incendiaram a cidade escolhida, a cidade santa, e reduziram a um deserto as suas ruas, conforme a predição de Jeremias,

9 porque maltrataram aquele que foi consagrado profeta desde o ventre de sua mãe, para derrubar, arrancar e destruir, mas para depois reedificar e renovar.

10 Ezequiel teve uma visão de glória. que o Senhor lhe mostrou no carro dos querubins.

11 Anunciou a chuva para os inimigos de Deus, e os bens reservados para aqueles que seguiam o caminho recto.

12 Reverdeçam também os ossos dos doze profetas, nos seu túmulos, porque eles fortificaram Jacob, e salvaram-no por uma fé corajosa.

13 Como engrandeceremos nós a Zorobabel? Ele foi como um anel na mão direita.

14 Do mesmo modo, Jesus, filho de Josedec. Eles em seus dias edificaram a casa (de Deus). e levantaram ao Senhor o seu santo templo, destinado a uma glória sempiterna.

15 Também Neemias viverá na memória por largo tempo, ele que reergueu os nossos muros derribados, refez as portas e as fechaduras, e reedificou as nossas casas.

16 Nenhum nasceu no mundo como Henoch, o qual foi arrebatado da terra,

17 nem como José, que nasceu para ser o príncipe de seus irmãos, o esteio da nação, o governador dos seus irmãos, o firme arrimo do povo.

18 Os seus ossos foram visitados; depois da sua morte profetizaram,

19 Set e Sem alcançaram glória entre os homens, mas, sobre todos os seres vivos da criação, está Adão.

Capítulo 50 Ver capítulo

1 Simão filho de Onias sumo sacerdote, em sua vida reparou a casa (do Senhor), e em seus dias fortificou o templo.

2 Foi ele que fundou a alta construção do templo, o edifício duplo e as elevadas muralhas do mesmo templo.

3 Em seus dias correram os mananciais das águas dos reservatórios, que se encheram extraordinariamente, como o mar (de bronze).

4 Teve cuidado do seu povo, livrou-o da perdição. Conseguiu engrandecer a cidade; nas suas relações com o povo alcançou glória, e alargou a entrada do templo e do átrio.

6 Como a estrela da manhã, no meio da névoa, como a Lua resplandecente no plenilúnio, e como um Sol brilhante, assim luziu no templo de Deus.

8 (Ele era) como o arco-íris que reluz entre as nuvens iluminadas, como a flor das roseiras nos dias da primavera, como os lírios que estão junto da corrente de água, como o incenso que exala fragrância em dias de verão,

9 como a chama refulgente, e o incenso que arde no fogo:

10 como um vaso de ouro maciço, ornado de toda a casta de pedras preciosas.

11 como a oliveira que brota e como o cipreste que se eleva ao alto, quando tomava a sua vestidura de glória, e quando se revestia de todos os ornamentos da sua dignidade.

12 Quando subia ao altar santo, honrava as vestiduras sagradas.

13 Recebia as porções (das vítimas) da mão dos sacerdotes, conservando-se de pé junto do altar, e, em volta, os seus irmãos formavam uma coroa, como uma plantação de cedros do Líbano.

14 Estavam em torno dele, como os ramos duma palmeira, todos os filhos de Aarão na sua glória,

15 A oblação destinada ao Senhor estava nas mãos deles, na presença de toda a assembleia de Israel. Para consumar o sacrifício sobre o altar, para tornar mais solene a oblação ao Rei excelso.

16 estendia a sua mão para fazer a libação, e derramava o sangue da uva.

17 Derramava-o ao pé do altar, como um perfume divino ao Príncipe excelso.

18 Então os filhos de Aarão levantavam ás suas vozes, tocavam as suas trombetas de metal batido e faziam ressoar um grande concerto para renovarem diante do Senhor a memória (da sua aliança).

19 Todo o povo se apressava e prostrava-se com o rosto por terra, para adorar o Senhor seu Deus e fazer orações ao Deus omnipotente e excelso.

20 Os cantores levantavam as suas vozes, e naquela grande casa retinia um som cheio de suavidade.

21 O povo fazia as suas preces ao Senhor excelso, até ficar de todo completo o culto do Senhor, até terminarem as funções sagradas.

22 Então (o sumo sacerdote), descendo (do altar), levantava as suas mãos sobre todo o congresso dos filhos de Israel, para dar glória a Deus com seus lábios, e para se glorificar no seu nome.

23 (Então o povo) repetia a sua oração, querendo manifestar o poder de Deus.

24 E agora rogai ao Deus de todas as criaturas, que fez grandes coisas em toda a terra, que aumentou os nossos dias desde o ventre materno, e que nos tratou sempre segundo a sua misericórdia.

25 Conceda-nos ele a alegria do coração, e reine a paz em Israel em nossos dias e para sempre,

26 a fim de que Israel creia que está connosco a misericórdia de Deus, e para que ele nos livre no seu dia.

27 Dois povos aborrece a minha alma, e o terceiro, que eu aborreço nem sequer é um povo:

28 Os que habitam no monte Seir, os Filisteus, e a gente insensata que habita em Siquém.

29 Estas são as instruções de sabedoria e de disciplina, que deixou escritas neste livro Jesus, filho de Sirach, natural de Jerusalém, o qual derramou a sabedoria do seu coração.

30 Bem-aventurado o que se dá a estes bons ensinamentos; o que os conserva em seu coração será sempre sábio.

31 Com efeito, se praticar estas coisas, será capaz de tudo, porque a luz de Deus guiará os seus passos.

Capítulo 51 Ver capítulo

1 Oração de Jesus, filho de Sirach. Glorificar-te-ei, ó Senhor rei, louvar-te-ei, Deus, salvador meu.

2 Glorificarei o teu nome, porque te fizeste o meu auxílio e protector,

3 livraste o meu corpo da perdição, do laço da língua iníqua e dos lábios dos forjadores da mentira; à vista dos que estavam contra mim, foste o meu defensor.

4 Livraste-me, segundo a grandeza da misericórdia do teu nome, dos que rugiam, preparados para me devorarem, das mãos dos que procuravam tirar-me a vida, do poder das tribulações que me assaltavam,

6 da violência da chama que me envolvia. — no melo do fogo (da perseguição) não me queimei — das profundas entranhas da morada dos mortos, da língua impura, da palavra de mentira, dum rei iníquo e da língua injusta.

8 A minha alma louvará o Senhor até à morte,

9 pois a minha vida estava prestes a cair nas profundezas da morada dos mortos.

10 Cercaram-me de todas as partes, e não havia quem me ajudasse. Volvia os olhos em busca do socorro dos homens, e não apareciam.

11 Lembrei-me da tua misericórdia. Senhor, do que tens feito desde o princípio do mundo,

12 porque livras os que esperam em ti. Senhor, porque os salvas das mãos das nações.

13 Tu exaltaste a minha habitação sobre a terra, e eu roguei-te quando vinha sobre mim a torrente de morte.

14 Invoquei o Senhor, pai do meu Senhor, para que me não abandonasse, no dia da minha tribulação, sem socorro, durante o domínio dos soberbos.

15 Louvarei incessantemente o teu nome, celebrá-lo-ei nas minhas acções de graças, pois foi atendida a minha oração.

16 porque me livraste da perdição, me salvaste no tempo calamitoso.

17 Por Isso eu te glorificarei, cantarei os teus louvores, e bem-direi o nome do Senhor.

18 Quando eu ainda era jovem, antes de andar errante, busquei abertamente a sabedoria com a minha oração.

19 Diante do templo eu a pedia, e buscá-la-ei até ao fim da minha vida. Ela floresceu (em mim) como uva temporã;

20 O meu coração alegrou-se nela; os meus pés andaram por caminho direito; desde a minha mocidade tenho ido em seguimento dela.

21 Apliquei um pouco o meu ouvido, e logo a percebi. Encontrei muita sabedoria em mim mesmo, e fiz nela grandes progressos.

23 Ao que me deu a sabedoria, dar-lhe-ei gloria.

24 Resolvi-me a pô-la em prática; tive zelo do bem, e não me envergonharei.

25 Lutou a minha alma por ela, conservei-me constante em a praticar.

26 Levantei as minhas mãos ao alto, e chorei a loucura da minha alma.

27 Dirigi para ela a minha alma, e encontrei-a. ao procurar conhecê-la.

28 Possuí, graças a ela, o meu coração desde o princípio, e, por isso, não serei desamparado (por Deus).

29 As minhas entranhas comoveram-se em busca dela; por isso consegui um bem excelente.

30 O Senhor deu-me em recompensa uma língua (eloquente); com ela o louvarei.

31 Aproximai-vos de mim, ó ignorantes, e reuni-vos na casa da instrução.

32 Por que tardais vós ainda? E que dizeis a isto? As vossas almas estão sequiosas em extremo.

33 Eu abri a minha boca e disse: Vinde buscá-la sem dinheiro.

34 submetei o vosso pescoço ao seu jugo, e receba a vossa alma a instrução, porque perto se pode encontrá-la.

35 Vede com os vossos olhos o pouco que trabalhei, e como adquiri muito descanso.

36 Recebei a instrução, como uma grande soma de dinheiro. e possuireis com ela grande abundância de ouro.

37 Alegre-se a vossa alma na misericórdia do Senhor, e nunca ficareis confundidos, quando o louvardes.

38 Realizai a vossa obra, antes que passe o tempo, e ele vos dará a seu tempo a vossa recompensa.

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